Por trás da ‘valentia’ midiática contra Dilma, os EUA (?)

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Ao longo do mês que finda, veio se fazendo notar uma subida de tom de grandes grupos de mídia contra Dilma, quem, até há pouco, gozava de condescendência por parte desses grupos, os quais, ao longo dos dois primeiros anos do governo dela, concentraram a artilharia em Lula e no PT, poupando-a.

Nesse aspecto, editorial recente do jornal O Estado de São Paulo surpreendeu ao usar um tom que poucas vezes se viu contra um governante no pós-redemocratização. Só contra Lula – que, pelo senso comum, era menos aceitável para esse veículo do que a atual presidente – a virulência foi tão intensa.

No último dia 21, em editorial intitulado “Dilmês castiço”, o jornal da família Mesquita pôs a crítica política de lado e partiu para a xingação ao afirmar que a presidente da República teria “dificuldade de concatenar ideias, vírgulas e concordâncias”, ao qualificar como “desastrada” sua “condução da política econômica” e ao acusá-la de “despreparo” e de usar “frases estabanadas e raciocínio tortuoso”.

O editorial, pouco objetivo em argumentos, preferiu criticar algum escorregão no português da presidente, como se já tivesse existido algum governante capaz de jamais infringir a gramática ou a norma culta durante falas improvisadas – o Google pode recompensar quem se dispuser a caçar escorregões de FHC no uso do idioma.

O mesmo tom desrespeitoso e insultuoso usado pelo Estadão contra Dilma, nas últimas semanas vem sendo visto com frequência na revista Veja, no jornal O Globo, na revista Época, na Folha de São Paulo etc.

Quem tiver memória do período imediatamente anterior ao golpe de 1964, deve estar experimentando um déjà vu. Os editoriais e artigos que esses veículos publicavam usavam tom idêntico, apelando ao xingamento e a acusações à ética e à capacidade administrativa de Jango Goulart que dispensavam fatos.

Em pronunciamento feito da tribuna do Senado em setembro do ano passado, o senador pelo PMDB do Paraná, Roberto Requião, lembrou o uso que esses mesmos veículos de hoje faziam do xingamento contra Jango. Veja, abaixo, um trecho.

Às vésperas do golpe de 1964, o desrespeito da grande mídia para com o presidente João Goulart e sua mulher Maria Teresa chegou ao ponto de o mais famoso colunista social do país à época publicar uma nota dizendo que na Granja do Torto florescia uma trepadeira. Torto, como referência ao defeito físico do presidente; trepadeira, como referência caluniosa à primeira-dama do país”.

Até aí, não haveria nenhuma novidade se não fossem boatos que vêm circulando na internet e que, nas últimas 24 horas que antecederam este texto, chegaram a este blogueiro por vias menos nebulosas, ainda que sem comprovação.

Duas pessoas conhecidas por este que escreve – e desconhecidas entre si – relataram a mesma história: funcionário da embaixada dos Estados Unidos em Brasília teria presenciado conversa em inglês entre um membro daquela representação diplomática e o embaixador Thomas Shannon.

Segundo os relatos, os diplomatas discutiam o envolvimento norte-americano na eleição do ano que vem e seus contatos com grupos de mídia e partidos de oposição, entre outros. Uma das fontes afirma que os EUA estariam empenhados em pôr fim à “onda vermelha” que teria engolfado a América Latina e, sobretudo, a América do Sul.

Nesse contexto, a volta da direita ao governo do Brasil teria o condão de desencadear um efeito dominó que reverteria uma independência da região que estaria na base das dificuldades dos Estados Unidos de superarem a crise econômica na qual estão mergulhados desde meados da década passada.

A indústria ianque, por exemplo, estaria enfrentando dificuldades para exportar para a América Latina em razão de sua exagerada aproximação com a China e com outros países asiáticos. Acordos comerciais de interesse norte-americano estariam sendo bloqueados por governos “excessivamente independentes”.

A aliança pela “libertação” do Brasil da tal “onda vermelha” envolveria os próprios Estados Unidos e, do lado brasileiro, grupos de mídia, partidos de oposição e lideranças políticas como Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos, bem como setores do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal.

Teoria da conspiração? Pode ser. Não se pode afirmar que esses relatos procedam sem que os relatores apresentem provas. Mas tampouco dá para descuidar de hipóteses tão verossímeis, dado o histórico da relação promíscua entre os EUA e setores da elite latino-americana. Vale abrir o olho.