Grupo “Skank” usa política para se promover na mídia

Análise

 

Skank – também conhecido como skunk – é uma variedade de maconha (cannabis sativa) que, por ser cultivada em laboratório, produz um efeito concentrado. Não chega a ser uma substância transgênica porque a estrutura molecular de sua semente não é modificada. O que muda é o cultivo. É feito em estufa com tecnologia hidropônica — é plantada em água, como certas espécies de alface.

A diferença do skank para a maconha comum é a capacidade entorpecente. O princípio psicoativo é o tetra-hidro-canabinol (THC). A maconha comum tem uma concentração de THC em torno de 2,5%; no skank, chega a 17,5%. É uma espécie de supermaconha, portanto.

Este post, porém, não pretende fazer pregação contra a maconha, vale frisar. Até porque, este Blog defende sua liberação e, inclusive, a de todas as outras drogas, haja vista que o proibicionismo só serve para criar mercado para o crime organizado, que sofreria um duro golpe se, como em países nórdicos que liberaram as drogas, o Brasil parasse com essa tolice de permitir o uso de drogas pesadas como o álcool enquanto proíbe outras só para satisfazer preconceitos.

Mas por que, então, a explicação do que é a supermaconha skank? É só para contextualizar a jogada de marketing de um grupo musical que leva o nome da substância.

O grupo “Skank” é comandado pelo vocalista Samuel Rosa, que, em sua recente apresentação no Rock in Rio, de forma escancaradamente visível misturou a apologia que faz à maconha com política a fim de ganhar espaço na grande mídia que faz oposição ao PT. Espaço sobretudo na Globo, mas não só.

No último sábado, o grupo “Skank” fez uma apresentação no palco Mundo, no Rock in Rio. Antes de entoar seu sucesso “É uma Partida de Futebol”, o grupo exibiu no telão por trás de si imagens dos protestos que aconteceram no país em junho, mostrando os manifestantes gritando o famoso bordão “Vem pra rua”, com direito a integrantes do show vestirem a máscara característica do grupo oposicionista de direita “Anonymous”, que tentou armar um protesto nacional contra Dilma Rousseff no último dia 7 de setembro.

Eis que chega a hora de entoar a versão adaptada pelo “Skank” a partir do sucesso de Roberto e Erasmo Carlos “É Proibido Fumar”. Os reis da Jovem Guarda não compuseram a música nos anos 1960 pensando em maconha, mas, após a adaptação do “Skank”, nos shows deste grupo as plateias jovens passaram a adicionar a palavra “maconha” ao refrão.

“É proibido fumar”, canta o “Skank”. E o público completa: “maconha”.

Após começar a politizar o show, então, o vocalista e guitarrista Samuel Rosa teve uma sacada de gênio para ganhar mídia favorável. Gritou para o público:

— Maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?

Quem é que está “fazendo mensalão de novo”? O STF, segundo o músico…

Mas foi a conta. O show do “Skank” ganhou um super destaque no Jornal Nacional de sábado. Apesar de o telejornal ter dito que “A tarde deste sábado (21) no Rock In Rio foi de muita música brasileira”, o único grupo brasileiro que teve espaço na matéria de 3m44s foi o “Skank”, além de uma menção a Pepeu Gomes e a Moraes Moreira durante 3 ou 4 segundos.

A matéria começou com os preparativos do “Skank” para o show, mostrando o grupo fazendo “massagem para relaxar” e, em seguida, apresentando entrevista em que o vocalista Samuel Rosa fez apologia ao seu grupo musical, dominando a matéria quase inteirinha.

Já no domingo, a Folha de São Paulo pôs o “Skank” em sua primeira página, com uma foto de Samuel Rosa em grande destaque, sob a manchete “Dia do POP”. A matéria diz que o sábado, no Rock in Rio, teve “altos e baixos” entre os artistas que se apresentaram.

Os “baixos” ficaram por conta do norte-americano Phillip Phillips, segundo a matéria, que diz: “Desconhecido para quem não acompanha o programa de calouros da TV ‘American Idol’, no qual ele surgiu, Phillips fez uma mistura sem sal de rock, pop, folk e batidas dançantes”.

Adivinhe agora, leitor, por conta de quem ficaram os “altos”… Claro que por conta do novo herói “pop” da mídia partidarizada: o “Skank”.

O comportamento laudatório da grande mídia a Samuel Rosa e seu “Skank” tem ainda um outro componente: estimular artistas a faturarem mídia favorável dando declarações políticas que ajudem na interminável luta de meia dúzia de barões da mídia para elegerem algum tucano – ou, na pior das hipóteses, Marina Silva – no ano que vem.

Resta saber se fazer politicagem barata em um show em que os ingressos custam, em média, R$ 200 reais (fora o custo dos baseados), como o Rock in Rio, servirá para convencer quem não pode nem sonhar em gastar tanto dinheiro a votar em quem as famílias Marinho e Frias, entre outras, querem que seja eleito presidente da República.