Diretor do Datafolha fala ao Cidadania

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Na noite de ontem (30/08), este blogueiro participou de palestra que o diretor do instituto Datafolha, Mauro Paulino, proferiu em um auditório do campus da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) no bairro da Liberdade, em São Paulo. Ao fim de sua exposição, o palestrante se dispôs a responder a perguntas da platéia. Este blogueiro fez as suas em público e, ao fim do evento, conversou com Paulino em particular. Este post contém um relato que faço de cabeça, pois não fiz anotações, mas que garanto ser fiel ao que ocorreu.

Antes de prosseguir, porém, cumpre-me relatar que o diretor do Datafolha foi bastante gentil, sereno e democrático nas respostas que me deu. Durante a pergunta que lhe fiz ao microfone diante de uma platéia com algumas dezenas de estudantes, revelou que é leitor deste blog. Depois da palestra, quando conversamos em particular, ainda me disse que fica “emocionado” com minha “história de vida”, em alusão ao caso da minha filha Victoria.

Quero esclarecer, também, que nada tenho contra os profissionais da Folha de São Paulo, individualmente. O que me incomoda é o conjunto da obra do jornal, conforme explicação que dei ao palestrante. E como lhe prometi fazer uma matéria correta daquilo que vi e ouvi – e sabendo, agora, que ele me lê –, coloco este blog à sua disposição para que contradiga qualquer impropriedade que julgue que cometi ao relatar o que conversamos.

O auditório em que o diretor do Datafolha palestrou teve ocupação de menos da metade de sua capacidade. Estimo que o evento reuniu cerca de cem pessoas, se tanto. Um público composto, essencialmente, por estudantes de jornalismo. De pessoas maduras, eu, paulino, uma professora da universidade – que fez a abertura e o encerramento da palestra – e um professor da instituição de ensino que estava na platéia e que, ao se manifestar ao microfone para perguntar a Paulino, também se disse leitor deste blog, cumprimentando-me.

A exposição de Paulino, em minha opinião, foi promovida com um viés de demonstrar coerência do trabalho do instituto que dirige diante do que descreveu como uma onda de difamações contra ele.

O diretor do Datafolha reiterou insinuações sobre um caso de erro no registro de pesquisa do instituto Sensus em abril e fez insinuações sobre a metodologia do instituto Vox Populi, repetindo matérias da Folha de São Paulo publicadas em abril que inclusive geraram a representação do Movimento dos Sem Mídia à Procuradoria Geral Eleitoral pedindo investigação do próprio Datafolha e dos outros três grandes institutos de pesquisa.

Também enumerou princípios do Datafolha como o de não trabalhar para partidos ou sindicatos e que supostamente o tornariam superior a outros institutos em termos de lisura do seu trabalho.  Ao fim de sua exposição, fiz o questionamento que tinha a fazer e que foi o que me levou ao evento.

A seguir, reproduzo, de cabeça, os questionamentos públicos e particulares que fiz ao diretor do instituto de pesquisa da Folha.

Em 6, 10 e 26 de abril, o jornal Folha de São Paulo publicou matérias que aludiram a metodologias e outros procedimentos dos institutos Sensus e Vox Populi de forma a insinuar que haveria favorecimento deles à candidatura de Dilma Rousseff. Por outro lado, a blogosfera – os ditos “blogs sujos” a que fez menção o candidato José Serra – passou a levantar suspeitas sobre as sondagens dos institutos Datafolha e Ibope.

Diante desses fatos, a Organização Não Governamental Movimento dos Sem Mídia ingressou com representação na Procuradoria Geral Eleitoral pedindo investigação dos quatro grandes institutos de pesquisa – Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi. A Procuradoria, através da vice-procuradora-geral-eleitoral, doutora Sandra Cureau, acolheu a representação da ONG e oficiou à Superintendência da Polícia Federal em Brasília para que abrisse inquérito policial a fim de investigar os institutos representados.

Por que o jornal Folha de São Paulo, dono do Datafolha, não informou ao seu público que seu instituto de pesquisa está sendo investigado assim como fez no âmbito de seus questionamentos à metodologia dos institutos Sensus e Vox Populi? O jornal não estaria furtando informação do seu público e decidindo o que ele deve ou não saber?

Paulino respondeu que o Datafolha ainda não foi formalmente informado do inquérito da Polícia Federal e que eu deveria questionar a Folha por não informar aos seus leitores os fatos que apresentei.

Questionado por mim sobre que institutos achava que acertaram mais levando em conta que, em abril deste ano, Sensus e Vox Populi já davam empate técnico entre Dilma Rousseff e José Serra enquanto que o Datafolha dava uma vantagem de até 12 pontos percentuais para o tucano, Paulino explicou que como o seu instituto não dá informações aos entrevistados que podem materializar a decisão que ainda irá tomar quando souber que candidato é de que partido ou qual deles é apoiado por Lula, os institutos concorrentes podem ter captado antes o que ocorreria porque deram esses dados aos entrevistados. E explicou, ainda, que o Datafolha prefere obter um “instantâneo do momento” ao pesquisar as pessoas sem lhes dar informações que esclareçam melhor quem é quem entre os candidatos.

O diretor do Datafolha ainda criticou duramente a “difamação” do instituto e assegurou que as acusações a ele são improcedentes. Para mostrar acertos, usou como exemplo a eleição de 1998, quando Mário Covas quase perdeu para Marta Suplicy a vaga no segundo turno da eleição para governador de São Paulo. Contudo, não fez maiores comparações sobre o presente, sobretudo sobre as recentes – e amplas – diferenças entre os números de seu instituto e os de Sensus e Vox Populi.

Diante disso, disse a ele que as acusações e críticas da blogosfera não poderiam ser tão improcedentes porque a Procuradoria Geral Eleitoral acolheu a representação do Movimento dos Sem Mídia e mandou a Polícia Federal investigar, também, o Datafolha. Ao que respondeu que não se admirava por a representação ter sido aceita devido ao grande burburinho que se produziu contra as pesquisas. Contudo, não considerou que as matérias da Folha acusando os institutos concorrentes do seu tiveram algum papel no que considerou estardalhaço imotivado.

Ao fim do evento, a professora da FMU que abriu os trabalhos encerrou-os fazendo duras críticas a estudantes que também questionaram o Datafolha em suas perguntas ao palestrante e que, no entender dela, foram até lá para fazer “campanha política” com suas “bandeiras” e que tal não seria correto porque, sempre em seu entender, jovens ainda não deveriam ter opiniões políticas e certezas tão plenas. Vale ressaltar que estava visivelmente nervosa e com a voz bastante trêmula.