Crônicas do Cárcere: Dirceu e Delúbio sustentam Genoino

Crônica

Pense em um sofrimento moral e físico que não o deixa por um mísero segundo, esteja desperto ou adormecido; quando você não está sendo torturado conscientemente pela dor física e pelo açoite dos pensamentos massacrantes, está tendo pesadelos.

José Genoino está alquebrado muito mais moral do que fisicamente. Sua saúde não estaria assim se desfrutasse do conforto de saber que está apenas pagando pelo que fez. O que o enlouquece é uma dor que poupa os que se reconhecem culpados, a dor lancinante da injustiça.

Se ele lograr sobreviver até que a Justiça se digne a lhe conceder um benefício que não deveria ser negado a homem algum (cuidados médicos adequados), será graças aos que com ele dividem o cárcere, José Dirceu e Delúbio Soares.

Os que adentraram a cela dos três companheiros enviam uma imagem mental: a de dois soldados que, sob bombardeio cerrado, entre o ribombar dos morteiros, das granadas e dos fuzis, dividem o peso – físico e moral – do companheiro ferido, conduzindo-o através do campo de batalha.

Mais do que o tubo que enxertaram no peito de Genoino para que o sangue possa circular por seu coração cravejado de estilhaços de revolta, o que lhe está salvando a vida são as palavras dos companheiros que dele não descuidam, bem como seus olhares atentos sobre suas condições físicas.

Os comentários de solidariedade e de indignação nas redes sociais e na blogosfera são ministrados em Genoino pelos companheiros como se fossem analgésicos morais para dor imposta pelo bombardeio de deboches, de insensibilidade, de hipocrisia, do mais puro ódio.

Genoino vem sendo velado pelos companheiros ininterruptamente. Além dos cuidados com sua mente, permanecem vigilantes quanto ao seu corpo. Dificuldade para respirar, uma escarrada rubra, a aparência lívida, nada escapa aos que encontraram nos cuidados com ele um linimento para as próprias feridas, que não são poucas.

Este texto, pois, é um agradecimento à bela imagem de coragem e de superação que me foi enviada por pessoas íntimas dos presos políticos que o Brasil voltou a ter e que com eles estiveram recentemente. É uma lição de vida que guardarei como um tesouro.

Dirceu e Delúbio encontraram na debilidade do companheiro a força de que precisavam para ignorar as próprias feridas. A sobrevivência de Genoino, para eles, tornou-se uma causa. É assim que os homens sobrevivem aos martírios, quando encontram uma razão para resistir.

Você que deixa seus comentários em blogs ou nas redes sociais apoiando Genoino, saiba que está produzindo matéria-prima para as injeções de ânimo que os companheiros dele lhe vêm inoculando quando seus ferimentos morais sangram.

Há muito pouco que se possa fazer de imediato pelos presos políticos brasileiros. Imediatamente, porém, há como ajudá-los a não sucumbir à tortura impiedosa da injustiça manifestando confiança, solidariedade e esperança.

Neste momento, o maior amigo e o maior inimigo de cada um dos três encarcerados é a sua mente. Se for possível preenchê-las com manifestações positivas de tantos quantos forem possíveis, os estaremos ajudando a resistir. E Genoino, a sobreviver.