Folha de SP acusava Marina de misturar governo com religião

Reportagem

 

Uma das maiores preocupações que envolvem a possível eleição de Marina Silva como presidente da República reside nas crenças religiosas da candidata. Não por acalentar tais crenças, mas por muitos acreditarem que, uma vez no poder, poderia misturá-las com a administração pública.

Recentemente, o doutor Rógério Cezar de Cerqueira Leite, de 83 anos, físico, professor emérito da Unicamp, membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial do Jornal Folha de São Paulo, teve artigo publicado nesse jornal. No texto, manifesta preocupação com o fundamentalismo religioso da ora candidata a presidente da República.

“Não me sinto confortável em ter como presidente uma pessoa que acredita que o universo foi criado em sete dias há apenas 4 mil anos”, disse o acadêmico no artigo “Desvendando Marina”, em 31 de agosto, na seção Tendências/Debates daquele jornal.

Abaixo, o artigo de Cerqueira Leite

O artigo de Cerqueira Leite gerou respostas furiosas de aliados de Marina naquele jornal. Inclusive do jornalista Edson Barbosa, um dos coordenadores do setor de comunicação da campanha de Marina.

Em artigo publicado no último dia 3 no mesmo espaço em que Cerqueira Leite manifestou sua preocupação com o fundamentalismo religioso de uma mulher que ameaça eleger-se presidente da República, Barbosa afirmou que “Marina não é fundamentalista”.

Antes de prosseguir, vale explicar que o Artigo 19 da Constituição Federal reza que “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los (…) ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança”.

Continuando. O jornal em questão, após desistir da candidatura de Aécio Neves, passou a apoiar a de Marina. Por conta disso, tal qual seu ídolo maior, Fernando Henrique Cardoso, a Folha espera que, hoje, esqueçamos o que escreveu tantas vezes – inclusive em editorial – sobre o fundamentalismo religioso de Marina.

A candidata do “povo de Deus”, como tem sido chamada por “líderes religiosos” como o “pastor” Silas Malafaia – quem, com quatro tuites, fez a candidata verde (ou seria laranja?) humilhar os homossexuais ao abandonar a criminalização da homofobia –, nem sempre foi tão bem-vista pela Folha.

Em editorial publicado poucos meses antes de maio de 2008, quando a então ministra do Meio Ambiente pediu para sair do governo Lula – mas só após comunicar a saída antes à imprensa –, o jornal Folha de São Paulo via na hoje candidata “verde” (ou laranja) “graves e complexos problemas”.

Abaixo, editorial da Folha de 20 de janeiro de 2008, intitulado “Criacionismo, não”

Como, à época, Marina pertencia ao governo Lula, não desfrutava da moleza que a Folha lhe dá hoje ao endossar sua acusação criminosa de que está sendo “difamada” por Lula e Dilma Rousseff por “ser negra e pobre”. Assim sendo, a Folha denunciava inclusive violações da Constituição que ela praticava no governo ao misturar a pasta do Meio Ambiente com religião.

Três dias após criticar Marina em editorial, a Folha publicou a reportagem “Pastor usa pasta para organizar evento religioso”.

Abaixo, a reportagem.

Na verdade, o que aconteceu no ministério que Marina pilotava aos trancos e barrancos – onde tinha reiteradas crises de personalismo e vitimização quando não conseguia do então presidente Lula o que queria – foi violação da lei.

Prossigamos. Em maio de 2008, quando o mundo estava às portas da maior crise econômica da história, Marina pediu para sair. Só que, para tanto, montou um espetáculo – provavelmente, visando a candidatura a presidente que levaria a cabo dois anos depois.

Abaixo, matéria da mesma Folha sobre a saída de Marina da pasta do Meio Ambiente. O texto informava que ela avisou a imprensa de seu pedido de demissão antes mesmo de avisar o então presidente da República.

Anos mais tarde, porém, Lula revelou a verdadeira razão da saída de Marina de seu governo. A imprensa já anunciava que a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fora indicada por Lula ao PT para ser candidata à sua sucessão. Marina esperava que fosse ela mesma e, assim, armou um espetáculo em torno de sua saída do governo.

A partir dali, as críticas a Marina sumiram da grande imprensa. Sobretudo quanto aos “problemas graves e complexos” que a Folha, em editorial – ou seja, no espaço em que a família Frias manifesta sua opinião sem dissimular –, enxergava naquela que, hoje, defende furiosamente contra Dilma Rousseff.