Você está assistindo ao primeiro Big Brother Penal da história

Análise

 

O que mais querem esses impérios de comunicação que vão deixando cada vez mais claro que estão muito longe de se satisfizer com as condenações sem provas (by Ives Gandra Martins) e com os consequentes encarceramentos dos réus do julgamento do “mensalão” filiados ao PT?

Há mais de dez dias que José Genoino e José Dirceu – os alvos exclusivos do noticiário – estão privados da liberdade, mas nem jogá-los extemporaneamente na prisão fez parar o bombardeio midiático que ora sofrem.

Desde o dia 16 deste mês que a prisão desses dois vem sendo coberta sem parar, numa espécie de Big Brother Penal em que o dia a dia dos dois petistas foi transformado.

Apesar de mais de uma dezena de condenados da ação penal 470 ter sido presa, o noticiário se concentra, exclusivamente, nos dois Josés. E sempre com um só viés, o de tornar ainda mais dura a vida deles no cárcere.

A rotina da cela em que estão confinados os petistas, as vidas íntimas das famílias deles e até o emprego que Dirceu conseguiu para sair do regime fechado para o semiaberto alimentam a sede de sangue do noticiário.

Genoino apareceu em um telejornal com o peito desnudo, deitado numa cama de hospital, em uma situação para lá de humilhante. O hotel em que Dirceu irá trabalhar teve sua imagem exposta em uma matéria do Jornal Nacional que exibiu até o registro em carteira e o salário que ele receberá.

Além da divulgação do nome da empresa em que Dirceu poderá trabalhar para “desfrutar” do regime semiaberto, do salário que receberá e do local em que fica essa empresa, a mídia ainda divulga informações sobre os empregadores do petista.

A empresa em questão, seus proprietários, seus funcionários, seus clientes e o petista recém-contratado foram todos expostos a riscos. Dada a tensão política que eclodiu no país após os petistas terem sido presos, todos podem ser alvo de algum tipo de violência.

Intimidar os que cometeram o crime de dar emprego àquele para o qual a mídia parece não aceitar nada menos do que a pena de morte, porém, não é suficiente.

A junta médica formada a pedido do presidente do STF, Joaquim Barbosa, para avaliar se Genoino pode permanecer na cadeia, produziu um laudo que dificulta a compreensão da conclusão clara de que não pode.

O laudo propositalmente confuso emitido por médicos rebelados contra o governo do PT devido ao programa Mais Médicos diz que, “até onde for possível”, Genoino deve ser poupado de “estresse psicológico”, pois este pode gerar efeitos “psicossomáticos” como os que, semana passada, tiraram-no da prisão e o colocaram no hospital.

A mídia soube usar um laudo confuso que só reconhece tacitamente que Genoino não pode ser submetido ao estresse de uma prisão; divulgou que o estado de saúde momentâneo dele “não é grave” sem esclarecer que, obviamente, isso mudará no dia a dia da prisão.

Já se antevê, portanto, que as prisões de Dirceu e Genoino continuarão sendo usadas politicamente por muito tempo, ainda. Serem presos deveria encerrar o caso, mas como a militância petista não aceita essas prisões e protesta, a mídia, em retaliação, trata de exacerbar as punições.

Não se tem notícia, neste país ou no mundo, de cobertura tão meticulosa e ampla do dia a dia do cumprimento de penas de prisão.  A mídia combate até as visitas que os presos recebem.

Não basta que os petistas sejam os primeiros políticos condenados à prisão na história brasileira recente, as penas deles têm que ser tão duras quanto possível. Parece que a mídia quer lhes quebrar o moral – e o da militância – para que deixem de dar declarações políticas.

Dirceu e Genoino poderiam evitar tudo isso simplesmente se calando e se mostrando alquebrados como a mídia exige, mas esses não são homens que baixam a cabeça. Não o fizeram nem quando política rendia torturas físicas e assassinatos. Não o farão agora.