Sete dias de fúria midiática – buscando um cadáver

Aviso


Os últimos lances de uma corrida presidencial pautada pela fúria midiática continuaram surpreendendo. Ao contrário do que se pensava, a ofensiva teatral da bolinha de papel saíra pela culatra, apesar daquela que talvez tenha sido a maior farsa já encenada neste país em termos de apoio publicitário a supressão e/ou inversão dos fatos em prol de José Serra.

No oitavo dia da furiosa campanha da mídia para eleger o candidato tucano, vazaram dados das pesquisas diárias que o PT encomendara aos institutos Vox Populi e Ibope. Os trackings, cuja função não consiste em apurar números precisos, mas, sim, tendências e reações do eleitorado, revelaram que aumentara a distância entre Dilma Rousseff e o adversário.

Chegou-se ao sétimo dia de irracionalidade cívica, ao domingo anterior ao domingo da eleição presidencial mais disputada em mais de duas décadas, em situação de quase esgotamento das opções de factóides para reverter os rumos da disputa. Serra não reage.

O país é tensionado pela mídia. Colunistas de grandes jornais, revistas, tevês, rádios, portais de internet saíram a insultar e a provocar petistas com suas zombarias triunfalistas, mas só até surgirem os sinais de que o tiro da bolinha de papel de dois quilos que os tucanos disseram que petistas atiraram contra Serra em um comício, saiu pela culatra.

A fúria midiática, como previsto, ia aumentando.

Na noite de 23 de outubro, dois dos blogs políticos mais lidos no país, o de Luiz Carlos Azenha e o de Rodrigo Vianna, repórteres da Rede Record, saem do ar no navegador Firefox. Ao acessar os blogs de qualquer outro navegador, não havia problema. Mas ao acessar naquele navegador específico surgia uma falsa mensagem de que aquelas páginas estavam “infectadas”.

Ao fim da tarde do oitavo dia de fúria, portais de internet informavam que houvera novo risco de confronto entre militantes do PSDB e do PT na cidade paulista de Diadema. Novamente, uma tropa tucana fora a um reduto petista fazer provocações enquanto a mídia serrista buscava vender que quem estava na frente é que tentava melar o jogo eleitoral.

Entendendo a estratégia do PSDB e da mídia, os militantes petistas em Diadema abriram caminho para que os tucanos marchassem através da manifestação adversária, e formaram um “cordão de isolamento” do avanço dos esbirros de Serra e dos seus figurantes contratados. Enquanto avançavam pelo meio dos petistas impassíveis, os tucanos proferiam insultos.

Ainda no sábado 23 de outubro, os mesmos portais de internet anunciavam que marchas petista e tucana poderiam se encontrar no Rio, em Copacabana, mas que os petistas, novamente, recuariam para não fazer o jogo dos adversários, cada vez mais dispostos a melar o jogo eleitoral por contarem com a mídia para inverter os fatos.

A marcha petista na cidade do Rio no sétimo dia de fúria midiática foi sabiamente adiada pelos organizadores para ocorrer depois da marcha tucana, convocada para o dia e a hora em que já se sabia que haveria a marcha dos adversários.

A análise mais detida do rumo das coisas sugere que só não foi tentado um tipo de factóide para chocar o eleitorado e induzi-lo a votar no candidato da direita midiática. Tentou-se de tudo contra Dilma. Escândalos sexual (ou homossexual), religioso, de corrupção, de prática de violência física, mas nada deu certo. Serra continua não reagindo eleitoralmente.

Enquanto o clima de beligerância entre petistas e tucanos cresce retórica e fisicamente, tevês, rádios, revistas, jornais e portais de internet simpáticos a Serra – assumidamente ou aparentemente – põem lenha na fogueira com uma chuva de acusações, insultos e zombarias contra um dos lados e com vitimização do outro.

A história ensina que campanhas para comover sociedades contra alguém ou alguma coisa muitas vezes apelaram a cadáveres, a crimes de sangue em que “não restassem dúvidas” sobre a autoria, ainda que processos legais requeiram tempo para condenar ou absolver sob convicção absoluta, impossível de ser formada em míseros sete dias de fúria midiática.