JN: entrevistadores falaram 16 vezes com Aécio, 24 com Campos e 38 com Dilma

Análise

 

Muitos se animaram com a primeira entrevista de candidatos a presidente da série que o Jornal Nacional levaria a cabo até a fatídica terça-feira da semana passada (13/8), quando desastre aéreo ceifou prematuramente a vida de Eduardo Campos.

Aécio Neves, o primeiro entrevistado pelo JN, foi inquirido com certa “dureza” pelos apresentadores do telejornal. Um tucano ser perguntado sobre assunto incômodo justo pela empresa de comunicação que é uma espécie de porta-voz do PSDB fez muita gente pensar que a Globo, finalmente, trataria todos os candidatos a presidente da mesma forma.

À luz das outras três entrevistas apresentadas pelo telejornal – duas na semana passada e, devido à morte de Campos, duas nesta semana –, porém, ficou bastante claro que o que Aécio enfrentou foi apenas uma fração da “dureza” que seria aplicada de forma crescente até a vez de Dilma Rousseff, com redução de intensidade com o “pastor” Everaldo, na última terça.

Contudo, após a entrevista de Dilma ficou mais clara a diferença escandalosa de tratamento que os âncoras do JN deram a cada candidato.

Para traduzir essa diferença em números, o Blog usou um método simples. Em qualquer discussão – e as entrevistas foram, em resumo, discussões políticas –, a quantidade de vezes em que cada interlocutor se manifesta revela o nível de polêmica. Por esse critério, a entrevista mais “quente” foi a de Dilma.

Com efeito, quanto mais falam os entrevistadores, menos o entrevistado fala. Assim sendo, colocando em números quanto entrevistados e entrevistadores se manifestaram em cada uma das quatro entrevistas, é possível ver os critérios usados pelo Jornal Nacional.

Na entrevista de Aécio, Bonner e Poeta se manifestaram 16 vezes e o entrevistado, 15. Aécio falou 93,75% do que falaram os entrevistadores.

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Na entrevista de Campos, Bonner e Poeta se manifestaram 24 vezes e o entrevistado, 22. Eduardo falou 91,66% do que falaram os entrevistadores.

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Na entrevista de Dilma, Bonner e Poeta se manifestaram 38 vezes e a entrevistada, 32. Dilma falou 84,21% do que falaram os entrevistadores.

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Na entrevista do “pastor” Everaldo, Bonner e Poeta se manifestaram 36 vezes e o entrevistado, 31. Everaldo falou 86,11% do que falaram os entrevistadores.

Lendo a transcrição das entrevistas, fica gritante que o candidato que teve o melhor tratamento no Jornal Nacional foi – oh, que surpresa! – Aécio Neves. A leniência dos entrevistadores com a questão do aeroporto que o tucano mandou construir na fazenda de sua família é flagrante, comparando com o que ocorreu nas outras entrevistas.

Na transcrição das entrevistas, o leitor também poderá notar que com Dilma e o “pastor” Everaldo ocorreram fenômenos que não ocorreram com Aécio e Campos.  Com Dilma e Everaldo, várias vezes Bonner e Poeta falavam um após o outro. Algumas vezes, falou Bonner, falou Poeta e Bonner falou de novo – ou vice e versa – e só então o (a) entrevistado (a) falou. Com Aécio e Campos, foi pingue-pongue – um entrevistador falava e o entrevistado respondia.

Além disso, a transcrição das quatro entrevistas mostra que os entrevistadores fizeram intervenções bem mais longas com Dilma do que com Aécio, Campos e Everaldo.

E, por fim, o único partido que foi citado negativamente numa entrevista que não foi a de seu candidato foi na de Everaldo – o PT foi citado por ter doado recursos de campanha ao partido do entrevistado, apesar de essa ser prática comum entre partidos aliados.

Antes de ler a transcrição das entrevistas, o Blog deixa o leitor com um pensamento: apesar de a “dureza” das entrevistas do JN ter variado de candidato para candidato, todas as entrevistas apresentaram fatos incômodos aos entrevistados. Quanto a isso, não há dúvida.

Marina Silva, porém, apesar de ser candidata não vai sofrer questionamentos no JN sob a desculpa esfarrapada de que o candidato do PSB já foi entrevistado? Se o candidato desse partido foi substituído, o substituto não deveria ir lá sofrer perguntas incômodas? Ao não entrevistar Marina, o JN não está blindando um dos candidatos?

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ENTREVISTA DE ÁECIO NEVES AO JORNAL NACIONAL

William Bonner: Boa noite, candidato.

Aécio Neves: Boa noite, Bonner. Boa noite, Patrícia. Boa noite, brasileiros de todas as partes do país, que nos ouvem aqui hoje. Prazer enorme estar aqui.

William Bonner: Obrigado. O tempo total da entrevista é de 15 minutos, dos quais nós reservamos o último minuto e meio para que o candidato fale resumidamente, claro, sobre os projetos que ele considera prioritários caso seja eleito. E o tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidato, quando o senhor critica a situação da economia brasileira, o senhor tem dito que, seja quem for o presidente eleito para o ano que vem, vai ter que fazer uma arrumação da casa. O senhor já mencionou choque de gestão, redução de número de ministérios, redução de cargos comissionados. O senhor já falou em combate a desperdícios. Mas economistas que concordam com o seu diagnóstico para a economia brasileira dizem que essas medidas que o senhor tem anunciado não bastam, elas não seriam suficientes para resolver. Que seria necessário que o governo fizesse um corte profundo de gastos. Que seria necessário que o governo também eliminasse a defasagem de tarifas públicas como preço da gasolina e energia elétrica. A questão é a seguinte: o senhor não vai fazer essas medidas que os economistas defendem? Ou o senhor está procurando não mencionar essas medidas, porque elas são impopulares?

 

Aécio Neves: Bonner, eu tenho dito em todos os fóruns e aqui, a vocês, de forma muito clara. Vou tomar as medidas necessárias a que o Brasil retome o ritmo de crescimento minimamente aceitável. Não é adequado, não é compreensível que um país com as potencialidades do Brasil seja o lanterna do crescimento na América do Sul. E estejamos aí de novo com aquela agenda que achávamos já derrotada há tempos atrás, como a da inflação, de novo a atormentar a vida do cidadão, da cidadã brasileira. Eu tenho tido a oportunidade de me reunir, Bonner, com alguns dos mais talentosos economistas do Brasil. Mas, na outra ponta também, eu tenho conversado com as pessoas. O que o brasileiro quer? Transparência. Um governo que tenha coragem de fazer aquilo que seja necessário. Nós vamos, sim, enxugar o estado. Não é admissível, não é razoável que nós tenhamos hoje 39 ministérios. Não apenas pelo custo dos ministérios, mas pela incapacidade deles de apresentarem resultados, entregarem serviços de qualidade às pessoas. E estejamos hoje vivendo uma política externa, cujo o alinhamento ideológico é prioridade sobre o pragmatismo, sobre o interesse real do Brasil e da nossa economia. E tudo isso levou a uma crise de confiança muito grande no Brasil.

William Bonner: Mas o senhor não respondeu a minha pergunta. A minha pergunta é se entre essas necessidades se inclui a redução dos gastos públicos e o fim dessa defasagem das tarifas de energia e gasolina.

Aécio Neves: Não, eu respondo com absoluta clareza. Começando do final. No meu governo vai haver previsibilidade em relação a essas tarifas e em todas as medidas do governo. Ninguém espere no governo Aécio Neves o pacote A, o PAC disso, o PAC daquilo. Ou algum plano mirabolante.

William Bonner: Mas o senhor vai aumentar as tarifas?

Aécio Neves: Nós vamos tomar as medidas necessárias. É óbvio que nós vamos ter que viver um processo de realinhamento desses preços. Quando e como? Obviamente, quando você tiver os dados sobre a realidade do governo é que você vai estabelecer isso. Eu não vou temer tomar aquilo que seja necessário. As medidas necessárias para controlar a inflação, retomar o crescimento e, principalmente, Patrícia e Bonner, a confiança perdida no Brasil. Porque essa desconfiança em relação ao nosso país afugenta os investimentos. E os investimentos indo embora, os empregos vão embora. Olha, o saldo da balança comercial de manufaturados, dos produtos que mais agregam valor, produzidos no Brasil, no ano passado, foi negativo em R$ 107 bilhões. Sabe o que isso significa? Que os empregos que deveriam estar sendo gerados no Nordeste brasileiro, no Centro-Oeste, no Norte, estão sendo gerados na Ásia e em outras partes do mundo. Isso tem que acabar.

Patrícia Poeta: Candidato, o seu partido é crítico ferrenho de casos de corrupção que envolvem o PT. Mas o seu partido também é acusado de envolvimento em escândalos graves de corrupção. Como é o caso do mensalão mineiro e também do pagamento de propina a funcionários públicos pelo cartel de trens e metrôs de São Paulo. Isso para citar dois exemplos. Toda vez que escândalos como esses vêm a público, tanto o PT quanto o PSDB usam o mesmo discurso. Um discurso óbvio e correto. Que tudo tem que ser investigado, que se houver culpado tem que ser punido. Por que o eleitor iria acreditar que exista diferença entre os dois partidos quando o assunto é esse: corrupção?

Aécio Neves: Patrícia, eu acho que a diferença é enorme. Porque no caso do PT houve uma condenação pela mais alta corte brasileira. Estão presos líderes do partido, tesoureiros do partido, pessoas que tinham postos de destaque na administração federal, por denúncia de corrupção. Eu nunca torci para ninguém ser preso. Sendo aliado ou adversário. Apenas torcia sempre e esperava que a Justiça se manifestasse. Em relação ao PSDB ou aqueles sem partido, se tiverem denúncias que sejam consistentes, têm que ser investigadas e têm que responder por elas. O que eu posso garantir é que, no caso do PSDB, se eventualmente alguém for condenado, não será, como foi no PT, tratado como herói nacional. Porque isso deseduca. Portanto, todos os partidos estão aí e têm a possibilidade de ter nomes que sejam envolvidos em quaisquer denúncias. Apuração e punição: é isso que esperam os brasileiros, independente da filiação partidária.

Patrícia Poeta: Mas candidato, vamos pegar um exemplo aqui: Eduardo Azeredo, que foi um dos principais acusados de ser beneficiado no escândalo do mensalão mineiro, renunciou e por isso não foi julgado ainda. Ele está ao seu lado, no seu palanque, apoiando essa campanha eleitoral. Isso de uma certa forma lhe causa algum desconforto, não é passar a mão na cabeça das pessoas, de alguém do partido, um réu, nesse caso?

Aécio Neves: Ele está me apoiando, você colocou bem, Patrícia, não é o inverso. Ele é um membro do partido e que tem a oportunidade de se defender na Justiça, vamos aguardar que a Justiça possa julgá-lo, se condenado, ele vai ser punido, mas eu não prejulgo, não prejulguei os petistas, não vou prejulgar os tucanos. O que eu posso te dizer e reitero aqui: independente do partido político, eu acho que qualquer cidadão tem que responder pelos seus atos. E o Eduardo vai responder pelos dele. Vamos deixar que ele possa se defender.

William Bonner: Candidato, quando o senhor era governador do estado de Minas Gerais, o senhor construiu um aeroporto no município de Cláudio, a sua família tem uma fazenda a seis quilômetros desse aeroporto e a pista foi construída ao lado de terras do seu tio-avô. O senhor já disse diversas vezes que não houve nenhuma irregularidade nisso, que as terras eram públicas, porque já tinham sido desapropriadas, inclusive a sua família discorda do valor arbitrado para essa desapropriação, contesta esse valor, considera injusto, está na Justiça. O senhor disse também que o aeroporto foi criado pelo senhor para beneficiar a economia da região. E desde que esse assunto surgiu, o único erro que o senhor admite ter cometido, eu vou ler as suas palavras, o senhor disse que ‘viu aquela obra com os olhos da comunidade local e não da forma como a sociedade a veria à distância’. Eu pergunto: mesmo aos olhos da comunidade local, candidato, o senhor considera republicano construir um aeroporto que poderia ser visto como um benefício para a sua família, no mínimo, por valorizar as terras dela?

Aécio Neves: Bonner, eu tenho que agradecer muito a oportunidade que você me dá de tocar nesse tema. Esperava ter essa oportunidade para fazê-lo. O meu governo foi um governo republicano, foi um governo absolutamente transparente. Eu transformei Minas Gerais num estado, Bonner, que tem a melhor educação do Brasil no ensino fundamental, a melhor saúde de toda a Região Sudeste. Nós ligamos num planejamento, aliás, algo em falta hoje no plano federal, todas as cidades mineiras que não tinham asfalto, 225 cidades foram ligadas por asfalto no meu governo. Quatrocentos e cinquenta cidades não tinham telefonia celular, eu fiz a primeira PPP do Brasil e liguei essas cidades ao desenvolvimento através da telefonia celular e fiz um programa chamado ProAero que ligou 29 cidades de um total de 92 aeroportos que existem espalhados por Minas, você sabe que Minas é o estado que tem o maior número de municípios, somos 853, como instrumento do desenvolvimento regional, e, veja bem, nesse caso, especificamente, se houve algum prejudicado foi esse meu tio-avô, porque o estado avaliou aquela área em R$ 1 milhão, ele reivindica na Justiça R$ 9 milhões, não recebeu R$ 1 até hoje. Foi feito assim de forma transparente, absolutamente republicana, e a população daquela localidade sabe a importância desse aeródromo, uma pista asfaltada.

William Bonner: Mas candidato, essa questão produziu muita polêmica porque, imediatamente, levantou-se uma suspeita sobre o benefício a sua família, que o senhor diz não ter havido. E o senhor tem algum tipo de constrangimento ético pelo fato de ter utilizado essa pista quando visitou a fazenda da sua família?

Aécio Neves: Não, não tenho, até porque não sabia que essa pista não estava homologada, aliás essa é uma questão.

 

William Bonner: Perdão, mas não se trata da questão da homologação. A homologação é uma questão burocrática. A minha pergunta é sobre usar um aeroporto que foi construído pelo estado de Minas Gerais para visitar uma fazenda sua. Isso não lhe constrange?

Aécio Neves: Bonner, eu visitei praticamente todos os aeroportos de Minas Gerais, trabalhando como governador do estado e o fato central é esse, que a Anac, porque é muito aparelhada hoje, nós sabemos a origem das indicações da Anac, durante três anos não conseguiu fazer o processo avançar e homologar o aeroporto. Bonner, o meu governo é reconhecido em Minas Gerais como o governo transformador. Eu deixei Minas com 92% de aprovação e é exatamente essa experiência republicana, correta, transparente do meu governo que eu quero implementar no Brasil. Não há nenhum constrangimento, Bonner.

William Bonner: Para fechar essa questão: o que vale mais, uma fazenda com um aeroporto ao lado ou uma fazenda sem um aeroporto ao lado?

Aécio Neves: Olha essa fazenda que você se refere, é uma fazenda que está na minha família há 150 anos, tem lá 14 cabeças de gado. Essa é a grande fazenda. É um sitio que valorizado ou não, Bonner, é um sítio onde a minha família vai, eventualmente, nas férias, ali ninguém está fazendo um negócio. Essa cidade precisava desse aeroporto como todas as outras que tiveram investimentos em Minas Gerais, eu nunca na minha vida inteira fiz nada aquilo que eu não pudesse defender de cabeça erguida. Criou-se em torno desse caso uma celeuma, que você próprio deve estar surpreso agora, é um sítio da nossa parte talvez de 30 alqueires, algo absolutamente familiar, pequeno. Nada a ver com esse aeroporto, até porque nesse local já havia uma pista que eu poderia ter descido numa pista que estava lá há mais de 20 anos.

Patrícia Poeta: Candidato, vamos falar de programas sociais. O senhor tem dito que vai manter alguns dos principais programas sociais do governo atual, como é o caso do Bolsa Família, o ProUni, o Pronatec, o Mais Médicos e também a política de reajuste do salário mínimo. A sensação que dá para muitos eleitores, é que o senhor, sim, aprova o desempenho do PT nessa área, na área social. Por que então esses eleitores iriam querer mudar de presidente?

Aécio Neves: Porque a verdade é essa, Patrícia. Todos percebemos de forma muito clara que o Brasil parou de crescer. Os empregos de boa qualidade deixaram de ser gerados aqui. E até os de baixa qualidade também, segundo os últimos dados oficiais, estão deixando de acontecer. A grande realidade é que administrar, e olha que eu fui um governador razoavelmente exitoso, é transformar, e transformar para melhor as boas experiências. O que é o Bolsa Família, Patrícia? O Bolsa Família é a junção do Bolsa Escola, do Bolsa Alimentação, do Vale Gás, que vieram do governo do presidente Fernando Henrique, e corretamente o presidente Lula os unificou e adensou. Não só vou continuar com o Bolsa Família, como eu quero que, além da privação da renda, as pessoas que o recebem possam ter uma ação do estado, para que outras carências de saneamento, de educação, de segurança, possam também ser sanadas. O Prouni é uma inspiração de uma experiência do governo de Goiás. Todo mundo, de alguma forma, copia e aprimora e ninguém tem que ter vergonha disso. O meu governo, ele vai ser renovador no padrão ético, no padrão moral, em relação a esse governo, e vai ampliar as boas políticas. Mas certamente vai ser um governo que vai resgatar a capacidade de o Brasil crescer.

Patrícia Poeta: O senhor quer manter e aprimorar esses programas sociais.

Aécio Neves: É isso que deve fazer o bom gestor.

Patrícia Poeta: Candidato, como é que o senhor explica o desempenho no campo social de um estado rico como Minas Gerais que, hoje, sustenta o menor Índice de Desenvolvimento Humano de toda a Região Sudeste e ocupa a nona posição no ranking nacional, entre todos os estados brasileiros. Estava em oitava posição anos atrás e agora está em nona posição.

Aécio Neves: Patrícia, estes números têm que ser vistos no seu conjunto. Minas Gerais avançou e avançou muito. Agora Minas tem no nosso território, incrustado no nosso território, o Vale do Jequitinhonha, o norte mineiro, o Mucuri, que é uma região, que, historicamente, tem um IDH menor do que a média do Nordeste. O grande esforço do nosso governo foi reduzir essas diferenças. E fizemos isso. Minas tem hoje a melhor educação fundamental do Brasil, mesmo sendo um estado heterogêneo, e não sendo o mais rico dos estados brasileiros. A melhor saúde de toda Região Sudeste. E é um estado que se desenvolve muito. Qual que é a questão específica? Nós tivemos um momento ruim, de determinadas atividades econômicas nossas, que perderam valor, como minério e o café. Essa sazonalidade existe. Mas Minas é hoje referência, não apenas no Brasil, mas fora do Brasil, pelos organismos internacionais, como Banco Mundial, de um modelo a ser seguido, de um estado com sensibilidade social e com gestão profissional.

William Bonner: O senhor mencionou já duas vezes a saúde em Minas Gerais, o senhor tem dito que é a melhor do Sudeste, a quarta melhor do Brasil. No entanto, os analistas que se debruçaram sobre investimentos públicos na saúde de Minas afirmam que isso foi muito mais resultado de investimentos da União e de municípios do que do estado. O senhor não considera a saúde uma prioridade também de governos estaduais, candidato?

Aécio Neves: Absoluta. O que nós fizemos em Minas, Bonner, é transformador. Qualquer especialista nessa matéria reconhece isso. Eu estive há poucos dias atrás reunido na USP. Com a diretora da USP e outros renomados especialistas em saúde pública. No meio da reunião, vou aqui confidenciar isso, a diretora da USP disse pra mim o seguinte: ‘Aécio, você não tem nada o que aprender conosco aqui sobre saúde pública, não. O que vocês fizeram em Minas foi transformador’. Seja em relação à saúde preventiva, onde nós dobramos os números de equipe do programa Saúde da Família, quanto na qualificação dos hospitais através do Pro-Hosp, na preparação das pessoas. Saúde é prioridade para qualquer governo responsável e será no nosso.

Patrícia Poeta: Candidato, nosso tempo está acabando. Última pergunta. Dos projetos que o senhor tem para o país, quais seriam os prioritários?

Aécio Neves: Na verdade, Patrícia, eu quero governar o Brasil para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento no país, um ciclo que concilie ética com eficiência. Sem dúvida alguma os quadros que nós temos à nossa disposição e a coragem que teremos para fazer o que precisa ser feito é que permitirá que, no nosso governo, o Brasil volte a crescer. Mas eu quero melhorar o Brasil é para a dona Brenda, que eu conheci essa semana, lá nas margens do Rio Negro, no Amazonas, que quer um posto de saúde melhor na sua comunidade. Ou para o seu Severino, lá de Mauriti no Ceará, que espera que as obras do São Francisco possam chegar perto da sua casa, ele já acha que só os seus netos é que verão. Eu quero que a Suelen, lá de Campina Grande, que eu conheci no ano passado, continue vendendo na feira como vendia, não vende mais porque a inflação está aí a perturbar a vida de todos. Eu quero fazer um governo para as pessoas, um governo responsável, corajoso, mas que pense naquele que mais precisa da ação do estado. Por isso, eu, neste instante, peço a você que está nos ouvindo, o voto, o seu apoio para transformarmos de verdade o Brasil. Vocês vão se orgulhar muito disso.

Patrícia Poeta: Obrigada pela sua participação aqui na bancada do Jornal Nacional. Lembrando que amanhã o entrevistado ao vivo aqui no Jornal Nacional será o candidato do PSB, Eduardo Campos.

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ENTREVISTA DE EDUARDO CAMPOS AO JORNAL NACIONAL

Patrícia Poeta: Boa noite, candidato.

Eduardo Campos: Boa noite, Patrícia. Boa noite, Bonner. Boa noite a todos que estão nos assistindo.

Patrícia Poeta: Então o tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidato, vamos começar a entrevista com a lista de alguma promessas que o senhor já fez, eu anotei algumas delas: escola em tempo integral, passe livre para estudantes do ensino público, aumento dos investimentos em saúde para 10% das receitas da União, manutenção do poder de compra do salário mínimo e multiplicar por 10 o orçamento da segurança. Tudo isso significa aumento dos gastos públicos. Mas o senhor também promete baixar a inflação atual para 4% em 2016, chegando até 3% até 2019. E isso, segundo economistas, exige cortar pesadamente gastos públicos. Ou seja, essas promessas se chocam, se batem. Qual delas o senhor não vai cumprir?

Eduardo Campos: Patrícia, na verdade, só há uma promessa, que é melhorar a vida do povo brasileiro. A sociedade brasileira tem apresentado na internet, nas ruas, uma nova pauta, que é a pauta da educação, da melhoria da assistência da saúde, que está um horror no país, a violência que cresce nos quatro cantos do país. Nós temos que dar conta de melhorar a qualidade de vida nas cidades onde a mobilidade também é um grave problema. E tudo isso em quatro anos.  Nós estamos fazendo um programa de governo, ouvindo técnicos, a universidade, gente que já participou de governo. E é possível, sim. Nós estamos fazendo conta, tem orçamento. Eu imagino que muitas vezes as pessoas dizem assim: ‘Houve uma reunião do Copom hoje e aumentou 0,5% os juros’. E ninguém pergunta da onde vem esse dinheiro. E 0,5% na Taxa Selic significa 14 bi. O passe livre, que é um compromisso nosso com os estudantes, custa menos do que isso. Então, nós estamos fazendo contas para, com planejamento, em quatro anos trazer inflação para o centro da meta, fazer o Brasil voltar a crescer, que esse é outro grave problema, o Brasil parou. E o crescimento também vai abrir espaço fiscal. Tudo isso com responsabilidade na condução macroeconômica. Banco Central com independência, Conselho Nacional de Responsabilidade Fiscal, gente séria e competente governando. Fazendo a união dos competentes, dos bons, o Brasil pode ir muito mais longe.

Patrícia Poeta: Agora, candidato, o senhor então está querendo dizer que pretende deixar de gastar aqui, para gastar ali. Mas isso não significa, necessariamente, cortes pesados. Não são cortes. Então, os economistas dizem que para combater a inflação seria necessário isso: cortes severos mesmo. Como é que o senhor pretende fazer isso?

Eduardo Campos: Olha, a inflação não pode ser combatida só com a taxa de juros, como vem sendo feita no país. É preciso ter coordenação entre a política macroeconômica monetária, a política fiscal, mas é preciso também ter regras seguras. As regras que mudam a todo dia no Brasil muitas vezes fazem com que o preço do dinheiro suba, o chamado Custo Brasil. A falta de logística que encarece o produto que vem do mundo rural, da própria indústria, a falta de ferrovia, de rodovia, que o Jornal Nacional mostra tantas vezes aqui, de portos, encarece o país. Então, o Brasil precisa enfrentar a inflação, porque ela está corroendo o salário. As pessoas estão percebendo, quem está nos assistindo tem percebido que o salário não dá para o mês inteiro. Os aposentados, os assalariados, os que vivem por conta própria do seu esforço percebem. O compromisso um com o centro da meta da inflação e a retomada do crescimento.

Patrícia Poeta: Então, o senhor não acha que seria justo dizer para o eleitor que o próximo ano será um ano difícil, duro, com remédios mais amargos?

Eduardo Campos: É, o ano difícil está sendo já esse, Patrícia. Porque a gente vai ter um crescimento de -1%. O Brasil está perdendo…

Patrícia Poeta: Sem aumento da tarifa.

Eduardo Campos: É, o Brasil perdeu de 7 a 1 dentro do campo de futebol, na Copa, e está perdendo também de 7 a 1 fora do campo. Porque é sete de inflação, com a presidenta guardando na gaveta dela, para depois da eleição o aumento da energia e o aumento do combustível, mesmo assim, com menos de um de crescimento.

Patrícia Poeta: Mas vai ser um ano difícil, o próximo ano, candidato?

Eduardo Campos: Eu acho que vai ser um ano que nós vamos terminar melhor do que o ano de 2014. Porque nós vamos enfrentar os problemas. A pior coisa na vida de uma pessoa, de uma família e de um governo é a gente ficar escondendo os problemas e não tendo coragem e humildade de dizer: ‘Ó, estamos com problemas. Vamos resolver o problema?’. Nós estamos com um problema, por exemplo, na questão da energia. Não seria muito melhor dizer: ‘Ó, choveu menos do que deveria, não investimos tanto’. Por que a gente não criar todo um esforço de eficiência energética, como a Europa está fazendo? Premiar quem faz as mesmas coisas, seja na indústria, no comércio, em casa, com menos energia.

William Bonner: Vamos mudar de assunto. O senhor se articulou com o ex-presidente Lula e com partidos políticos para eleger a sua mãe, a então deputada federal Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União. O senhor considera isso ético? Não foi uma forma de nepotismo?

Eduardo Campos: Veja, Bonner, se a nomeação fosse minha, se dependesse da minha nomeação enquanto governador, seria nepotismo, e eu quero te dizer que eu fui o primeiro governador a fazer a lei do nepotismo no estado de Pernambuco. Ela, Ana, era funcionária pública de carreira por concurso da Justiça, elegeu-se deputada por duas vezes, com votações crescentes, fez mandatos respeitáveis. A Câmara foi chamada a eleger um parlamentar para uma vaga no Tribunal de Contas, ela se candidatou, outros deputados se candidataram, como o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo. Ela disputou uma eleição com vários deputados, ela foi a única mulher que ganhou no voto, com a votação muito grande, e foi ser ministra e tem feito um trabalho como ministra do Tribunal de Contas que todos reconhecem como trabalho digno, sério.

William Bonner: Certo, mas o que eu estou colocando em questão não são os méritos da sua mãe, não se trata disso, a questão é: o senhor ter usado o seu prestígio, o seu poder para se empenhar pessoalmente num trabalho de catequese, numa campanha para que um parente seu ocupasse um cargo público e vitalício. O senhor acha que isso foi um bom exemplo para o país?

Eduardo Campos: Olha, na hora que ela saiu candidata com apoio do meu partido, se fosse uma outra pessoa, eu teria apoiado. Por que eu não apoiaria ela que tinha todos os predicados, tanto é que pode registrar a sua candidatura, pode fazer a disputa. Eu nem votei, Bonner, porque eu não era deputado. Eu, simplesmente, torci na hora em que ela se candidatou para que ela ganhasse e ela tem feito um trabalho no Tribunal de Contas que tem o reconhecimento, inclusive, do corpo técnico do Tribunal.

William Bonner: O seu empenho pessoal, o senhor não vê nada de errado no seu empenho pessoal nesta eleição?

Eduardo Campos: Não.

William Bonner: Ok.

Patrícia Poeta: Ainda nesse ponto, candidato, o senhor indicou um primo seu e um primo da sua mulher para trabalhar no TCE, que é o órgão responsável por fiscalizar as contas do estado, quando o senhor era governador de Pernambuco. Como é que fica a isenção nisso?

Eduardo Campos: Na verdade, eles se candidataram na Assembleia Legislativa em vagas que eram próprias da Assembleia Legislativa. Um deles e um outro foi indicado, como ele foi desembargador eleitoral, tinha todos os predicados jurídicos para fazer exatamente esse pleito e foi votado pela Assembleia Legislativa.

Patrícia Poeta: Mas foram indicados pelo senhor?

Eduardo Campos: Não. O Marcos Loreto…

Patrícia Poeta: Para julgar suas contas.

Eduardo Campos: Não, para julgar minhas contas, não. Eles foram indicados para vaga no Tribunal de Contas. Um pela Assembleia Legislativa, não há nenhuma indicação, a vaga era da Assembleia, pessoas podiam se candidatar e ele não estava impedido por lei de se candidatar. E, um outro, que foi indicado na vaga do Executivo respeitando a legislação em vigor.

Patrícia Poeta: Então, o senhor, não vê conflito nisso. Se o senhor fosse eleito presidente hoje, o senhor manteria esse comportamento no governo federal, sem dúvidas?

Eduardo Campos: Não, eu acho que a gente precisa, na verdade, sobretudo agora que vamos ter cinco vagas no Supremo Tribunal Federal, o Brasil precisa fazer uma espécie de comitê de busca, o que é feito para os institutos de pesquisa, juntar notórias, pessoas com notória especialidade e conhecimento para fazer ao lado do presidente a seleção de pessoas que vão para esses lugares vitalícios. Aliás, eu acho que o Brasil deve fazer uma reforma constitucional para acabar com esses cargos vitalícios que ainda existem na Justiça, é preciso ter os mandatos também no Poder Judiciário, coisa que existe em outras nações do mundo, de maneira a oxigenar os tribunais e garantir que esse processo de escolha seja um processo mais impessoal.

William Bonner:  Candidato, o senhor tem procurado apresentar o discurso de um gestor moderno, de um gestor favorável ao empreendedorismo privado, mas o fato é que, logo depois do anúncio da sua aliança com Marina Silva, Marina fez restrições ao agronegócio, que é um setor que tem sustentado a economia brasileira em muitos anos. Como é que o senhor pretende resolver esta contradição dentro da sua chapa?

Eduardo Campos: Olha, com diálogo, Bonner. Mostrando exatamente que Marina não tem nada contra agronegócio ou contra indústria ou contra o desenvolvimento econômico. O que Marina defende e eu defendo também, e a sociedade brasileira quer ver hoje, é que nós temos que ter desenvolvimento com respeito ao meio ambiente e com inclusão. Esse é um conceito que no século passado parecia que disputava: ou se tem desenvolvimento ou se tem respeito à natureza. E, hoje, o mundo todo bota numa equação só, tenta efetivamente conciliar desenvolvimento com proteção da natureza e com inclusão das pessoas mais pobres.

William Bonner:  Claro, candidato. Mas eu acho que eu preciso ser um pouco mais específico sobre a contradição a que eu me referi. Vamos falar da reforma, da votação do Código Florestal. Assunto importantíssimo. Na votação do Código Florestal, o seu partido aprovou, quase que por unanimidade. E o grupo político de Marina Silva teve uma posição rigorosamente oposta. Marina chegou a dizer que o Código Florestal representava um retrocesso de 20 anos. A questão é: como é que o eleitor pode se convencer da coesão da sua chapa, se os dois candidatos têm visões tão opostas, tão antagônicas em relação a esse assunto?

Eduardo Campos: Absolutamente. Nós temos uma visão, uma aliança, que não é feita em cima da minha opinião, da opinião de Marina. Em cima de um programa, de um programa que tem a participação da academia brasileira, de diversos estudiosos, cientistas, militantes do movimento social, que têm nos ajudado a construir um programa, que vai ser lançado nos próximos dias, exatamente para não ter uma coisa de uma aliança pessoal, uma aliança de personalidades, mas uma aliança de pensamentos.

William Bonner: Mas eu apresentei um caso concreto, em que houve posições bem diferentes. Um dos dois lados cedeu em relação a esse assunto para chegar a um consenso?

Eduardo Campos: Neste caso, em particular, eu defendi as posições de Marina. Na nossa bancada, ela rachou, na verdade. Teve muita gente que era ligado a estados onde o agronegócio tinha mais expressão que não votou com a orientação partidária, mas eu defendi a posição que foi representada por Marina.

William Bonner: Só dois votos do seu partido foram contrários.

Eduardo Campos: Exatamente. E eu me coloquei solidário à posição dela.

Patrícia Poeta: Ainda sobre coerência. O senhor e o seu partido foram colaboradores próximos do então presidente Lula. O senhor, inclusive, foi ministro em 2005 do governo dele, exatamente quando o escândalo do Mensalão veio a público e o senhor não deixou o cargo. O senhor só se afastou do governo Dilma quase três anos de um mandato de quatro. Foi no fim do ano passado. O que que o senhor diria aos críticos que afirmam que o senhor abandonou todos esses anos de colaboração a Lula e Dilma pela ambição de ser presidente da República?

Eduardo Campos: Não se trata de ambição. Se trata de um direito, numa democracia qualquer partido pode lançar um candidato, pode divergir.  Porque você apoiou, você não está condenado a apoiar quando você já não acredita, quando você já não vê, não se representa naquele governo.

Patrícia Poeta: Mas o senhor levou quase três anos de um mandato de quatro para sair do governo, para deixar de apoiá-lo, não é tempo demais?

Eduardo Campos: Se você for ver, isso aconteceu antes. Já em 2012, nas eleições de 2012, nós já enfrentamos o PT em várias cidades, inclusive no Recife. Quando a presidenta apoiou o Renan e o PMDB para Câmara, Renan para o Senado, o PSB já apoiou outros candidatos. Nós já vínhamos num processo de afastamento claro do governo. Por quê? Porque esse governo é o único governo que vai entregar o Brasil pior do que recebeu. Nós vamos estar pior na economia, pior na questão da violência, pior na logística, pior na relação externa com o resto do mundo. Ou seja, e aí nós estamos oferecendo um caminho para que o Brasil volte a crescer.

Patrícia Poeta: Mas o senhor apoiou durante mais de 10 anos esse governo. O que que aconteceu neste meio do caminho?

Eduardo Campos: O que aconteceu é que aquilo que foi prometido, que o Brasil ia corrigir os erros e aprofundar as mudanças, não aconteceu. Tantas pessoas que votaram na Dilma e se frustraram, tantas pessoas que estão nos assistindo que viram agora um governo que valoriza no seu centro a velha política, um governo que deixou a inflação voltar, um governo que está fazendo derreter os empregos. Agora, o que o povo quer é alguém que dê solução a isso. E eu e Marina entendemos que para dar solução a isso é fundamental um novo caminho. Porque PSDB e PT há vinte anos governam o país. Se a gente quer chegar a um novo lugar, a gente não pode ir pelos mesmos caminhos.

William Bonner: Candidato, chegou aquele momento em que o senhor agora se dirige ao eleitor para expor aqueles projetos que o senhor consideraria prioritários caso eleito.

Eduardo Campos: Eu queria ter a oportunidade de falar com você de todo Brasil. Eu governei o estado de Pernambuco por duas vezes. Fui reeleito com 83% dos votos e deixei o governo com mais de 90% de aprovação. Governei com pouco, porque governei um estado do Nordeste brasileiro com muita pobreza, e botei o foco naqueles que mais precisam. Então, aprendi a fazer mais com menos. Agora, ao lado da Marina Silva, eu quero representar a sua indignação, o seu sonho, o seu desejo de ter um Brasil melhor. Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa. Para isso, é preciso ter a coragem de mudar, de fazer diferente, de reunir uma agenda. É essa agenda que nos reúne, a agenda da escola em tempo integral para todos os brasileiros, a agenda do passe livre, a agenda de mais recursos para a saúde, a agenda do enfrentamento do crack, da violência…

Patricia Poeta: Ok.

Eduardo Campos:  O Brasil tem jeito. Vamos juntos. Eu peço teu voto.

Patricia Poeta: Acabou o tempo, candidato. Obrigada pela sua participação. Amanhã, a entrevista será com a candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff.

*

ENTREVISTA DE DILMA ROUSSEFF AO JORNAL NACIONAL

William Bonner: Candidata, boa noite.

Dilma Rousseff: Boa noite, Bonner. Boa noite, Patrícia Poeta. Boa noite, telespectadores.

William Bonner: O tempo total da entrevista é de 15 minutos, como foi o dos demais candidatos. E a gente procura reservar um minuto e meio, um minuto no fim, para que o candidato possa expor aqueles projetos que ele considera prioritários para o governo no caso de ser eleito, ou no caso de ser reeleita, no caso de hoje. O tempo começa a contar a partir de agora. Candidata, no seu governo houve uma série de escândalos de corrupção e de desvios éticos. Houve escândalo de corrupção no Ministério da Agricultura, houve escândalo de corrupção no Ministério das Cidades, no Ministério dos Esportes, houve escândalo de corrupção no Ministério da Saúde, no Ministério dos Transportes, houve escândalo de corrupção no Ministério do Turismo, no Ministério do Trabalho. A Petrobras acabou se tornando objeto de duas CPIs no Congresso. A senhora sempre diz que todos esses escândalos foram revelados pela Polícia Federal e estão sendo investigados pela Polícia Federal, que é um órgão do governo federal. A questão que eu lhe faço é a seguinte: qual é a dificuldade de, desde o início, se cercar de pessoas honestas, que lhe permitam formar uma equipe de governo honesta e que evite esta situação que nós vimos de repetidos casos de corrupção? Não há uma sensação, não pode haver uma sensação no ar de que o PT descuida da questão ética ou da questão da corrupção?

Dilma Rousseff: Bonner, não pode, não. Sabe por quê? Porque nós, justamente, fomos aquele governo que mais estruturou os mecanismos de combate à corrupção, à irregularidade e maus feitos. Por exemplo, a Polícia Federal, no meu governo e no do presidente Lula, ganhou imensa autonomia. Para investigar, para descobrir, para prender. Além disso, nós tivemos uma relação muito respeitosa com o Ministério Público. Nenhum procurador-geral da República foi chamado, no meu governo ou no do presidente Lula, de engavetador-geral da República. Por quê? Porque também escolhemos, com absoluta isenção, os procuradores. Outra coisa: fomos nós que criamos a Controladoria-Geral da União, que se transformou num órgão forte e também que investigou e descobriu muitos casos. Terceiro, aliás, eu já estou no quarto. Nós criamos a Lei de Acesso à Informação. Criamos, no governo, um portal da transparência. Mas eu quero te dizer uma coisa: nem todas as denúncias de escândalo, Bonner, resultaram em, realmente, a constatação que a pessoa tinha de ser punida e seria condenada. Pelo contrário. Muitos daqueles que foram identificados como tendo, pela mídia, como tendo praticado atos indevidos, foram posteriormente inocentados. Eu quero te dizer o seguinte, eu nunca…

William Bonner: Correto. Mas, candidata, eu deveria só dizer à senhora o seguinte: a senhora listou aqui uma série de medidas que foram providenciadas depois de ocorridos os escândalos.

Dilma Rousseff: Não. Isso tudo foi antes.

William Bonner: Bom, entre as medidas que a senhora providenciou depois dos escândalos esteve o afastamento de alguns ministros. Em quatro casos, a senhora trocou um ministro por alguém que era do mesmo partido dele e do mesmo grupo político dele. E que frequentava o mesmo círculo. Essa situação, a senhora considera que não foi trocar seis por meia dúzia? A senhora considera que foi uma atitude prudente, como presidente, substituir nessas circunstâncias? Foi uma medida eficaz da sua parte, candidata?

Dilma Rousseff: Eu, continuando o que eu estava dizendo, Bonner, nem todos as pessoas denunciadas foram punidas pelo Judiciário e tiveram comprovadamente culpa. Muitas pessoas, inclusive, se afastaram porque é muito difícil resistir à pressão da família ou à apresentação da pessoa como tendo praticado um crime.

William Bonner: Mas a senhora manteve gente do mesmo grupo político nos casos.

Dilma Rousseff: Agora, na segunda, respondendo a segunda pergunta, por exemplo, recentemente eu fui muito criticada por ter substituído o César Borges pelo Paulo Sérgio. Ora, o Paulo Sérgio foi meu ministro e foi ministro do presidente Lula. Quando saiu do governo, ele ficou dentro do governo no cargo importante, que é da Empresa de Planejamento Logístico. O Cesar Borges o substituiu. Posteriormente, eu troquei o César Borges novamente aí pelo Paulo Sérgio. Fiz a troca ao contrário. O César Borges também ficou dentro do governo, na Secretaria de Portos. Os dois são pessoas que eu escolhi, nas quais eu confio, acho que são pessoas bastante…

William Bonner: Mas não foi exigência do partido, candidata?

Dilma Rousseff: Os partidos podem fazer exigências. Agora, eu só aceito quando eu considero que ambos, e é isso que eu queria concluir, ambos são pessoas íntegras, e não só íntegras, são competentes, têm tradição na área. E são pessoas da minha confiança. Então, eu troquei porque eu tinha confiança nessas pessoas.

William Bonner: Então, me deixa agora perguntar à senhora. E em relação a seu partido? O seu partido teve um grupo de elite de pessoas corruptas, comprovadamente corruptas, eu digo isso porque foram julgadas, condenadas e mandadas para a prisão pela mais alta corte do Judiciário brasileiro. Eram corruptos. E o seu partido tratou esses condenados por corrupção como guerreiros, como vítimas, como pessoas que não mereciam esse tratamento, vítimas de injustiça. A pergunta que eu lhe faço: isso não é ser condescendente com a corrupção, candidata?

Dilma Rousseff: Eu vou te falar uma coisa, Bonner, eu sou presidente da República. Eu não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal, por um motivo muito simples: sabe por que, Bonner? Porque a Constituição ela exige que o presidente da República, como exige dos demais chefes de Poder, que nós respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos.

William Bonner: Então a senhora condena a postura do PT nesse caso?

Dilma Rousseff: Eu não julgo ações do Supremo. Eu tenho as minhas opiniões pessoais.

William Bonner: Mas e a ação do seu partido, a senhora condena essa ação?

Dilma Rousseff: Enquanto eu for presidente, eu não externo opinião a respeito de julgamento do Supremo. E vou te dizer, Bonner, não é a primeira vez que eu respondo isso. Eu, durante o processo inteiro, não manifestei nenhuma opinião sobre o julgamento. Até porque respeito o julgamento.

William Bonner: Mas candidata, a pergunta que eu lhe fiz foi sobre a postura do seu partido. Qual sua posição a respeito da postura do seu partido?

Dilma Rousseff: Eu não vou tomar nenhuma posição que me coloque em confronto, conflito, ou aceitando ou não. Eu respeito a decisão da Suprema Corte brasileira. Isso não é uma questão subjetiva. Para mim exercer o cargo de presidência, eu tenho de fazer isso.

Patrícia Poeta: Corrupção não é o único problema. O seu governo diz que sempre investiu muito na área de saúde. E essa continua sendo exatamente a maior preocupação dos brasileiros, segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha. Isso depois de 12 anos de governos do PT, ou seja, mais de uma década, candidata. Não foi tempo suficiente para colocar esses problemas nos trilhos, não?

Dilma Rousseff: Olha, Patrícia, nós tivemos, e ainda temos muitos problemas a enfrentar e desafios a enfrentar na Saúde. Eu acredito que nós enfrentamos um dos mais graves desafios que há na Saúde. Porque na Saúde você precisa de ter médicos. Pode ter tudo, se não tiver médicos, não tem atendimento à saúde. Também é possível a gente olhar a população e ver nas pesquisas que ela reclama, sempre reclamou, da falta de médicos. Nós tivemos uma atitude muito corajosa. O Brasil tem uma das menores taxas de médicos por mil habitantes, 1,8. E isso levou a uma carência imensa de médicos da atenção básica – são os postos de saúde. É sabido que 80% dos problemas de saúde da população você consegue resolver na atenção básica. Então qual foi a providência que nós tomamos, com muita resistência, mas muita resistência? Nós, primeiro, chamamos médicos brasileiros para atender.  O número? Precisávamos em torno de 14 mil médicos. O número veio insuficiente, não tinha médicos suficientes formados no Brasil com condições de atender. Depois, chamamos médicos, brasileiros ou não, formados no interior individualmente. Na sequência, também não chegou a um número suficiente. Na sequência, chamamos médicos cubanos, através da OPAS, e aí conseguimos chegar a 14.462 médicos, que, pelos dados da OMS, correspondem a uma capacidade de atendimento de 50 milhões de brasileiros.

Patrícia Poeta: Deixa eu fazer só um adendo aqui.

Dilma Rousseff: Cinquenta milhões de brasileiros não tinham atendimento médico, hoje têm. Agora nós estamos em uma segunda etapa.

Patrícia Poeta: Deixa eu só fazer um adendo que eu acho que é importante para os nossos telespectadores.

Dilma Rousseff: Perfeitamente, Patrícia.

Patrícia Poeta: A senhora diria que, então, diante dos nossos telespectadores, que hoje enfrentam filas e filas nos hospitais, muitas vezes são atendidos em macas, que muitas vezes não conseguem fazer um exame de diagnóstico, que a situação da Saúde no nosso país hoje é minimamente razoável, depois de 12 anos?

Dilma Rousseff: Não. Não acho, não acho, até porque, Patrícia, o Brasil precisa também de uma reforma federativa, porque há responsabilidades federais, estaduais e municipais. Nós assumimos, no caso dos Mais Médicos, o atendimento aos postos de saúde como uma responsabilidade basicamente, nós assumimos como federal. Ela é uma responsabilidade compartilhada. Mas assumimos como federal porque temos mais recursos. Agora veja o resto do raciocínio, Patrícia.

William Bonner: Nós vamos falar de economia.

Dilma Rousseff: Não. Vou falar de economia, tenho o maior prazer, Bonner. Veja só qual é a sequência disso. Agora nós consideramos que é muito importante duas coisas: primeira, tratar das especialidades; criar as condições para o Brasil dar atendimento de especialidades, que são aquelas que nós sabemos – o ortopedista, o ginecologista, o cardiologista –,  com exames mais rápidos. Assim como nós enfrentamos…

William Bonner: Candidata, desculpe a senhora disse…

Dilma Rousseff:  E resolvemos o problema dos 14 milhões, aliás dos 50 milhões de brasileiros e dos 14 mil médicos, hoje nós temos já condição de resolver isso, porque diminuímos a pressão, porque todo mundo que não era atendido num posto de saúde ia para uma UPA ou para um hospital.

William Bonner: Nós entendemos. Entendemos. Vamos à economia.

Patrícia Poeta: É que a colocação, candidata, era 12 anos, 12 anos de governos, três mandatos. Mas o Bonner quer falar sobre economia.

William Bonner: Vamos falar de economia porque é um tema importantíssimo.

Dilma Rousseff: Nestes três mandatos, a gente teve, não vamos esquecer, teve o Samu, que atende 149 milhões de brasileiros, e que não existia.

William Bonner: A senhora já respondeu à Patrícia que não, não é minimamente razoável. A senhora disse isso.  Então, vamos em frente.

Dilma Rousseff: Eu acho que nós temos que melhorar a saúde, não tenho dúvida disso. Nenhuma.

William Bonner: Vamos em frente: economia. A inflação, neste momento, a inflação anual está no teto daquela meta estabelecida pelo governo, está em 6,5%. A economia encolheu 1,2% no segundo trimestre desse ano e tem uma projeção de crescimento baixíssima para esse ano, menor do que 1%. O superávit do primeiro semestre desse ano foi o pior dos últimos 14 anos. Quando a senhora é confrontada com estes números ruins, a senhora diz que eles são produto, são resultado de uma crise internacional, aliás, a senhora diz até que eles nem são tão ruins assim, porque a senhora lembra o caso das demissões de milhões na Europa e o fato de o Brasil ter hoje uma situação, praticamente, de pleno emprego. Aí quando os analistas dizem que 2015, ano que vem, vai ser um ano difícil, um ano de acertos de casa, que é preciso arrumar a economia brasileira e portanto isso vai impor algum sacrifício, vai ser um ano duro, a senhora diz que isso é pessimismo. E aí eu lhe pergunto: a senhora considera justo ora, olhando para os números da economia, ora culpar o pessimismo, ora culpar a crise internacional pelos problemas? O seu governo não tem nenhum papel, nenhuma responsabilidade nos resultados que estão aí?

Dilma Rousseff: Bonner, primeiro, nós enfrentamos a crise, pela primeira vez no Brasil, não desempregando, não arrochando os salários, não aumentando os tributos, pelo contrário, diminuímos, reduzimos e desoneramos a folha. Reduzimos a incidência de tributos sobre a cesta básica. Nós enfrentamos a crise, também, sem demitir. Qual era o padrão anterior…

William Bonner: Mas o resultado, no momento, é muito ruim, candidata.

Dilma Rousseff: Não, o resultado no momento, veja bem…

William Bonner: Inflação alta, indústrias com estoques elevados, ameaça de desemprego ali na frente.

Dilma Rousseff: Veja bem, Bonner. Eu não sei, eu não sei da onde que estão seus dados, mas nós estamos…

William Bonner: Da indústria, candidata.

Dilma Rousseff: Só um pouquinho. Nós temos duas coisas acontecendo. Nós temos uma melhoria prevista no segundo semestre. Vou te dizer por quê. Primeiro.

William Bonner: Isso não é ser otimista em contrapartida ao pessimismo que a senhora critica?

Dilma Rousseff: Não. Não. Você sabe, Bonner, tem uma coisa em economia que chama os índices antecedentes e os índices que evidenciam como é que é a situação atual.  O que que são os índices antecedentes, por exemplo? A quantidade de papelão que é comprada, a quantidade de energia elétrica consumida, a quantidade de carros que são vendidos. Todos esses índices indicam uma recuperação no segundo semestre, vis-à-vis ao primeiro. Além disso, a inflação, Bonner, cai desde abril, e agora, ela atinge, hoje, se você não olhar pelo retrovisor e olhar pelo que está acontecendo hoje, ela atinge 0%. Zero. O último dado do IPC-S que saiu, se não me engano hoje ou ontem, chegou a 0,08%. O que eu estou dizendo, é o seguinte, o Brasil…

William Bonner: Candidata, nosso tempo…

Patrícia Poeta: O tempo está acabando, candidata.

Dilma Rousseff: Acabou?

William Bonner: É.

Dilma Rousseff: Desculpa.

William Bonner: É que nós temos… Eu quero garantir a senhora o seu tempo de 1 minuto e meio.

Dilma Rousseff: O meu 1 minuto?

William Bonner: Exato.

Patrícia Poeta: Que agora já diminuiu.

William Bonner: Os seus projetos prioritários.

Dilma Rousseff: Eu só estou querendo dizer que, pra mim, nós estamos superando a dificuldade de enfrentar uma crise sem demitir, gerando emprego e renda.

William Bonner: Seus projetos prioritários.

Dilma Rousseff: Olha, Bonner, eu fui eleita para dar continuidade aos avanços do governo Lula. Ao mesmo tempo nós preparamos o Brasil para um novo ciclo de crescimento. O Brasil moderno, mais inclusivo, mais produtivo, mais competitivo. Nós criamos as condições para o país dar um salto, colocando a educação no centro de tudo. E isso significa, Bonner, que nós queremos continuar a ser um país de classe média. Cada vez maior a participação da classe média, mais oportunidades para todos.

William Bonner: O tempo, 15 minutos e meio.

Patrícia Poeta: Para concluir candidata, nosso tempo já esgotou.

Dilma Rousseff: Queria concluir dizendo o seguinte: eu acredito no Brasil. Acho que, mais do que nunca, todos nós precisamos acreditar no Brasil e diminuir o pessimismo. E…

Patrícia Poeta: OK, obrigada candidata.

Dilma Rousseff: E peço o voto dos telespectadores e…

William Bonner: E nós agradecemos a compreensão. A compreensão por ter que interromper.

Dilma Rousseff: Peço o voto para o Brasil continuar avançando. Também compreendo e suspendo a minha fala.

Patrícia Poeta: Nós temos que encerrar.

Dilma Rousseff: Muito obrigado.

William Bonner: Eu que agradeço a sua presença no Jornal Nacional.

*

ENTREVISTA DO “PASTOR” EVERALDO AO JORNAL NACIONAL

Patrícia Poeta: Boa noite, candidato.

Pastor Everaldo: Boa noite. Boa noite, William Bonner. Boa noite, você que está aí nos assistindo e nos vendo.

Patrícia Poeta: Muito bem. O tempo então começa a ser cronometrado a partir de agora. Candidato, o senhor nunca foi vereador, nunca foi deputado estadual, nunca foi deputado federal, nem senador. O maior cargo público que o senhor já ocupou foi subsecretário estadual. O Brasil já elegeu candidato sem nenhuma experiência executiva e também já elegeu candidato sem nenhuma experiência parlamentar. Agora, alguém sem uma coisa nem outra, nunca. Por que que o senhor acha que o eleitor iria acreditar que o senhor tem credenciais para ocupar a Presidência da República?

Pastor Everaldo: Patrícia, Bonner, você que está em casa, eu acredito que uma pessoa como eu, com a minha experiência de vida, que nasci na favela do Acari, fui camelô na feira e aos 12, 13 anos, servente de pedreiro. E depois, aos 14 anos, fiz um concurso público, fui office boy do Instituto de Resseguros do Brasil e pude estudar numa escola pública de qualidade. Fiz, me formei, fui para a faculdade e depois passei para a iniciativa privada, montei a minha empresa e sou um profissional, um empreendedor brasileiro, sou um vencedor. Deus me ajudou e eu, então, venci na vida. Então, tive minha experiência como subsecretário, como presidente do Rioprevidência e milito na vida política desde 1981. Então, acredito que estou preparado, cada dia. Eu sou um constante aprendiz. Então, cada dia estou preparado para esta missão, que o partido me determinou que eu assumisse.

Patrícia Poeta: Pois é, candidato. A gente está falando de um país com 200 milhões de habitantes, com problemas sociais e econômicos. Não seriam problemas complexos demais para um principiante? Não se trata, aí, de uma aventura?

Pastor Everaldo: Eu acredito o seguinte: que eu aprendi, na minha vida, a trabalhar em equipe. Então, quando eu… Eu fui servente de pedreiro. Então, quando eu preciso pintar uma parede, eu chamo um pintor que entende. Então, vamos dizer, eu acredito o seguinte: o líder, ele tem que saber o que o Brasil está precisando e trazer os melhores quadros. Eu acredito, desta forma, que é possível governar com os melhores quadros deste país, independente do partido político. Então, eu acredito que, com a liderança, você trazendo uma liderança para o Brasil, e dando um exemplo e trazendo os melhores quadros técnicos que nós temos no Brasil é suficiente para nós governarmos este país.

Patrícia Poeta: Mas esta inexperiência então não lhe assusta?

Pastor Everaldo: Nem um pouco. Sou uma pessoa que acredito em equipe.

Patrícia Poeta: Não seria voluntarismo isso?

Pastor Everaldo: Não, não. Eu acredito em equipe. Dentro da vida pública, eu fui subsecretário do Gabinete Civil, fui presidente do Rioprevidência e montei equipe. Então, é a mesma coisa na iniciativa privada. Eu trabalho na iniciativa privada desde 14 anos. Quer dizer, 17 anos eu saí do Instituto de Resseguros do Brasil e fui para o mercado segurador. Então, eu acredito que a diferença do estado para uma iniciativa privada é só que o estado hoje não trabalha com meritocracia. E eu vou empreender isso aí no governo.

Patrícia Poeta: Com todo respeito à sua biografia, então qualquer um poderia hoje ser presidente da República, em outras palavras?

Pastor Everaldo: Eu acredito. Eu acredito que qualquer pessoa que se disponha a ser presidente da República e acredita que trabalha, ninguém faz nada sozinho. Só se trabalha em equipe. Eu acredito desta maneira.

William Bonner: Candidato, ao longo da sua história, o senhor foi aliado de Leonel Brizola, de Luiz Inácio Lula da Silva, mais recentemente da presidente Dilma Rousseff. Todos eles têm raízes no trabalhismo. Todos eles, de alguma maneira, têm lá suas simpatias ideológicas ou pelo socialismo ou, no mínimo, pela social-democracia. Sempre defenderam uma presença forte do estado, uma intervenção, uma regulação do estado na economia. Curiosamente, o seu programa de governo prega exatamente o oposto, defende o oposto, né? O senhor defende uma espécie de liberalismo clássico. O estado mínimo, uma redução… A maior redução possível da presença do estado, da regulação da economia. O senhor fala em flexibilização de leis trabalhistas, o senhor fala também em fim absoluto de protecionismo. Pergunto: essa sua defesa do liberalismo é uma defesa sincera ou é uma conveniência eleitoral?

Pastor Everaldo: William, eu, é… O discurso da esquerda, eu que vim de uma família humilde, de uma comunidade pobre, sempre me cativou. Principalmente o governador Leonel Brizola era uma pessoa afeita à educação. Eu, como já falei aqui, tive condições de ter uma escola pública de qualidade. Então, para mim, foi importante a escola pública. Então a educação, para mim, era muito importante. E como a proposta era inserção social, eu que nasci no Rio de Janeiro, na favela do Acari, menino pobre, família rica da graça de Deus, mas de recurso era pobre. Então, para mim, essa proposta era uma proposta interessante. E acreditei o tempo todo que ela era a melhor. Mas no último governo da atual presidente, eu vi que foi estabelecido um aparelhamento do Estado. O Estado se agigantou de tal maneira que realmente contrariava os princípios que eu acredito do empreendedorismo, da iniciativa privada. Então, vamos dizer, está hoje o governo está sufocando, o governo quer tomar conta de tudo. Então, vamos dizer, eu sempre acreditei porque eu venci na vida com mérito, com a meritocracia, com o trabalho. Então, eu não dependi do Estado para mim vencer na vida.

William Bonner: Mas candidato, retomando o que o senhor disse, a sua vida pública começou em 1981.

Pastor Everaldo: Vida política, 81. A vida pública foi…

William Bonner: A sua vida política, claro. Desde 1981, o senhor esteve alinhado com Brizola, com Lula e, só agora, questão de cinco meses, o seu partido deixou de ser um partido que faz parte da base aliada do governo Dilma. O seu partido deixou de ser da base aliada, mas não foi… Mas ele não foi para a oposição, ele se tornou um partido independente do governo. Ou seja, o senhor levou 30 anos comungando de um discurso mais esquerdizante, mais à esquerda. A pergunta que eu lhe faço, a sua convicção pelo liberalismo, ela é tão recente assim, tem cinco meses?

Pastor Everaldo: Não. Janeiro de 2011, quando este governo que está aí assumiu, 25 de janeiro o partido reunido resolveu que teria candidatura própria. No dia 11 de junho de 2012, a revista Época publicou que o PSC não acharia 2014, mas que teria candidatura própria.

William Bonner: Então, é recente.

Pastor Everaldo: Não. Então, vamos dizer: desde janeiro quando nós vimos que o governo que agravou a presença do Estado na economia, nós resolvemos que não ficaríamos mais.

William Bonner: Isso não foi desde do começo do governo Dilma e mesmo no governo Lula, candidato, essa situação?

Pastor Everaldo: Nós acreditávamos, como milhões de brasileiros, que a proposta colocada era melhor, mas hoje você vê nas últimas pesquisas mais de 70% da população brasileira quer mudança. Então, nós acreditávamos que era o melhor e verificamos logo no início do governo que não era o melhor para o Brasil.

William Bonner: A sua ideologia, então, mudou recentemente?

Pastor Everaldo: Não, a minha ideologia sempre foi a mesma. Sempre foi a mesma, eu sempre quis o empreendedorismo.

William Bonner: Você não vê essa contradição em relação ao seu alinhamento no passado?

Pastor Everaldo: Não, não vejo. Eu sempre pensei desta maneira, porque a minha vida é desta maneira. Eu sempre fui uma pessoa que trabalhei, nunca vivi. Eu estive no governo de 99, três anos; depois oito meses no outro, Rioprevidência, e saí do Estado, porque eu acredito no empreendedorismo.

Patrícia Poeta: Vamos falar de 2010. Na eleição de 2010 o senhor apoiava o então candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, mas na última hora o seu partido recebeu uma doação de quase R$ 5 milhões do PT para a campanha, legalmente. O senhor passou então a apoiar Dilma Rousseff. Esse foi o preço do seu apoio, quase R$ 5 milhões?

Pastor Everaldo: Nós estávamos conversando, metade do partido queria apoiar José Serra e metade queria apoiar o PT, presidente Dilma. Quando o PMDB se aliou, nós fazíamos bloco com o PMDB na Câmara dos Deputados, quando o PMDB se aliou, aí nós fomos ali. 30 de junho foi quando nós fizemos a aliança, baseada em princípios que nós colocamos para o PT, para a presidente Dilma, que nós defendemos, a vida, defendemos a família, da maneira que colocamos esses princípios. 30 de junho. E se você verificar, foram dez partidos da coligação. Quando chegou em 22 de setembro, na reta final da campanha, é que foram feitos essas doações legais, transparentes, para custo de campanha, de material que foi feito. Então, vamos dizer, nós fizemos uma aliança em 30 de junho, e só na reta final do primeiro turno é que foi feito as doações, não só para o PSC.

Patrícia Poeta: Quase R$ 5 milhões.

Pastor Everaldo: Quatro milhões, setecentos e cinquenta, inclusive para todos os partidos, que era para fazer material para a campanha da reta, da majoritária, quando tem campanha, tem prefeito, é para o prefeito, quando é governador, é para o governador e quando é para presidente, é para presidente. Foi despesa para a campanha para presidente da República.

Patrícia Poeta: Foi uma espécie de toma-lá-dá-cá?

Pastor Everaldo: Não, não foi. Não foi, porque a aliança foi feita em 30 de junho e esses repasses só foram feitos em 22 de setembro.

Patrícia Poeta: Por que eu lhe pergunto isso candidato? Porque há registros de que o senhor teria reclamado que o PC do B tinha um deputado a menos e que ocupava, comandava o Ministério do Esporte e a Agência Nacional do Petróleo no governo Dilma, enquanto que o seu partido não tinha cargo nenhum. O senhor considera isso um toma-lá-dá-cá, diante dos quase R$ 5 milhões e também esse registro?

Pastor Everaldo: Olha, nós quando fizemos o acordo para fazer a coligação, nós defendemos os princípios que nós acreditamos, e o governo chama as pessoas que ajudaram para compor o governo e nós tínhamos um número maior, elegemos mais do que o PC do B conforme você citou, então…

Patrícia Poeta: O senhor esperava então um lugar, um espaço no governo?

Pastor Everaldo: Nós, natural, esperávamos um espaço no governo.

Patrícia Poeta: Ficou decepcionado?

Pastor Everaldo: Não. Não ficamos decepcionados. Não. Nós ficamos é…

Patrícia Poeta: Mas isso é um toma-lá-dá-cá.

Pastor Everaldo: Não acredito que seja. Não é, não é um toma-lá-dá-cá. Nós ficamos decepcionados pela maneira que foi formado o governo, que foi, contrariou os nossos princípios que o PSC defende. Nós defendemos a vida do ser humano, desde a sua concepção. Defendemos a família como está na Constituição brasileira.  E vimos que a maneira que foi montado contrariava esses princípios, isso que nos decepcionou.

William Bonner: Candidato, este país que o senhor quer fazer ele exige uma série de mudanças de natureza legal, na estrutura legal do país. Muitas destas mudanças, inclusive, na Constituição, o que não é coisa fácil de se conseguir. Isso eu estou me baseando naquilo que está contido no seu programa de governo. Só que em 2010, o seu partido elegeu 17 deputados federais…

Pastor Everaldo: E um senador.

William Bonner: Um senador. Governador, nenhum. O senhor acredita mesmo que tem base política para conseguir o apoio necessário no Congresso Nacional para realizar todas essas mudanças que o senhor está propondo?

Pastor Everaldo: O meu exemplo de governo é de Itamar Franco. Ele assumiu numa situação difícil do país e chamou todas as forças políticas, todos os representantes no Congresso e apresentou, com transparência, a sua proposta para a população brasileira, que foi um plano da estabilidade econômica do país. E todos não puderam negar. Então eu acredito que quando você levar para a população, com transparência, o que você quer fazer, o Congresso Nacional jamais vai negar o apoio para qualquer presidente.

William Bonner: Candidato, no mundo real as concessões que o senhor será obrigado a fazer para obter o apoio necessário para realizar essas mudanças todas, essas concessões vão descaracterizar completamente as suas propostas, candidato. O senhor sabe disso.

Pastor Everaldo: Olha, eu tenho, eu falei que vou fazer um corte na carne. Eu defendo um estado mínimo, vou reduzir o número de ministérios de 39 para 20. Vou passar para iniciativa privada todas as empresas que hoje são foco de corrupção. Botar os recursos…

William Bonner: É uma privatização em massa? Todas elas?

Pastor Everaldo: Privatização, privatização. Tudo que for possível.

William Bonner: Petrobras, inclusive?

Pastor Everaldo: Eu vou te antecipar então a notícia aqui. Eu vou privatizar a Petrobras. A Petrobras hoje, uma empresa que foi orgulho nacional, hoje é um foco de corrupção e uma dívida astronômica de mais de R$ 300 bilhões. Então, eu vou privatizar.

William Bonner: E o Banco do Brasil?

Pastor Everaldo: O petróleo é nosso. Mas a Petrobras hoje não é nossa.

William Bonner: O senhor vai privatizar a Petrobras. O senhor vai privatizar o Banco do Brasil também?

Pastor Everaldo: O Banco do Brasil e a Caixa Econômica representam a segurança do sistema financeiro. Então, não vamos mexer no Banco do Brasil, nem Caixa Econômica.

William Bonner: Essas empresas, Petrobras. A Petrobras, por exemplo, é uma empresa de capital misto.

Pastor Everaldo: BR Distribuidora, Infraero… Tudo que for possível passar para iniciativa privada, nós vamos passar, pegar os recursos e alocar na Saúde, na Educação e na Segurança Pública.

William Bonner: Muito bem.

Patrícia Poeta: Falando de mudanças e promessas… Te interrompi, Bonner?

William Bonner: Não, não.

Patrícia Poeta: Falando de mudanças e promessas, o senhor promete melhorar os serviços públicos, a Saúde, a Educação, o Transporte, ampliar a assistência aos mais pobres e também investir maciçamente na polícia e nas Forças Armadas. Mas em nenhum momento do seu plano de governo o senhor diz quanto vai investir e de onde vai tirar esse dinheiro. Não são promessas vazias, sem consistência?

Pastor Everaldo: À medida que eu transfiro…

Patrícia Poeta: Vai vir do patrimônio público? Desculpa te interromper…

Pastor Everaldo: À medida que eu transfiro para a iniciativa privada essas empresas hoje que dão rombo e que tem que tirar dinheiro do Tesouro para cobrir o rombo delas, então já diminui essa transferência de recursos e sobra dinheiro do seu imposto, do meu imposto para aplicar tanto na Educação quanto na Saúde.

William Bonner: Candidato, chegamos àquele momento que o senhor passa a ter direito a se dirigir ao seu eleitor para destacar os projetos que o senhor considera prioritários caso seja eleito.

Pastor Everaldo: Minha irmã, meu irmão brasileiro. Eu reafirmo meu compromisso em defesa da vida, do ser humano desde a sua concepção.  Eu defendo a família como está na Constituição brasileira. Nós somos um país democrático e respeito a todas as pessoas, mas casamento para mim é homem e mulher.  Sou contra a legalização das drogas. Vou criar o Ministério da Segurança Pública. Para quê? Hoje o cidadão de bem está preso dentro de casa e o bandido está solto na rua. Vou inverter essa lógica e botar ordem na casa. A partir, brasileiro, trabalhador brasileiro, a partir de 1º de janeiro de 2015, todo trabalhador que ganhe até R$ 5 mil por mês estará isento do Imposto de Renda na fonte. Eu defendo que é mais Brasil e menos Brasília na vida do cidadão brasileiro. Deus abençoe a você, Deus abençoe a sua família, Deus abençoe o nosso querido Brasil.

Patrícia Poeta: Obrigada, candidato.

William Bonner: Muito obrigado candidato pela sua presença, pelos seus esclarecimentos.