A paz dos cemitérios

Opinião do blog

Quem optou por enfrentar a grande mídia durante a primeira década do século XXI pode ter uma surpresa a partir de 1º de janeiro próximo. A mídia tenta construir um pacto não escrito e não proferido com o governo Dilma Rousseff. E a proposta, para um projeto pessoal, não é nada ruim, mas para o projeto coletivo de país pelo qual votamos, é péssima.

Não se afirma, aqui, que Dilma aceitaria tal coisa. Mas a proposta existe e é tentadora. E muito simples: paz. O fim do bombardeio midiático – ou um arrefecimento até o nível de normalidade de cobertura de um governo por uma imprensa normal e não por uma facção política e ideológica como a que tenta, há quase oito anos, inviabilizar o governo Lula.

Em primeiro lugar, analisemos um dos muitos comentários do mesmo tipo que têm sido produzidos pelo colunismo de Globos, Folhas, Vejas e Estadões. No caso, de Eliane Cantanhêde, que disputa com Dora Kramer o título de colunista feminina mais tucana do mercado. Mas para não cansar o leitor com o tucanês da moça, reproduzo só o que interessa.

“(…) Dilma tem lá o jeito dela, diferente do de Lula. Quer menos improvisação, rompantes, tititi. Vai cobrar discrição. E só vai abrir a boca em questões de repercussão internacional quando tiver certeza (…).

Pois é, vejam só. Claro que Dilma se aproxima mais do aceitável para a elite branca paulista. Filha de europeus, “bem-nascida”, “bem-estudada”, quase doutora (só faltou defender a tese de doutorado), certamente conjugará verbos e dirá os plurais com maior acuidade. Além de ter nascido no Sudeste, é claro.

Enfim, além de “palatável”, ela tem a chance de, supostamente, fazer o Brasil avançar mais apenas não desencadeando um processo de regulação da nova mídia um único centímetro fora do que ditarem os barões da velha mídia. Dessa forma, o governo não perderia tempo com escândalos incessantes, fim de semana sim, fim de semana não.

Imaginem o que teria sido o governo Lula sem a sabotagem da mídia. Os mais pragmáticos dirão logo que teria sido melhor Lula condescender com a mídia e barrar qualquer tentativa de colocar ordem nessa bagunça que é a comunicação do Brasil. Mas não adiantaria. O ódio que sentem por ele é visceral, não decorrente, apenas, de interesses contrariados.

A mídia teme que o governo brasileiro, a exemplo do que fez o argentino, obrigue uma Globo a se desfazer de vários tipos de mídia que concentra – tevê, rádio, jornais e revistas, portais de internet… Teria que escolher um ou dois tipos e vender os outros. E vender mesmo, não entregar a laranjas. Haveria investigação. Seria como nos Estados Unidos, por exemplo…

Que escolha você faria, se fosse Dilma? Optaria por ter paz para tentar fazer um governo melhor e deixaria essa gente conservar o poder de controlar o país através da proteção ou da intimidação de políticos usando até concessões públicas ou concluiria que uma paz para governar como essa é, na verdade, a paz dos cemitérios?