As delícias de ser governo e oposição ao mesmo tempo

Opinião do blog

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A escolha do ministério de Dilma Rousseff vem rendendo críticas duras a ela e até a quem não a critica. Uma parte dessas críticas sugere que alguns, como este que escreve, apoiariam a presidente de modo mais decidido por terem algum interesse pessoal.

Duas pesquisas recentes, porém, mostram que, ao menos para blogueiros, pichar o governo Dilma e sua titular é melhor porque rende muito mais curtidas e retuítes nas redes sociais do que defender.

Pesquisa Datafolha de setembro sobre a corrida presidencial em primeiro turno mostrou que quanto mais alta a classe social menor era, naquele momento, o apoio a Dilma e ao seu governo, ocorrendo o inverso conforme se fosse descendo a pirâmide social.

 

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Como se vê, em setembro deste ano 52% dos eleitores de classe média alta apoiavam algum candidato de oposição e 36%, a candidata da situação. Já na classe média intermediária, 49% votavam na oposição e 35%, no governo. Por fim, na classe média baixa 44% apoiavam Marina ou Aécio e 40%, Dilma.

Como Dilma venceu a eleição? As classes D e E – que o Datafolha chamou de “excluídos” e que ainda são expressivas no país –, aliadas à classe média baixa – que é maioria –, deram conta de formar uma maioria mais tênue a favor de Dilma do que em 2010, mas, ainda assim, uma maioria. E ela se reelegeu.

Já uma outra pesquisa, ainda mais recente – divulgada em dezembro –, mostra que as classes sociais mais altas são maioria na internet. E o que é pior – ou melhor, para alguns: as classes mais baixas, que apoiam mais Dilma, em GRANDE parte nem acessam a rede.

A pesquisa em questão foi feita pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a Secom. Trata-se da Pesquisa Brasileira de Mídia 2015.

Um trecho dessa pesquisa esclarece meu ponto de vista:

“(…) Os dados mostram que 65% dos jovens com até 25 anos acessam internet todos os dias. Entre os que têm acima de 65 anos, esse percentual cai para 4%. Entre os entrevistados com renda familiar mensal de até um salário mínimo (R$ 724), a proporção dos que acessam a internet pelo menos uma vez por semana é de 20%. Quando a renda familiar é superior a cinco salários mínimos (R$ 3.620 ou mais), a proporção sobe para 76%. Por sua vez, o recorte por escolaridade mostra que 87% dos respondentes com ensino superior acessam a internet pelo menos uma vez por semana, enquanto apenas 8% dos entrevistados que estudaram até 4ª série o fazem com a mesma frequência. (…)”

Como se vê, essa pesquisa mostra que o público mais jovem também acessa muito mais a internet do que o público mais maduro. Convém ao entendimento do texto guardar esses dados para relembrá-los mais adiante.

Vai ficando claro, pois, que criticar Dilma por qualquer coisa é conduta tão popular entre a classe média – sobretudo a do Sul e do Sudeste – que até o setor dessa classe que votou na reeleição há míseros dois meses não deixa de pagar um pedagiozinho ao antipetismo jovem das classes sociais mais altas – um antipetismo que pode ser de esquerda ou de direita.

Apesar da indignação, este blogueiro já se acostumou a ser qualificado como “apoiador incondicional” do governo Dilma – tanto pela direita quanto pela esquerda. Essa pecha que sugere um interesse qualquer que não o interesse público.

De fato, apoio o PT de forma decidida. E não é de hoje. Apoio os candidatos a presidente petistas desde 1989, quando o partido começou a pregar a construção de um mercado de consumo de massas. E, após a chegada de Lula ao poder, venho apoiando os governos petistas de forma igualmente decidida.

Para o bem ou para o mal, sou um homem que se compromete com as suas escolhas, apesar de se comprometer assim não ser fácil. É muito mais fácil não se comprometer tanto, de forma a não ser muito identificado com eventuais fracassos do alvo do comprometimento.

Não apoio “incondicionalmente” Dilma, Lula ou o PT; apoio enquanto os governos petistas continuarem promovendo aquilo que julgo o mais importante em termos de políticas públicas hoje no país.

O que é mais importante em termos de políticas públicas hoje no país? Promover distribuição de renda.

Nesse contexto, quero abordar reportagem publicada recentemente pela insuspeita revista Exame, da editora Abril. O título: “Nordeste cresce mais que o Brasil e ganha poder econômico”.

Apesar de pertencer ao mesmo grupo da revista Veja, a Exame é uma revista de negócios e o tom da matéria, expresso em chamadas do texto como “A hora é agora”, aponta oportunidades de negócios na região que historicamente puxa para baixo os índices sociais do país.

A matéria mostra o por que de meu apoio dito “incondicional” ao governo Dilma: enquanto governos do PT continuarem mantendo o Brasil nesse caminho, terão meu apoio. E não é por bondade, mas porque acho que sem distribuição de renda este país não irá a lugar algum.

Confira, abaixo, matéria da irmã da revista Veja que resume minhas razões para manter decididamente escolha que eu mesmo fiz há escassos dois meses e que não irá mudar por conta do nome de um ou outro novo ministro – o post contém um último comentário após a matéria abaixo.

 

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Eis por que apoio o governo Dilma. E não será escolha de ministros dos partidos da coligação pela qual a presidente se reelegeu que me fará deixar de apoiá-la.

Dilma Rousseff reelegeu-se presidente pela coligação partidária “Com a Força do Povo”, que congregou PT, PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB e PRB. Quem votou em Dilma sem saber disso, votou mal.

Quem conhecia os partidos da coligação de Dilma e que, em grande parte, apoiaram o governo Lula, não tem por que se enfezar com ministros saídos desses partidos. É legítimo que tenham influência na formação do governo. É assim em todos os governos desde sempre.

É cômodo apoiar Dilma, pero no mucho. Sobretudo para quem quer agradar o público jovem e mais rico, mais refratário ao atual governo. Porém, este blog não foi criado para oferecer comodidade ao seu autor, mas para viabilizar sua luta por um país mais justo.