Para onde irão os japoneses?

Crônica

A mera leitura do verbete Japão em qualquer enciclopédia possibilita acumular montes de menções positivas ao país. São cerca de 130 milhões de pessoas que têm a 11ª melhor qualidade de vida e estão embarcadas na terceira maior economia, com grande bem-estar social, cultura e amadurecimento político e institucional. Os japoneses ainda têm, entre outros dados positivos, a terceira menor mortalidade infantil e um entre os três maiores desenvolvimentos tecnológicos do mundo.

É possível ficar escrevendo sem parar sobre o alto patamar civilizatório dessa nação que agora vemos, mais uma vez, de joelhos diante de uma grande catástrofe, depois de ter sido alvo dos dois únicos ataques nucleares de uma nação a outra.

A sorte trágica do Japão talvez guarde relação com o nível espantoso de aperfeiçoamento de sua sociedade, que, sob vários aspectos, pode ser considerado o mais surpreendente devido às tragédias que seu povo sofreu ao longo da história.

Há, porém, um inimigo que o povo japonês não poderá derrotar e que o obrigará, algum dia, a ter que fugir. Desde criança – o que deve ser entendido como um longo tempo – que ouço falar que o arquipélago japonês submergirá nas águas dos mares de Okhotsk e da China Oriental e Taiwan. Isso porque o Japão se estende sobre o encontro fatídico de três placas tectônicas (vide ilustração acima), o que o torna forte candidato a um dia se transformar em uma Atlântida de verdade.

É muito provável, portanto, que os japoneses estejam elucubrando sobre para onde levarão as futuras gerações, caso a controversa previsão sobre o eventual afundamento do seu arquipélago se transforme em realidade.

Surpreendentemente, da ciência acabamos pulando para a política. O cinema-catástrofe hollywoodiano já abordou essa questão, aliás. Imaginem um desses povos ricos e desenvolvidos tendo que pedir abrigo a nações que tiveram seus povos repelidos pelos que, agora, estariam sem território nacional. O que fazer com uma população imensa como a do Japão?

As alterações climáticas e geológicas que o mundo está vendo ocorrer não são nenhuma novidade desde Pangea, o continente gigante que unia todos os que existem antes de se fragmentar e fazer as partes navegarem pelo mundo até chegarem às posições atuais.

O peso que os sete bilhões de  humanos exercem sobre o mundo, com suas crescentes necessidades de tudo, deve começar a produzir efeito justamente nos países que praticamente esgotaram seu meio ambiente pátrio com suas imensas atividades econômicas. O hemisfério norte, onde está a maioria desses países, pode vir a se tornar inabitável em espaço de tempo que a ciência estima cada vez mais curto.

A política externa e a estratégia internacional de países como o nosso devem levar em conta os interesses do mundo desenvolvido em resolver a questão do prazo de validade de seus territórios, que tragédias dolorosas como a que se vê no Japão mostram que deve estar muito bem presente em suas preocupações, o que coloca as terras férteis e sustentáveis do hemisfério sul como alvo de cobiça, a maior de todas as causas para a guerra.