Um dia o mundo será justo

Crônica

Em meio a tanta injustiça, dor e ódio espalhados por este país e pelo mundo, um pensamento de conforto me ocupou a mente enquanto ia se apagando para um sono reparador de seis horas de duração. Ao relatar tal pensamento, talvez o leitor diga que eu ainda estava dormindo, quando escrevi. A menos que leia este texto com a mente aberta.

Vendo os levantes no Oriente Médio e a posição de fragilidade em que estão as grandes potências – Estados Unidos à frente –, impedidas de apoiar às claras as ditaduras tunisiana e egípcia, que apoiavam tacitamente até que tunisianos e egípcios tomassem seus destinos nas próprias mãos, é impossível não refletir sobre como o mundo está mudando.

E ao refletirmos sobre como o mundo vem mudando – com o curral da injustiça social, a América Latina, reagindo e elegendo governos que vêm promovendo políticas bem-sucedidas de inclusão social enquanto as elites étnico-financeiro-midiáticas estrebucham –, chegamos à velocidade de pensamento necessária para acompanhar esta linha de raciocínio.

Podemos refletir que depois de um governo genocida como o de George Bush, apesar de termos um fraco na Casa Branca o país que dirige vem perdendo as condições de sustentar a dominação do resto do mundo pela força, tendo mergulhado em forte decadência econômica também devido às várias frentes de conflito que abriu.

Mas o que julgo que trabalha mesmo para tornar o mundo justo é o processo de tomada de consciência de povos eternamente oprimidos e sem consciência dessa opressão até há pouco, os latino-americanos e os árabes e muçulmanos, o que deixa ao mundo “só” a África como continente de povos adormecidos, porém em processo de despertar.

O avanço da tecnologia de comunicação de massas vai levando informações vitais ao alcance de todos, os programas sociais de resgate da miséria e a compreensão dos povos sobre o valor da Educação vão transformando as sociedades subdesenvolvidas.

Aliás, para não deixar a África de fora do processo civilizatório que vai tornando a injustiça social cada vez menos aceita e um passivo vergonhoso para qualquer nação, lembro-me do que vi nas viagens que fiz a países da África nos últimos anos. Angola, por exemplo, é um país que caminha, lenta e continuadamente, para a civilização.

Há uma juventude angolana que, tal qual a brasileira, busca a instrução formal como caminho para abandonar a miséria. Constroem-se universidades, importam-se conferencistas, ministradores de cursos de técnicas de gestão… Enfim, o povo não está parado, atolado na penúria ou conformado com ela.

Poupem-me dos relatos de tudo que permanece péssimo. Todos sabemos deles, de tudo que ainda falta à humanidade para que seja digna de ser chamada assim. Todavia, quem pode negar que o mundo de hoje é infinitamente mais justo do que há cem anos?

Inclusive do ponto de vista político. Quem imaginaria, há uma década, que o Brasil seria governado por um ex-operário que deixaria o cargo depois de dois mandatos com o país mergulhado no maior processo de crescimento com distribuição de renda de sua história e, o que é melhor, contra a vontade da mídia, eterno instrumento das elites opressoras?

E o que é melhor ainda: quem imaginaria, dez anos atrás, que depois de OITO anos de governo popular o povo brasileiro ainda teria esclarecimento para manter o país no mesmo rumo mantendo o mesmo partido no poder apesar de toda a infrutífera tentativa de lavagem cerebral dos tentáculos dessa diminuta aristocracia opressora na comunicação de massas?

Pode demorar  algumas décadas, talvez um século, se tanto, mas acredito firmemente em um mundo justo para todos, em que a miséria e a opressão deixarão de existir. E acredito em mais: essa era de ouro da humanidade que começa a se desenhar terá as digitais de pessoas como nós, que lutam para que esse mundo futuro venha a existir.