Reinaldo Azevedo ataca negros para defender Joaquim Barbosa (?!)

denúncia

 

Concordo plenamente com o colunista da Folha de São Paulo e blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo, no que disse sobre a “discriminação racial” no texto “Barbosa no tronco”, publicado no jornal da família Frias (7/3): “A discriminação racial assume muitas faces”.

O colunista e blogueiro que vem encantando a grande (porcaria de) imprensa que temos no Brasil tem razão, o racismo tem mesmo muitas faces, mas ele só citou três enquanto produzia, naquele mesmo texto, uma quarta.

Autor de um dos termos mais estúpidos e discriminatórios de que se tem notícia, o termo “petralha” – que reduz um partido com mais de um milhão de filiados a uma gigantesca quadrilha –, esse bibelô do neofascismo atribui “racismo” aos que criticam Joaquim Barbosa por seu destempero e autoritarismo, os quais esse mesmo pateta cansou de apontar em seu blog.

A tese de Azevedo é a de que os “petralhas” seriam “racistas” porque cobram do ministro que, por ser negro, deveria ter absolvido os petistas condenados no julgamento do mensalão, pois o PT pretende ser o partido que defende a causa dos negros.

Ironicamente, antes de Barbosa prestar o grande serviço que prestou à direita ao condenar sem provas os réus petistas do julgamento do mensalão – intimidando alguns de seus pares para que acompanhassem seu voto –, Azevedo via no presidente do Supremo truculência, autoritarismo, despreparo e, o que é pior, desapreço pelo trabalho – este, um chavão racista sobre “indolência” dos negros.

Alguns dos textos que aquele que a ombudsman da Folha bem qualificou como rottweiler publicou em seu blog antes do segundo semestre de 2012, quando Barbosa passou de demônio a anjo na mídia, revelam que o feroz articulista concorda com as críticas que o ministro vem sofrendo, mas como não podia concordar publicamente encontrou uma saída: acusar esses críticos de “racismo”.

Confira abaixo, leitor, alguns exemplos do que Azevedo já publicou sobre Barbosa em seu Blog.

Em 22 de abril de 2009 Azevedo escreveu que “Joaquim Barbosa desmoralizou o Supremo” por ter brigado com o então presidente do STF, Gilmar Mendes, no plenário daquela Corte.

Em 22 de abril de 2009 Azevedo escreveu de novo (no mesmo dia) sobre Barbosa. O título “Elogios à atuação de barbosa aqui??? Nem pensar!!!”. O texto avisava que não seriam aceitos comentários de leitores que divergissem da opinião do autor do blog sobre o ministro.

Em 9 de setembro de 2009 Azevedo escreveu “A arrogância de Barbosa é espantosa”, por ele ter votado contra extradição de Cesare Battisti.

Em 9 de agosto de 2010 Azevedo escreveu “Ou Joaquim Barbosa volta ao trabalho ou tem de se despedir”, insinuando que a alegação do ministro de que tinha que se afastar do STF por problemas na coluna era desculpa para a própria indolência.

São só alguns exemplos de que Azevedo cometeu ele mesmo o “crime de opinião” que imputa aos que se decepcionaram com Barbosa por ter pisoteado o Direito, premissa com a qual incontáveis juristas e advogados vem concordando após o que o ministro fez no julgamento do mensalão.

O mais engraçado, porém, não é Azevedo ter mudado de opinião sobre Barbosa tanto quanto os que se decepcionaram com a sua atuação no julgamento do mensalão. O mais engraçado é que o “rottweiler” da Folha ataca movimentos negros que, segundo ele, em “maioria” estariam “pendurados” em “prebendas estatais”.

Azevedo quer que os movimentos negros condenem o ex-deputado João Paulo Cunha por ter comentado que Barbosa foi indicado por Lula para o Supremo porque o ex-presidente queria que, após mais de um século de vida Republicana, o Brasil tivesse o primeiro negro em sua Suprema Corte de Justiça.

O petista condenado por Barbosa, porém, não praticou racismo nenhum, razão pela qual os movimentos negros não o criticaram – e não deixariam de criticar se tivessem visto racismo em tal afirmação.

Cunha apenas disse o que todos sabem, que Lula, ao indicar Barbosa, não se ateve a critérios técnicos, mas políticos: queria indicar um negro para o STF e não tinha muitas opções porque a iniquidade “racial” brasileira impede que muitos negros atinjam o de fato admirável grau de cultura do hoje presidente do STF.

Racismo é ressaltar o fato de que os movimentos negros recebem colaboração financeira do Estado para subsistirem. Os movimentos negros, antes de tudo, são movimentos de pobres, pois a pobreza, neste país, tem cor. Tragicamente. Por isso precisam do Estado.

Os movimentos negros deveriam protestar contra a acusação de que se calam diante de ato racista porque o autor desse ato pertence ao partido do governo. Isso é racismo contra os que lutam para que existam mais negros em condições de chegar aonde Barbosa chegou.