Nós mudamos o mundo

Crônica

Muitas vezes me perguntei o que é que tenho feito neste blog. Não ganho dinheiro, tenho despesas, o Cidadania interfere em meu trabalho profissional e, eventualmente, afasta-me da família.

O que ganho?

A resposta veio no comentário de um leitor que revela que jamais fez um comentário neste blog apesar de lê-lo desde o começo.

Ao ler o que o “Zequinha” escreveu, descobri o que é que tenho feito aqui – e por quem tenho feito. Escrevo e luto por pessoas como ele, por pessoas como vocês todos, aos quais agradeço.

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Querido Edu,

não participo dos comentários no seu blog, mas sou assíduo leitor desde os primórdios. Muitos comentários meus no site do PHA repercutiram e foram muito divulgados na blogosfera, um até copiado em livro… Mas parei.

O mensalão, a possível candidatura do Serra, as absurdas privatizações tucanas, o PIG, a eterna e ridícula desclassificação do maior político do mundo e tantas outras nojeiras permeavam minha mente dia e noite.

O inconformismo que você descreve agora é por mim e com certeza por muitos compartilhado.

Todas as mentiras dos jornais e das revistas cristalizam a ideologia do sistema de dominação capitalista que é divulgada diariamente para que, em nossas mentes e das próximas gerações nos acostumemos com a dominação e acreditemos que sempre foi assim e sempre será e nos prostremos diante da realidade.

Parece uma luta inglória.

Observo a sua luta com a querida Victorinha, que ficou com sua foto (sem querer) congelada na abertura do seu site no meu menu de sites favoritos. Todos os dias vejo primeiro a Victorinha na mesa de jantar, depois dou mais um clique para a página principal do Cidadania.

Vi a criação do Instituto [o Movimento dos Sem Mídia], todos os seus protestos com seu megafone diante da Folha, do churrasco dos diferenciados, suas participações nos encontros de blogueiros etc…

Acompanho as mensagens de suas viagens e me surpreendo com tamanho desprendimento, coragem, dedicação e resiliência com que você concilia família, trabalho e arte.

Tenho 46 anos, sou pequeno comerciante, pai de dois filhos gêmeos que estudam na USP e um terceirinho que faz cursinho. Sou egresso da FAU-USP, mas nunca exerci a atividade de arquiteto.

Num dado momento da minha vida, não agüentei mais e voltei à universidade. Hoje sou aluno da Federal do ABC, primeira turma do curso de Ciências e Humanidades e pretendo sair licenciado em Filosofia. Um dia vou dar aulas e mudar o mundo!

Conto toda esta história para relatar algo grandioso: o professor de Relações Internacionais nascido na Holanda, admirador de Lula, certo dia, na saída do Campus, demonstrava indignação em tom de provocação aos alunos adolescentes por não se manifestarem e não saírem às ruas como nas Espanha ou nas primaveras árabes, ou mesmo como os universitários do Chile. Logo respondi, e ele concordou plenamente com um sorriso maroto, que o Brasil mudou.

Esta geração não tinha nada em comum com a nossa (minha e do professor, sua) nem com a de nenhum país do mundo. Afinal todos estavam sob o teto de uma dentre as 14 universidades criadas pelo ‘apedeuta’ e analfabeto, o ‘sem dedo’.

A imprensa corporativa, seus oligarcas, seus impérios estão a ruir. É questão de tempo. Somos apressados, mas já vimos muitas mudanças.

Edú, você já mudou o mundo. O mundo da vida real, de cada brasileiro não é captado por esses que ainda se agarram aos podres poderes baseados na mentira, nas falsificações, nas chantagens. É isso! Você já mudou o mundo!

Zequinha