Um abismo separa ‘A Privataria Tucana’ e ‘O Chefe’

denúncia

Na última quarta-feira, o programa “Tema Quente”, da Rede TV!, comandado pelo jornalista Kennedy Alencar, recebeu os líderes do PSDB e do PT no Senado, os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR) e Humberto Costa (PT-PE). O tema central do programa – que, para variar, era o das denúncias de sempre contra o PT –, porém, acabou ficando em segundo plano.

Até certa altura do programa, Dias recitava tranquilamente seu costumeiro rosário moralista contra os adversários quando foi surpreendido por aquilo que dá não combinar estratégias com “os russos”, pois Costa, tranquilamente, introduziu (no debate) o livro-bomba da política brasileira neste século, A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

Veja abaixo, resumidamente, como foi o diálogo e o que nele originou este post.

No programa em questão, o senador do PSDB paranaense assumiu a postura de defensor dessa dita “grande” imprensa que boicotou o livro azul da privataria tucana enquanto foi possível, ou seja, até que a imprensa internacional e, sobretudo, o próprio ninho tucano a furassem e começassem a falar do assunto.

Para defender os meios de comunicação que apoiam seu partido dos questionamentos feitos por Costa, Dias afirmou que Globos, Folhas, Vejas e Estadões tampouco noticiaram o livro do ex-petista Ivo Patarra “O Chefe”, que pretendeu acusar o ex-presidente Lula pelo escândalo do mensalão. Além disso, afirmou que o PSDB não se aproveitou do livro para fazer denuncismo.

Costa retrucou dizendo que o livro sobre a privataria é farto de documentos com fé pública que comprovam suas denúncias enquanto que o livro contra Lula contém apenas opiniões. Dias treplicou afirmando que o livro do ex-petista também continha documentos do mesmo jaez, o que não é verdade.

Passado o choque inicial e o silêncio ensurdecedor que se seguiu entre tucanos e mídia imediatamente após o lançamento do livro da privataria, partido e meios de comunicação começaram a falar nessa obra à qual editora nenhuma deu bola e que não gerou a mínima luz e muito menos um resquício de calor simplesmente porque O Chefe não é só um amontoado de idiossincrasias de seu autor contra o ex-presidente Lula, mas, também, mera compilação de reportagens publicadas incessantemente na grande mídia sobre o mensalão e uma imensa bajulação aos barões da mídia que, aliás, acabou não rendendo nada ao bajulador.

Aliás, Patarra, esse ex-petista que chegou a integrar a gestão (1989-1992) da ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, em entrevista que concedeu ao site Observatório da Imprensa em 2006, poucos dias após o lançamento de O Chefe, que pretendia abalar a recandidatura de Lula à Presidência, fez uma declaração que prova que seu livro nada tem que ver com A Privataria Tucana, pois não é um livro investigativo ou de denúncia como este.

Veja o que disse o próprio autor de O Chefe:

Meu livro não é investigatório. Ele contém as investigações feitas. Eu compilei e organizei os documentos investigatórios e o equilíbrio que eu dei foi em cima da reiteração e confirmação das denúncias. Tirei todo o ruído, a contra-informação do governo, que procurava minimizar e comparar o escândalo do mensalão com o que aconteceu com a mal-sucedida candidatura de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais. São fatos incomparáveis. Uma é candidatura mal-sucedida ao governo. A outra [o mensalão] é o governo federal constituído usando o esquema do Marcos Valério para distribuir, comprar e subornar parlamentares no Congresso.

(Ivo Patarra, 9 de junho de 2006, no Observatório da Imprensa)

O Chefe foi um fracasso em todos os sentidos. Nem a oposição nem a sua mídia o levaram a sério porque nada acrescentou ao bombardeio que a imprensa fez durante o escândalo do mensalão.

O Chefe se limitou a misturar o que Globo, Folha, Estadão e Veja publicaram com as próprias opiniões e ressentimentos de mais esse ex-petista.

O chefe, por conta disso tudo, não vendeu e acabou sendo colocado na internet para leitura gratuita por quem possa se interessar.

Quem tiver interesse em ler o livro que mídia e oposição ensaiaram – sem muito empenho – tentar opor a “Privataria” pode conhecer a obra, na íntegra, clicando aqui. Dei uma passada de olhos e me bastou.

Qualquer pessoa alfabetizada e honesta reconhecerá que não há como comparar os dois livros. Para compará-los é preciso não conhecer nenhum deles, o que seguramente é o caso da maioria da militância tucana na internet. Mas os tucanos mesmo, esses não insistirão nessa comparação simplesmente porque alguém pode resolver fazê-la.