Perguntas a fazer sobre protestos de rua

Análise

 

A imagem acima despertaria no espectador desavisado que tivesse acabado de chegar ao Brasil a seguinte pergunta: quem agride a quem nos protestos de rua que eclodiram a partir de junho, por aqui? Afinal, de um lado da imagem se vê um oficial da PM sendo agredido por manifestantes; do outro lado, o que se vê é um PM agredindo um manifestante.

Alguma das duas situações é falsa? Alguém pode afirmar que manifestantes não agridem policiais primeiro e de forma covarde ou que policiais não agridem manifestantes primeiro da mesma forma? Pode, claro. Só que estará mentindo.

A conclusão óbvia a que se deve chegar, portanto, é a de que os dois lados estão errados.

A PM é a força de segurança que tem sido usada para conter protestos quando descambam para a violência. São aterrorizantes, porém, excessos que ela tem cometido. Há gente mutilada pela violência de uma polícia que não sabe lidar com aqueles que porventura se excedam se não for através da violência.

Há pouco, no Rio de Janeiro, descobrimos e acompanhamos o drama da família do pedreiro Amarildo, vítima de uma corporação que tantos, à exceção dela mesma, consideram apodrecida, violenta e corrupta. Contudo, ele não foi preso por se manifestar, mas por ter sido confundido com um traficante. E pobre não recebe spray de gás pimenta, recebe bala.

Mas, claro, isso não muda o fato de que a PM age de maneira inaceitável inclusive em manifestações.

A PM, portanto, tem feito por merecer a forma como vem sendo vista pela sociedade. Seu viés violento é inegável. A atuação dela na desocupação da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), foi digna de uma horda de bárbaros. Até estupros foram cometidos contra os moradores, sem falar dos roubos, dos abusos mais variados.

Contudo, parece obviamente impróprio dizer que os métodos da PM que atuou no Pinheirinho são os mesmos da que vem combatendo os abusos dos que têm ido às ruas para promover atos de vandalismo, de violência mesmo, não só contra o patrimônio público mas também contra o privado. E não só contra o patrimônio privado de corporações, mas contra o de cidadãos que estão longe de ser tubarões do capital transnacional.

Ou será que bancas de jornal, pequenos comércios e até carros estacionados viraram “símbolos” do capitalismo?

Os que apoiam os covardes que atacaram o oficial da PM na foto acima, porém, têm uma justificativa na ponta da língua para agirem desse modo deplorável: “A PM nos ataca e nós a atacamos”. Simples assim.

Importa se aquele oficial em particular foi atacado sem ter cometido qualquer arbitrariedade? Importa terem lhe quebrado a clavícula, após tudo de execrável que policiais militares fazem por ai? É certo punir de forma potencialmente fatal o membro de uma corporação por conta dos abusos que outros membros dessa corporação possam ter cometido?

Começamos, assim, a fazer algumas das muitas perguntas que precisam ser feitas.

A PM pode continuar reprimindo manifestantes quando começarem a quebrar tudo? É verdade que ela sempre começa a atacar manifestações pacíficas do nada ou a verdade é que há manifestantes que começam a quebrar tudo justamente para que a PM atue e eles possam acusá-la?

Responda: você já não viu manifestações em que a PM não se mete por transcorrem de forma pacífica? Se já viu, acha correto dizerem que a violência de adeptos do black bloc só ocorre em reação à PM? É verdade, isso?

Por outro lado, quantas vezes já vimos a PM forjar flagrantes, agredir imotivadamente etc.? Alguém duvida de que a PM, por vezes, é alvo de ataques por ter membros despreparados que atacam manifestantes pacíficos por pura arrogância, truculência e até desequilíbrio de um agente público?

Dessas perguntas, então, pode-se concluir que não há santos nessa história?

Se não há santos nessa história, então o que devemos fazer? Se a PM é despreparada e não tem como combater atos de violência e vandalismo sem agir pior do que os que os cometem, quem poderia fazer a segurança da cidade contra manifestantes que vão sendo cada vez mais repudiados pela sociedade?

Pesquisa Datafolha divulgada no domingo mostrou que 95% da população da capital paulista repudiam os que usam a tática de bloco negro em manifestações e também que caiu de 89% para 66% o apoio a protestos de rua. Isso ocorre após essas manifestações já terem sido quase uma unanimidade nacional.

Pergunta: por que a sociedade está deixando de apoiar o que começou apoiando?

Uma pergunta importantíssima para que você se faça, portanto, é a seguinte: eu quero que a PM impeça grupos que começam a quebrar tudo ou acho que se deve deixar que esses manifestantes possam fazer o que quiserem?

Outra questão: estou preparado para sofrer as consequências que protestos assim podem causar? Já refleti sobre como me sentirei se estiver dirigindo o meu carro e ele for interceptado e depredado por manifestantes, ou se no meio de um protesto em que provocam incêndios e todo tipo de violência um ente querido for ferido?

Recentemente, a televisão mostrou um manifestante que enfrentava a polícia e recebeu uma pedrada na cabeça. A pedra foi atirada por um companheiro dele que errou o alvo e, em vez de atingir o policial, o atingiu. E se quem recebeu a pedrada fosse seu irmão, marido ou namorado e tivesse morrido, você diria que foi um “efeito colateral” e está tudo certo?

Outra pergunta importante: qual o histórico de sucesso em quebra-quebras, em termos de “mudar países”? A tal “primavera árabe” se transformou em inverno, como se sabe. Há, então, algum outro exemplo contemporâneo a dar de algum país que melhorou através da tática black bloc?

Chega-se, pois, à pergunta final: se a quase totalidade da sociedade reprova que grupos saiam às ruas quebrando tudo e, apesar disso, esses grupos se negam sequer a ponderar, o que fazer? Fica por isso mesmo? Um grupelho que praticamente todos reprovam continua infernizando as cidades e temos que aturar? Se não, quem vai detê-los? A PM?