A esquerda, unida, jamais será vencida

Opinião do blog

No último domingo, enquanto em meio a milhares de internautas me indignava com a forma como foi feita a reintegração de posse no bairro Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), alguém postou uma frase no Twitter que merece reflexão. Foi sobre ser bom ver a esquerda unida em torno de uma causa.

Esse tem sido um problema recorrente, ao menos no Brasil – ainda que digam ser um fenômeno mundial. Tem até bordão para ele: “A esquerda só se une na cadeia”.

Aquela frase que li no Twitter diz que não adianta nada essa disputa entre partidos progressistas sobre quem é mais de esquerda, pois, do outro lado, há um grupo que vai se tornando cada vez mais de extrema-direita.

Se notamos as posições que simpatizantes de demos e tucanos externam na internet sobre questões ligadas a direitos humanos, comprovaremos que homofobia, racismo, machismo e total insensibilidade em relação a desfavorecidos como os do Pinheirinho ou da Cracolândia mostram que a militância dos políticos bafejados pela simpatia da mídia é todinha de extrema ou de ultra-direita, até porque são defensores ardorosos da ditadura militar brasileira.

Sendo honesto, devo confessar que muitas das queixas contra o PT e seu governo que fazem partidos mais à esquerda como PSTU e PSOL, principalmente, não podem, de forma alguma, ser consideradas absurdas, ainda que algumas delas realmente tenham graves problemas de contato com a realidade.

Refletindo, lembrei-me de uma frase de Lula sobre a esquerda mais “radical” – até no bom sentido – que precisa ser refletida. É mais ou menos a seguinte: os radicais de esquerda são bons para nos mostrar o que não devemos fazer, mas também para nos impedir de endireitar.

Em minha opinião, a frase do ex-presidente é muito boa. Não se pode negar como é fundamental que propostas da esquerda mais autêntica sejam colocadas como objetivos, ao menos, pois nunca a vi defendendo uma ditadura do proletariado, mas tão-somente concessões menores à direita.

E alguém discorda de que tanto o governo Lula quanto o governo Dilma vêm fazendo concessões à direita que, por vezes, indignam até o mais governista  entre os governistas?

Mas há excessos, também. E este blog está cansado de apontá-los, tendo chegado, algumas vezes, a ser menos tolerante com partidos como o PSOL do que deveria, pois não vejo má intenção em suas posições, por mais que frequentemente sejam irrealistas.

Todavia, a gente vai vendo que a esquerda mais autêntica e conservadora (no sentido de ser fiel a dogmas de esquerda) está sempre do lado certo nas questões mais importantes, só padecendo de falta de calibragem da intensidade da capacidade de dialogar sobre fatos da vida real que não dá para ignorar, como, por exemplo, o da escassez de energia no Brasil e a inevitabilidade da energia hidrelétrica.

São todas questões que podem ser discutidas democraticamente, que podem criar divergências intransponíveis, se for o caso, mas que não devem afastar tanto um PT de um PSOL ou de um PSTU como têm afastado – e, sobretudo, as militâncias desses partidos.

No domingo, lá no Masp, no ato pelo Pinheirinho, ia conversando com a rapaziada boa-praça do PSTU, do PSOL, com os parlamentares e militantes do PT e via que esses estão sempre do mesmo lado quando os direitos humanos requerem, ainda que os grandes expoentes petistas muitas vezes não venham para a posição ideal.

Em São Paulo, ao menos – e, sobretudo, em ano eleitoral –, penso que se deveria tentar uma ampla aliança de esquerda para tirar a direita do poder. E não me venham falar de acordo entre o PT e Kassab, porque não existe condição para isso. Se a cúpula do PT tentar impor tal aliança vai causar um desastre no partido em São Paulo.

Fica, pois, a contribuição deste blogueiro menos esquerdista e menos centrista do que o necessário, talvez, mas que acredita no que diz, e que se deixa conduzir por sua consciência sem que, no entanto, ouse ignorar os fatos, a realidade e, infelizmente, a má e velha realpolitik, a qual, frequentemente, acaba se impondo.

Deixo os militantes dos partidos citados, bem como as suas lideranças, com uma reflexão: depois do que se viu na Cracolândia ou no Pinheirinho, já imaginaram se um Geraldo Alckmin ou um José Serra se elegem presidente em 2014? Dá pra descuidar desse risco?