Metáforas do capitalismo

Crônica

Alguém já reparou como filmes de terror contendo zumbis ou vampiros – ou ambos – não param de ser feitos?  A tevê por cabo anuncia mais uma série sobre zumbis. E a neta, de nove anos, apaixonou-se pela minissérie sobre um vampiro bonzinho que teima em não “comparecer” por não morder de alguma forma a mocinha.

Pensando bem, há uma boa explicação para essa fixação da Disneylândia do capitalismo, Hollywood, pelos zumbis e pelos vampiros: são metáforas para os dois tipos de cidadãos que produzem essas sociedades.

Estes povos, sobretudo os do Terceiro Mundo, converteram-se em zumbis que se deixam sugar por uma casta de vampiros malévola e impiedosa que só se sacia com o sangue das massas hipnotizadas.

O simbolismo desse ato falho de sociedades inteiras se vê refletido nos filmes que produzem sem parar. As multidões que esses filmes empolgam. Parece identificação.

O vampirismo agradaria àqueles que se vêem tanto no lugar do predador quanto no da presa. O prazer de tirar do outro se conecta ao prazer de ser aliviado do que lhe é básico.

Já como zumbis, somos guiados por um pensamento coletivo e previsível. Caminhamos nas mesmas direções, adotamos os mesmos comportamentos e reagimos ao diferente com a mesma ferocidade dos zumbis dos filmes diante da individualidade humana.

O antídoto para os vampiros também é uma metáfora: a luz do sol simboliza a exposição daqueles que se disfarçam e se misturam à sociedade para esconder a sede que os obriga a retirar o máximo que puderem de tantos quantos puderem no mais curto espaço de tempo.

Difícil, porém, é reverter a situação dos zumbis. Depois de lhes extraírem as almas, tornam-se irrecuperáveis. O jeito é torcer para que a solução que Hollywood dá à questão dos zumbis não seja a metáfora que resta para os que perderam a individualidade. Nesses filmes, os sem-alma não têm um fim lá muito agradável.