Como Junho de 2013 pariu os fascistas do MBL

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Alguém que se interessa por política retém alguma lembrança de manifestações espalhafatosas pedindo golpe militar no Brasil antes de junho de 2013? Aliás, alguém se lembra de manifestações de direita antes do ano em que ocorreram os mega protestos contra aumento de vinte centavos no preço das passagens de ônibus em São Paulo?

Em Junho de 2013, o Movimento Passe Livre (MPL), de São Paulo, desencadeou uma onda de manifestações contra o aumento das passagens de ônibus na capital paulista. Em 16 de maio de 2013, o Movimento Passe Livre – composto, essencialmente, por movimentos sociais e partidos de esquerda – postou convocatória no Facebook para a primeira manifestação contra o prefeito Fernando Haddad por ter aumentado o ônibus.

O mais interessante em tudo isso é que, apesar de ser um movimento então supostamente de esquerda, o MPL, em sua primeira convocatória para a primeira daquela série de manifestações que abalou Brasil, citava o aumento das tarifas dos ônibus, responsabilidade do governo petista de Fernando Haddad, e ignorava aumento idêntico que estava sendo aplicado às tarifas do metrô, então de responsabilidade do governo tucano do Estado de SP.

A preferência do MPL por atacar aumento do governo municipal do PT culminou com uma tentativa de invasão da prefeitura paulistana em 17 de junho de 2013, quando 20 mil pessoas saíram da Avenida Paulista e foram para o centro de São Paulo, onde a sede da prefeitura foi depredada, lojas saqueadas e um carro de uma rede de televisão incendiado.

Durante aquele processo, o antipetismo vociferado por partidos como PSOL, PSTU e Rede, entre outros, foi crescendo e atraindo grupos de direita que estavam entocados desde o fim da ditadura militar.

O resultado não poderia ser outro. Pesquisa Datafolha veiculada em 29 de junho de 2013 dava conta de que, nas três primeiras semanas daquele mês, a então presidente Dilma Rousseff perdera 27 pontos percentuais de aprovação, caindo de 57% para 30% no período. http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2013/06/1303659-aprovacao-a-governo-dilma-rousseff-cai-27-pontos-em-tres-semanas.shtml

— junho 4

Cerca de 9 meses depois, em 22 de março de 2014, surge uma manifestação na qual ninguém acreditava e que seria o início do processo que derrubou Dilma Rousseff dois anos depois, em abril de 2016. O protesto chamou a si mesmo de Marcha da Família com Deus e pela Liberdade e foi inspirada em “marcha” homônima ocorrida inicialmente em 19 de março de 1964, a menos de duas semanas do golpe militar que duraria 21 anos.

O Blog da Cidadania cobriu aquela marcha.

Posteriormente, a jornalista Marina Amaral, em artigo constante no livro “Por que Gritamos Golpe” (São Paulo: Boitempo, 2016) – que reuniu textos de diversos autores sobre o momento político brasileiro -, disse que os protestos que ficaram conhecidos pela frase de ordem “não é por 20 centavos” foram “incorporados e ressignificados pela direita”.

A partir do palco armado pelo Movimento Passe Livre – dito de esquerda – por vinte centavos de aumento nas passagens de ônibus, grupos de direita e extrema-direita se encontraram nas ruas e rapidamente se organizaram.

Na sigla do Movimento Passe Livre (MPL), movimento supostamente de esquerda, inspirou-se o Movimento Brasil Livre, assumidamente de extrema-direita e que se tornaria linha auxiliar do maior fascista brasileiro, o deputado-milico Jair Bolsonaro, que, apesar de ser visto de forma meio ridícula e maluca pelos seus fãs semiletrados e truculentos, representa um risco considerável para o país.

No bordão Vem Pra Rua Vem contra o Aumento (do ônibus), cantado pelo MBL nas manifestações por vinte centavos, inspirou-se o movimento fascista Vem Pra Rua, pilotado por um laranja do capital estrangeiro transnacional e que usou esse recurso ajudar a tirar o PT do poder de modo a terminarmos nesse extermínio de direitos trabalhistas e sociais que o governo que substituiu o governo do PT está promovendo.

O vídeo a seguir é quase um documentário sobre um processo que desgraçaria o Brasil nos anos seguintes e que até hoje foi preservado da execração política adequada.

Confira, abaixo, documentário que mostra como os protestos do Movimento Passe Livre em junho de 2013 permitiram a grupos políticos de extrema-direita (até então entocados devido à “obra” da ditadura militar) instrumentalizarem os protestos esquerdistas contra aumento de 20 centavos nas passagens, o que terminou em mais um golpe de Estado no Brasil.