Os três lados do muro

Crônica

Um muro tem três lados visíveis: o de dentro, o de fora e o de cima. Dependendo da perspectiva que se olhe, porém, muros podem ter, em vez dos lados de dentro e de fora, o lado direito e o esquerdo, bem como um lado superior.

Por ser superior, o lado de cima olha para os lados direito e esquerdo – ou de dentro e de fora – com um vantajoso distanciamento. Todavia, nunca, jamais participa realmente de nada do que acontece de bom nos lados mais amplos do muro.

Não participa das alegrias, das tristezas, da solidariedade, da amizade, do amor ou da confiança, mas tampouco se imiscui na traição, na cobiça, na inveja, no ódio e, providencialmente, no mais terrível de todos, para alguns: no medo.

A brisa suave da primavera, o vento outonal ou a borrasca invernal fatalmente levam o que está sobre o muro, mas não levam o que tem lado, pois o que estiver em um desses lados é empurrado contra o muro e o que estiver do outro é protegido da corrente de ar.

Quem está sobre o muro também é obrigado a praticar o equilibrismo em tempo integral. Como não pode se comprometer nem com o que há de bom, nem com o que há de mau, fica na posição mais incômoda o tempo todo, não podendo jamais relaxar.

A vida corre célere, intensa, vibrante nos lados do muro. Sobre ele, só o vento, o sol e a chuva; o que está em cima, como não se envolve nunca será atacado, mas tampouco será protegido. Estará sempre sozinho.

Moral da história: será que não é melhor pararmos de construir os muros?