Paulistano ao volante, perigo constante

Crônica

Um convite arrastou o blogueiro a experiência que já sabia – e dissera – fracassada por antecipação. No entanto, como a patroa não ofereceu a alternativa recusar deixei que ela, nosso filho e a namorada me fizessem cometer a imprudência de subir em uma bicicleta e ir pedalando com eles até o Ibirapuera.

Para quem não sabe, Ibirapuera é o mais importante parque de São Paulo. Foi inaugurado em 1954 no âmbito das comemorações do quarto centenário da cidade. Conta com ciclovia que corta quadras de esporte, pistas de Cooper e lagos artificiais ao longo de 1,5 km² de área verde.

Apesar de residir a poucas quadras do parque, tenho preguiça de desfrutar dele devido à superlotação que sofre, uma superlotação presente em tudo o que se possa conceber em termos de lazer em São Paulo, sobretudo aos finais de semana.  E foi essa proximidade que usaram como argumento para me cobrar que saísse um pouco da frente do computador.

De bicicleta.

Fazia anos que não pedalava, mas, como dizem, ninguém esquece como andar de bicicleta, ainda mais um homem que, na adolescência, cortava esta cidade pedalando sobre duas rodas e ainda fazendo acrobacias.

Aquela São Paulo de cerca de quarenta anos atrás, porém, era outra cidade. Não havia, ainda, a guerra automotriz que há hoje, que parece querer expulsar das ruas todo aquele que não esteja manejando um veículo movido à combustão. Morava na avenida Paulista, no edifício Paulicéia, ao lado do Gazeta, e ia pedalando até o Play Center, na Marginal do Tietê…

Bons tempos, aqueles. Isto aqui era uma cidade, ainda.

Hoje, São Paulo é uma zona de guerra. Foi só colocar a bicicleta na rua e pedalar umas duas centenas de metros ladeira abaixo, rumo ao parque, quando a idéia de humor do motorista (já bem maduro) de um Honda negro me fez pensar em desistir do passeio antes mesmo de começar.

Pedalava junto à fila de carros estacionados no meio-fio de uma rua com pelo menos uns dez metros de largura, de mão única e ainda vazia às oito e pouco da manhã de um domingo quando o sujeito atirou o carro em minha direção e deu uma tonitruante freada bem ao meu lado, de forma totalmente desnecessária. E saiu gargalhando…

A única explicação que encontro para tal conduta é a loucura que se apossa do paulistano quando está ao volante. Todos parecem se achar donos das ruas. Fecham cruzamentos, estacionam em fila dupla, param sobre a faixa de pedestre, não respeitam bicicletas ou motocicletas… E o que é mais insano: enquanto dirigem, criticam tudo isso. Nos outros.

Dá para entender as razões desses destemidos ciclistas que andam protestando contra a conduta psicótica dos motoristas paulistanos em relação a veículos de duas rodas, sobretudo quando são bicicletas. Inexiste a compreensão do esforço físico que o condutor desse tipo de veículo tem que fazer, o que deveria gerar tolerância de quem está sentado ao volante.

É admirável a coragem do ciclista paulistano, mas espanta que acredite que alguma manifestação – ou até mesmo alguma lei – fará com que seja respeitado. O tráfego, em São Paulo, está fora de controle. Pedalar por longos percursos na hora do Rush – ou não -, aqui, é suicídio. Incluam-me fora dessa, futuramente.