Apóie o Ato Público contra o golpismo midiático

Opinião do blog

Os que participaremos do ato público de hoje contra o golpismo midiático jamais dissemos uma só palavra de ameaça à liberdade de expressão. A maioria de nós é composta por pessoas que, de uma forma ou de outra, bem sabem o preço que o país pagou durante um período em que não havia liberdade de imprensa ou de qualquer outro tipo de expressão do pensamento.

A ditadura militar que este país viveu entre 1964 e 1985, que só permitiu a eleição de um presidente civil depois de vinte e um anos, foi quem, a qualquer tempo da história mais recente, atentou contra as liberdades individuais, das quais a liberdade de imprensa e de expressão do pensamento emergem como os valores de mais alto relevo.

A ditadura militar que se instalou neste país na segunda metade do século XX foi gestada por aqueles contra os quais protestaremos hoje. Impérios de comunicação como as Organizações Globo, o Grupo Folha e o Grupo Estado, pelo menos, fizeram campanha pela derrubada do governo Jango Goulart no auge daquele ano que tardou mais 21 anos para terminar

A campanha denuncista que esses empresários da comunicação moveram há 46 anos contra o governo do qual não gostavam, mas que fora eleito de forma inquestionavelmente legítima e democrática, foi usada como justificativa pelos chefes militares da nação para derrubarem aquele governo e, posteriormente, perpetuarem-se no poder pelas duas décadas seguintes.

No começo, essa imprensa sustentou e legitimou o golpe de Estado que ajudou a dar com opiniões e notícias distorcidas em seus veículos, um noticiário que, hoje, nos volta à mente. Contudo, como todos sabem como começa uma ditadura mas ninguém nunca sabe como termina, os veículos de apoio ao golpismo acabaram virando alvo dos que executaram o golpe.

Quando despertaram de seus devaneios totalitários de calarem e esmagarem os divergentes, já era tarde. As redações dos que pediram o golpe encheram-se de esbirros do regime, que proibiam a divulgação de tudo o que não lhes interessava ver divulgado, sobretudo as opiniões discordantes do que estava acontecendo no país.

Hoje, tantas décadas depois, os mesmos Globo, Folha, Veja, Estadão e alguns outros voltam à campanha denuncista contra o governo legitimamente eleito da vez, exatamente como fizeram há quase meio século. Em 2014 o país assistirá ao cinqüentenário da “revolução” de 1964 sem que esses magnatas das comunicações tenham compreendido que perderam o poder de derrubar governos dos quais não gostem, substituindo-os por amigos.

Estarmos em um ato público de denúncia do histórico golpismo midiático de que padecem essas poucas famílias que controlam a comunicação no Brasil, que chegam a usar concessões públicas de rádio e tevê, que pertencem a cidadãos de todas as ideologias e preferências políticas, para favorecerem políticos amigos e atacarem seus adversários, é prova de que o Brasil mudou.

Um dia, as famílias Marinho, Frias, Mesquita, Civita e mais algumas de menor poder econômico lograram calar as vozes dos seus críticos valendo-se de aliança com o grande empresariado, com os estratos superiores da pirâmide social e com as Forças Armadas. Hoje, entretanto, não se sabe se as tropas desta última instituição se dariam à loucura de romper a legalidade institucional.

Como nunca se sabe se os milhares de brasileiros engajados nas Forças Armadas e subordinados a chefes militares entre os quais figuram aqueles que um dia violaram a democracia brasileira seriam obedientes a ordem desses superiores de implementarem novo golpe, foi convocado um ato contra o golpismo midiático histórico que vige neste país.

O que se quer, com o protesto contra o golpismo, não é calar as vozes daqueles que se contrapõem ao governo que a maioria indiscutível e ampla dos brasileiros elegeu. O que se quer é que esses que são destinatários de arcas incontáveis de dinheiro público tenham responsabilidade social no trabalho que fazem.

Responsabilidade social da imprensa, pois, é ela dar à sociedade TODOS os fatos, TODAS as versões desses fatos e TODAS as opiniões de TODOS os lados envolvidos na disputa política pelo governo da nação. E é por isso que peço apoio de TODOS os brasileiros ao protesto democrático contra o histórico golpismo midiático que flagela este país há tanto tempo.

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Leia, abaixo, o Manifesto do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé e deixe aqui o seu apoio ao ato que a instituição, como tantos outros (o próprio Movimento dos Sem Mídia, a CUT, o PT, o PDT, o PCdoB, o PSB, a UNE e os Blogueiros Progressistas), realizaremos nesta quinta-feira, 23 de setembro, às 19 horas, à rua Rego Freitas, 530, Centro de São Paulo, no auditório do Sindicato dos Jornalistas. E, se possível, compareça.

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Portal Vermelho

Brasil, quinta-feira, 23 Setembro 2010

Ato desta quinta é contra golpismo e pela liberdade de expressão

Nesta quinta-feira (23) defensores contumazes da liberdade de expressão participam do ato contra a mídia golpista promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. O ato ocorre a partir das 19h, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. No Rio de Janeiro, movimentos de juventude organizam ato contra o golpismo da mídia a partir das 15h.
Aline Lopes

Miro, durante o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, organizado pela Barão de Itararé em agosto deste ano, em São Paulo.

“A ideia do ato é criticar, exercer o direito da crítica aos grandes veículos de comunicação – porque eles pensam que só eles podem criticar – pela cobertura enviesada, que fazem da eleição”, explica o presidente do Barão, Altamiro Borges, conhecido por blogueiros de todo o país como Miro.

O grau de denuncismo da chamada grande mídia tem surpreendido até veteranos da análise política, como o jornalista Venício de Lima, que considera que “eles exageraram na dose”, e o vice-presidente do Vox Populi, Marcos Coimbra, que considera impressionante a quantidade de ataques que os grandes veículos têm direcionado ao governo e à sua candidata.

Judith Brito, a oposicionista

A declaração da presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Judith Brito, ao jornal O Globo em março deste ano expressa de forma mais bem acabada o papel partidarizado da chamada grande mídia no Brasil: “obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”, defendeu tranquilamente a presidente da ANJ.

Miro esclarece que a opinião deste movimento pela democratização da mídia é a de que é preciso apurar as denúncias, mas questiona o denuncismo, ou seja, acusações que visam minar a imagem de pessoas ou instituições e, para tanto, “buscam como fonte até mesmo bandidos, um sujeito que ficou anos na cadeia por corrupção”. Miro denuncia ainda que os veículos de maior circulação ignoram os escândalos que atingem os demo-tucanos: “parece que não existe mais Arruda, ou a mansão da Yeda… o jornalista da Carta Capital Leandro Fortes fez uma belísssima reportagem denunciando que mais de 60 milhões de brasileiros tiveram o sigilo bancário quebrado em uma operação da empresa da filha do Serra com o banqueiro Daniel Dantas e isso não tem repercussão”, completa.

Ato propositivo

Para combater a onda denuncista, além do protesto, o ato desta quinta à noite pretende aprovar ao menos três propostas: a primeira é uma campanha de solidariedade à revista Carta Capital, que tem sido alvo constante de ataques; a segunda proposta é justamente a de que a Vice-Procuradora Geral Eleitoral Sandra Cureau – que investiga a regularidade da publicidade oficial na Carta Capital a partir de “denúncia de um cidadão comum” – investigue também as contas e a publicidade da Editora Abril, pela grande quantidade de dinheiro que recebe do governo tucano de São Paulo, da Folha de S. Paulo, do Estado de S. Paulo, e da Globo.

A terceira proposta é a elaboração de uma carta denunciando o golpismo da grande mídia basileira, a ser enviada aos veículos de comunicação de outros países, à medida que “a mídia estrangeira tem nos parecido mais ‘esperta’ que a nacional, ao menos pelo que tem sido publicado no ‘El País’, por exemplo”, provoca Miro.

O ato, organizado pela Barão, contará com a presença de blogueiros, jornalistas, movimentos sociais e militantes de partidos políticos. Altamiro Borges faz questão de esclarecer que o ato tem caráter amplo, tendo inclusive a participação de pessoas que não apoiam o governo Lula, mas que são críticas à postura da chamada grande mídia. “Temos sido acusados de promover um ato do PT, do presidente Lula, das centrais sindicais, fechado e contra a mídia. É importante esclarecer que o ato foi pensado antes do próprio presidente Lula soltar suas críticas à imprensa, que se trata de um ato amplo, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, e que nele estarão justamente as pessoas que foram vítimas da censura no Brasil e que, portanto, são as maiores defensoras da liberdade de expressão”.

O ato contra o golpismo da mídia foi citado na coluna de hoje do Merval Pereira (O Globo): “está programada também para hoje em São Paulo uma manifestação contra a chamada ‘grande imprensa’, com o apoio do PT, da CUT, da UNE e várias organizações não governamentais, e os que se autointitulam ‘blogueiros independentes’, todos, sem exceção, financiados pelo dinheiro público”.

A denúncia é tão vazia que não buscou se informar sobre a prestação de contas do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, também promovido pela Barão de Itararé, que reuniu mais de 300 pessoas de 19 estados brasileiros sem um tostão de verba pública – diferente do Globo, que não tem qualquer pudor em exibir constantemente publicidade oficial ao mesmo tempo em que critica entidades do movimento social por receberem verbas públicas para o desenvolvimento de projetos.

A la Barão

Ironizando o “Manifesto em Defesa da Democracia” lançado nesta quarta-feira (22), articulado pelo empresariado que comanda os grandes jornais paulistas e com um tom anti-Lula e pró-grande mídia, Miro dispara: “Bicho, fiquei ipressionado com a reação dos caras… [o nosso] era um ato singelo”, e completa ao melhor estilo do próprio Barão de Itararé: “eles não têm senso de humor”.

Serviço:

Ato contra o golpismo midiático

São Paulo
Data: 23 de setembro, 19 horas
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista).

Rio de Janeiro
Data: 23 de setembro, 15h
Local: Em frente ao Clube Militar – Av. Rio Branco, Nº 251, Centro