Obama é a Marta Suplicy dos EUA

Análise

O fracasso da administração de Barack Obama vem sendo fragoroso. Eleito no auge da crise do subprime (hipotecas sem fundos), em novembro de 2008, sua vitória bem pode ser comparada à de Marta Suplicy como prefeita de São Paulo, em 2000. Lá, como aqui, presidente e prefeita elegeram-se graças às administrações desastrosas que sucederam.

Apesar de Obama e Marta jamais terem sido realmente os preferidos da maioria de norte-americanos e paulistanos, os conservadores de lá e daqui, majoritários nos EUA e em Sampa, sabiam que o rouba-mas-faz que fundamentou as eleições de George Walker Bush e de Celso Pitta tinha ido longe demais e, assim, havia que pôr gente séria para governar, tampando o nariz para o “centro-esquerdismo” de ambos.

O que pode diferenciar Obama de Marta, porém, é que ele parece ter optado por tentar agradar à ultra-direita que o fustiga. Derrotado nas eleições legislativas recentes, sabe que tem que governar com a mão direita para ter a mínima chance de compensar o fracasso administrativo com factóides que alimentem o ódio reacionário ianque.

O assassinato de Osama Bin Laden foi um regalo que Obama ofereceu ao conservador povo americano na esperança de que seja considerado suficientemente violento no uso do poder bélico da potência que, apesar da desgraça econômica e social que sofre, segue sendo militarmente hegemônica. Uma hegemonia que, para ser mantida, oprime sua combalida economia.

Obama vem se esforçando para saciar o ódio da maioria de seu povo, em que pese a minoria decente de norte-americanos. No caso do golpe em Honduras, por exemplo, permitiu a vitória de um grupo criminoso que tomou o poder de assalto pisoteando todas as leis e tratados internacionais. A direita norte-americana tem orgasmos ao ver golpes militares na América Latina.

Obama, porém, pode tirar o seu cavalo da chuva. Se não reerguer a economia do país, não obterá o segundo mandato. E, mesmo se reerguer, é boa a possibilidade de, na hora em que a casa estiver arrumada, os conservadores que aceitaram um negro “de esquerda” decidirem que o “sacrifício” não é mais necessário.

Vale a máxima para os progressistas e “liberais” (como os políticos de centro-esquerda são chamados nos EUA) que tomam o poder com a esquerda e governam com a direita – o que não foi o caso de Marta, ressalte-se: se for para ter um pseudo direitista no poder, eleitorados conservadores sempre irão preferir o original.