Lutar contra o fascismo

Ativismo político

Violência, xenofobia, homofobia, racismo… Durante o processo eleitoral do ano passado, o monstro saiu da toca. E, no dia 31 de outubro, soltou seu urro hediondo, espantando e assustando a sociedade brasileira.

Na noite em que foi divulgado o resultado do segundo turno da eleição presidencial, dezenas de jovens de classe média alta, a maioria do Sul e do Sudeste, boa parte de São Paulo, passaram a inundar redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut com mensagens de ódio, xenofobia e racismo, sobretudo contra nordestinos.

Em seguida, constatou-se que a mesma classe média alta das regiões mais brancas, conservadoras e abastadas do país materializava, principalmente em São Paulo, até criminosas confabulações separatistas, em afronta à Constituição e à autodeterminação do povo brasileiro.

Naquele momento, este blog, a serviço do Movimento dos Sem Mídia, promoveu, junto com lideranças da Câmara Municipal de São Paulo, um ato público contra o racismo e a xenofobia na Casa Legislativa paulistana, em seu plenário.

Todavia, nas semanas seguintes o preconceito, esse monstro mutante, tomou a forma da homofobia e converteu a avenida Paulista, imagem primeira de São Paulo, em zona de alto risco para homossexuais e até para qualquer um que achassem que poderia ser homossexual.

Desta feita, as agressões não se limitaram à retórica, já que homossexuais, diferentemente de nordestinos e negros, são praticamente indefesos quando se trata de enfrentamentos físicos, pois são pessoas doces que elevam o amor acima dos julgamentos hipócritas da sociedade.

Essas foram apenas algumas das manifestações de ódio, de intolerância e de preconceitos de todo o tipo que passaram a espantar o país. Mas outras viriam, como continuam vindo, e sempre daquele grupo de jovens brancos, do Sul e do Sudeste e de classe média alta.

No último fim de semana, no dia primeiro de janeiro, durante a transmissão da cerimônia de posse da presidente Dilma Rousseff, o Twitter foi tomado por uma horda de garotos e garotas – e por alguns não tão jovens assim – pregando, pedindo, até implorando que a primeira mulher a governar o Brasil fosse assassinada por um franco-atirador.

O tom de galhofa não retirou o sentido criminoso daquela conduta de manada, em que se repetiam os mesmos clichês, quase como se todos fossem um só, obedecendo a uma ordem de comando, exprimindo um sentimento mesquinho e antidemocrático, uma visão deturpada da vida em sociedade.

Surge a questão, pois: quem educou esses jovens? Eles mesmos são os únicos culpados por suas ações ou seus país e até a própria sociedade também têm culpa pela conduta desses cidadãos que um dia podem até vir a chegar ao poder devido ao estrato social privilegiado a que pertencem?

Por que jovens que têm tudo para ser felizes – boas residências, boa alimentação, bom vestuário, bons colégios, dinheiro no bolso e até alguns (ou muitos) luxos – têm tanto ódio no coração?

Diferentemente dos pobres e, sobretudo, dos negros, esses jovens entenderam da educação que seus pais lhes deram que, por pertencerem a uma classe social “superior”, teriam uma espécie de licença para fazerem o que quisessem.

Essa mentalidade aflorou de alguns dos jovens que fizeram a incitação ao magnicídio de Dilma Rousseff na tarde do primeiro dia de 2011. Tanto é que vários entre os que foram denunciados vieram cobrar explicações de quem os acusava, não conseguindo entender que a lei condena que se pregue o assassinato de qualquer pessoa porque alguém pode levar a idéia a sério.

Alguns outros, amedrontados ao serem confrontados com o que fizeram, apagaram rapidamente seus perfis no Twitter, nos quais fizeram a pregação criminosa. Menos mal.

Surgem, então, as questões de fundo:

O que fazer diante daquilo que parece ser uma doença que infestou o tecido social?

É possível não fazer nada, achar que isso é “assim mesmo”?

Não é uma irresponsabilidade permitir que uma geração que formará médicos, advogados, engenheiros, juízes e até governantes e parlamentares seja tão corrupta?

Que tipo de sociedade sucederá a esta?

Em que mundo vossos filhos e netos viverão?

Diante de uma chaga social desse porte, proponho que seja criada uma ampla campanha publicitária do tipo “Não perca seu filho para o fascismo”, ou coisa que o valha, que estimule os pais a não mostrarem preconceito e intolerância diante dos filhos e, sobretudo, a não acharem que dar conforto a um filho é criá-lo bem.

Finalmente, proponho que seja feito um projeto de lei tornando mais duras as penas para crimes de preconceito, de intolerância, de opressão de setores da sociedade por outros, talvez até incluindo o bullying entre esses crimes. E que seja feito rápido.

O signatário deste blog acredita que há instituições e pessoas mais capazes de encampar essa luta. E sabe que algumas destas pessoas lêem este blog. Espera, portanto, que tomem uma atitude. Se não tomarem, porém, fará ele mesmo o que puder, para não se culpar depois.

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Atualizado às 13:04 hs. de 3 de janeiro de 2011

Do Portal Terra