A ‘invasão’ dos sem-mídia

Sem categoria

O pequeno auditório (150 cadeiras) do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo não deu nem para um terço dos que compareceram para protestar contra o golpismo midiático. Havia pelo menos umas 300 pessoas, ali. A maioria teve que ficar em pé.

No corredor que dava acesso ao auditório uma fila que se estendia até a rua, onde centenas de outras pessoas ouviam os discursos, aplaudiam e gritavam palavras de apoio ao que ouviam de lá de dentro.

O calor era insuportável, no recinto. Era agravado por um público que se espremia em cada canto e pelos refletores das várias tevês, inclusive da tevê aberta (SBT e Gazeta), que foram cobrir o evento.

Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro Barão de Itararé, fez uma extensa exposição do primeiro documento oficial do ato. Em seguida, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto de Oliveira Camargo, o Guto, leu o documento da entidade, o segundo documento oficial.

Para a Mesa, foram convidados representantes das centrais sindicais CGTB, Nova Central, Força Sindical e CUT; o presidente da Altercom, Joaquim Palhares, o representante do MST, Gilmar Mauro, e eu mesmo pelo Movimento dos Sem Mídia; pelos partidos, vieram um representante do PDT, a deputada federal Luiza Erundina, pelo PSB, e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.

João Felício, ex-CUT, veio representando o PT, mas não conseguiu entrar, tal a quantidade de pessoas que compareceram. E quando digo que não conseguiu entrar, quero dizer que não conseguiu entrar nem no prédio. Aliás, ninguém conseguia entrar lá. O diretor jurídico do MSM também chegou mais tarde e não conseguiu.

Eu diria que o ponto alto do encontro foi o discurso da septuagenária Luiza Erundina (76). Parecia uma menina, em seu vigor, com aquele brilho que lhe brota dos olhos ao se rebelar contra essa vergonha que é essa imprensa golpista.

Tudo deu certo. Só o que não funcionou foi a sofrível cobertura que a mídia fez – a Folha de São Paulo, em sua matéria de hoje sobre o Ato, não conseguiu nem escrever direito o nome do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, organizador oficial do evento.

Mas penso que valeu. Nos últimos dias, o foco do debate político saiu do denuncismo. A mídia golpista acabou tendo que se concentrar em questionamentos que lhe estão sendo feitos. O noticiário ridiculamente desproporcional contra o ato acabou lhe dando notoriedade e atraindo público.

Tentei contribuir para o ato estimulando dezenas de membros do Movimento dos Sem Mídia a compareceram e divulgando-o. Sendo assim, cumprimento a todos, não só aos que compareceram, mas esses milhares de sem-mídia que vêm a este blog.

23 de setembro de 2010, portanto, foi um dia especial. Como dificilmente acontece, nesse dia nós deixamos de ser sem-mídia, mesmo que por pouco tempo. Se o Movimento dos Sem Terra ocupa propriedades rurais, nós ocupamos a mídia.

Para encerrar, deixo-os com o vídeo da vitalidade, da lucidez e da coragem de Luiza Erundina e com o vídeo do meu discurso. Ambos foram gravados pelo blogueiro Rafael Tsavkko. Ao fim, a transcrição do discurso que fiz em nome do MSM.

Discurso de Erundina, o colosso



Discurso em nome do Movimento dos Sem Mídia



Transcrição do discurso em nome do MSM

(Locução de Eduardo Guimarães)

Perguntavam-me os jornalistas, antes de começar o evento: qual é a razão deste ato?

Eu dizia a eles que este ato é um ato de denúncia. Denúncia do quê? A minha vovozinha, minha santa vovozinha dizia que “Gato escaldado tem medo de água fria” – não sei se vocês me compreendem…

Este país viveu uma ditadura de duas décadas. Um ditadura que foi pedida, sustentada e apoiada pelo Grupo Folha, pelo Grupo Estado, pelas Organizações Globo, por toda essa gente que agora está dizendo que nós estamos querendo – de forma risível, ridícula -, que nós estaríamos querendo censurar impérios de comunicação que faturam bilhões de dólares!

Senhores, senhores, tenham noção do ridículo. Nós sentimos vergonha alheia, por vocês. Pelo amor de Deus… Dizendo que eu e o Miro queremos calar a Globo?! Esse pessoal ta maluco.

E o pior é que, enquanto eles dizem que nós queremos calá-los, vocês sabem o que eles falam? Eles estão batendo na gente a semana inteira – editorial, blog, site… A semana inteira… Déspotas, não-sei-o-quê…

Será que o leitor, que o público dessa gente não pergunta, por um único momento: mas o que é que pensam esses bichos-papões? O que é que pensam? O que é que eles tem a dizer? Dia 3 nós vamos responder.

[…]