Como deixar o Rio?

Crônica

É árdua a tarefa de escolher o que mais encanta no Rio, ao visitá-lo. Venho a esta cidade há quase meio século e, a cada viagem, apaixono-me perdidamente. Ao deixá-la sempre levo uma pesada bagagem, cheia de saudade.

Não sei se gosto mais do povo, se do seu sotaque brejeiro, se da exuberância das paisagens, se da formosura das mulheres, se da facilidade com que as pessoas lhe sorriem e entabulam papo contigo como se fosse um velho amigo mesmo sem nunca o terem visto na vida.

O pequeno hotel na Glória é funcional e espartano, mas não troco uma estadia aqui por outra no melhor cinco estrelas de São Paulo. No Rio, o luxo não está dentro de uma edificação, mas do lado de fora. A natureza carioca é luxuosa.

O Parque do Flamengo, às 9 da manhã, está vazio. É tanto verde que embriaga. Apesar de encravado no seio de uma das maiores metrópoles brasileiras, o ar rescende a fragrâncias florais e uma sinfonia de passarinhos transporta o visitante.

Os cariocas esbanjam uma estupefaciente naturalidade enquanto caminham displicentemente pelo paraíso possível em um grande centro urbano. Parece que te esnobam. É como se dissessem: para nós, é natural desfrutar disto tudo.

Como ir embora do Rio sem deixar para trás uma parte do coração? Tenho até o meio da tarde deste domingo para descobrir. Não tenho dúvida de que fracassarei. Vou, mas uma parte de mim fica nesta cidade maravilhosa.

Até a volta, meu Rio de Janeiro.