Baixarias e Kassab fortaleceram Lula e debilitaram Serra em SP

Análise

Pesquisa Datafolha publicada neste domingo (11/12) revela quadro político inédito na cidade de São Paulo e insinua que o aumento da popularidade do ex-presidente Lula que acaba de ser detectado, e que influencia o voto para prefeito de 48% dos paulistanos, pode ter aumentado ainda mais nas regiões do país em que ele sofre menor resistência do eleitorado.

A sondagem também revelou disparada da rejeição do ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato a presidente José Serra em São Paulo. Incríveis 35% dos paulistanos desaprovam o tucano. Além disso, o prefeito Gilberto Kassab, que se elegeu na esteira da expressiva aprovação que o padrinho político detinha na capital paulista, amarga rejeição de 40%.

Segundo o Datafolha, em 11 sondagens que fez até hoje sobre a influência de Lula na política paulistana, nesta última a popularidade dele bateu recorde, tendo subido oito pontos percentuais desde a sondagem anterior, feita em setembro.

A lógica permite inferir as razões desse quadro.

Como se não bastasse o fato de que adoecer sempre torna a pessoa menos antipática a seus críticos, a baixaria praticada à larga na internet por antipetistas e antilulistas fanáticos diante da notícia de que Lula fora vitimado por doença mortal, chocou o país.

Ciente dessa faceta do brasileiro de ser solidário em situações assim, a mídia alinhada ao PSDB, percebendo o erro político que estava sendo cometido, tratou de se distinguir dos energúmenos que chegaram a comemorar o infortúnio de Lula, apesar de veículos como a Veja terem orientado seus colunistas a instigarem aqueles sentimentos degenerados.

Quanto ao aumento da rejeição a Serra, decorre da percepção dos paulistanos quanto à expressiva piora que a qualidade de vida sofreu na capital paulista. Kassab vai se tornando uma espécie de Celso Pitta e seu padrinho tucano uma espécie de Paulo Maluf.

Assim como Maluf e Pitta chegaram a ter recordes de popularidade em São Paulo e depois caíram em desgraça quando o resultado de suas administrações desastrosas começou a ser sentido – fenômeno que acabou elegendo Marta Suplicy, que reergueu a cidade –, o mergulho paulistano no caos vai despertando parte desse povo de seu delírio conservador.

Não se pode deixar de abordar, também, o fracasso retumbante do esforço hercúleo da mídia para destruir a imagem de Lula, esforço esse que se agravou depois que ele deixou a Presidência. Este ano foi marcado por uma artilharia midiática contra o ex-presidente que pode ter até superado a dos anos anteriores.

Nos primeiros dias de janeiro, logo após Lula deixar o cargo de presidente, recomeçaria, com força redobrada, a eterna campanha para desmoralizá-lo, campanha que teve início em 1989 e que nunca mais parou.

O caso dos passaportes dos filhos de Lula, o bombardeio de matérias “jornalísticas” que ainda o acusam de ter legado a Dilma “herança maldita” e ministros corruptos, nada disso surtiu efeito. Pelo contrário: o fato de o ex-presidente ter se tornado mais popular em São Paulo permite supor que nas regiões do país em que sua aprovação sempre foi mais alta, agora deve estar beirando a unanimidade.

Sendo assim, essa pesquisa eleitoral, feita pelos piores inimigos de Lula, deixa ver como ele vai se tornando uma lenda viva que, novamente, propiciará ao PT recordes de vitórias eleitorais. Mas, acima de tudo, revela que só restou à mídia o poder de gerar crises administrativas em governos, porque a opinião pública está se lixando para ela.

PS: a pesquisa Datafolha foi a campo antes da publicação do livro A Privataria Tucana.