A estratégia da direita midiática para retomar o poder no Brasil

Análise

 

Quem melhor definiu o quadro político neste ano pré-eleitoral foi a jornalista e escritora Maria Inês Nassif, irmã do jornalista Luis Nassif, quem, após deixar sua coluna no jornal Valor Econômico por pressão política, foi trabalhar no Instituto Cidadania, do ex-presidente Lula.

Maria Inês disse, em recente reunião de que ambos participamos, que a esquerda, no Brasil, “não sabe exercer a hegemonia como a direita” quando esta chega ao poder.

O que significa isso? Que, apesar de não ter o Poder Executivo, a direita midiática tem o controle – não influência democrática que qualquer lado da política tem que ter, mas o controle, a hegemonia – do Judiciário e, em certos aspectos, até do Legislativo. Sem falar da mídia…

O PT chegou ao poder em 2003 através de Lula e os dois mandatos dele que se seguiriam e o da sucessora que indicou e conseguiu eleger, constituíram-se em um sucesso incontestável – ao menos do ponto de vista da maioria do eleitorado brasileiro em todas as classes sociais e na quase totalidade das regiões país.

Contudo, está sendo criada uma estratégia que pode surpreender quem acredita que Dilma “já ganhou”.

Estamos a um ano e meio da sucessão de Dilma Rousseff. Há, portanto, tempo de sobra para despertar os setores da sociedade que entendem e apoiam o processo de soerguimento econômico e social que o Brasil experimenta há uma década.

Leio nos jornalões antipetistas e antigovernistas que foi “Dilma” quem desencadeou a sucessão presidencial antes da hora. Editorial do jornal Folha de São Paulo de quarta-feira, 3 de abril de 2013, bate nessa tecla seguindo a linha do resto dessa “grande imprensa”.

Esse trecho do editorial resume a versão absurda dos fatos que está sendo difundida pela oposição e pela mídia a ela aliada:

“(…) A deletéria antecipação da corrida eleitoral de 2014 leva a presidente Dilma Rousseff a reciclar o jogo fisiológico e o loteamento de ministérios (…)”

Qualquer um que tenha a menor noção de política sabe que presidente nenhum quer a antecipação da própria sucessão. A expressão em inglês “Lame Duck” – que, em português, pode ser traduzida livremente como “pato manco” – alude justamente à perda de poder que um presidente experimenta quando o fim de seu governo se aproxima.

Quem desencadeou a sucessão presidencial não foram Dilma, Lula ou o PT; foi parte da oposição e até dos aliados do governo que estão sendo tentados pelo canto da sereia destro-midiático.

Apesar de pesquisa Datafolha recente ter detectado que se o pleito de 2014 fosse hoje Dilma seria reeleita em primeiro turno com 58% dos votos, todos sabemos que durante os processos eleitorais as coisas nunca são tão fáceis.

Lembremo-nos de como, em 2010, todos foram surpreendidos com a realização do segundo turno por conta, principalmente, do levante de católicos e evangélicos contra a candidatura Dilma a partir da premissa de que ela seria “abortista”.

Além disso, a vitória por apenas dez pontos percentuais em um momento em que a economia estava bombando, com emprego em alta, renda crescendo, pobreza despencando, dá bem uma dimensão de como a sociedade não se pauta sempre pela lógica na hora de votar. Dilma deveria ter vencido com muito maior folga.

Para 2014, a mídia conservadora conseguiu elaborar uma estratégia mais sofisticada do que a de 2010. Marina Silva deve vir com tudo. Mesmo se não passar do patamar de 16% dos votos que obteve na última pesquisa, lá se vão parte dos votos que seriam de Dilma. Eduardo Campos pode extrair mais um naco importante, se for candidato.

Contudo, a coisa não fica por aí. Reproduzo, abaixo, notícia extraída do Estadão e que circulou fartamente por vários outros veículos.

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O Estado de São Paulo

2 de abril de 2013

Ministério Público abre 6 investigações sobre depoimento de Marcos Valério

“A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu seis procedimentos para investigar as acusações feitas pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza no depoimento prestado em 24 de setembro de 2012. Condenado pelo Supremo como o operador do mensalão, ele acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter se beneficiado pessoalmente do esquema. O petista classificou o depoimento, prestado sigilosamente à Procuradoria-Geral, como mentiroso.

(…)

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, esperou o fim do julgamento do mensalão para despachar o depoimento.

(…)

A Procuradoria da República em Minas já investiga os repasses feitos por Valério à empresa do ex-assessor da Presidência da República Freud Godoy. O operador do mensalão afirmou ter depositado um cheque de R$ 100 mil na conta da Caso Sistema de Segurança, uma empresa do setor de segurança privada.

Ao investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, agência de publicidade de Valério, à empresa de Freud. O depósito foi feito, segundo dados do sigilo bancário quebrado pela comissão, em 21 e janeiro de 2003, no valor de R$ 98.500.

Em busca de benefícios. Em meio ao julgamento do mensalão, Valério foi voluntariamente à Procuradoria-Geral da República no dia 24 de setembro na tentativa de obter algum benefício em troca de novas informações sobre o caso. Em mais de três horas de depoimento, disse que o esquema do mensalão ajudou a bancar “despesas pessoais” do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Esses processos foram propostos pelo atual procurador-geral da República – cujas posições oposicionistas todos conhecem – a instâncias estaduais do MPF com o evidente objetivo de se tornarem uma grande polêmica em pleno processo eleitoral de 2014.

Lula, o grande eleitor que elegeu Dilma e que deverá ter larga influência na próxima eleição, estará sob fogo cerrado, com “descobertas” sendo apresentadas ao eleitorado no momento em que ele terá que decidir quem continuará comandando este país.

Dirão, com boa dose de razão, que o uso de factoides e candidaturas lançadas só para reduzir a força dos candidatos petistas não começou hoje, mas o espectro de candidaturas que não têm pretensão outra além da de atrapalhar Dilma, pois não têm chance, será muito maior desta vez, potencializando o efeito Marina de 2010, agora com Eduardo Campos pela esquerda, Marina por um centro “sonhático” e o candidato da direita, possivelmente do PSDB, que carrega sempre uma parte consistente do eleitorado.

A antecipação da campanha eleitoral, pois, interessa à oposição e aos aliados do governo que se assanham com a possibilidade de voos solo. Essas candidaturas estão sendo construídas com grande antecedência, bem como o ataque ao grande eleitor de 2014 e, ainda, com uma conjuntura econômica internacional que sempre carrega surpresas.

Ano que vem, o país assistirá a uma campanha eleitoral que tem tudo para ser a mais virulenta do pós-redemocratização, por incrível que possa parecer à luz do que foram as anteriores. Aqui vai, portanto, um alerta: o pior inimigo de Dilma é o “já ganhou”.