Por que a Folha denunciou que Alckmin paga por ataques ao PT?

Opinião do blog

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Confesso que a notícia de que um ex-assessor de Marta Suplicy e Soninha Francine vem sendo bancado pelo governo Geraldo Alckmin há anos me produziu um misto de indignação e desalento. A indignação tem razão óbvia, mas o desalento vai ter que ser melhor explicado.

Este Blog cumpre 10 anos em agosto deste ano. Nesse período, a partir daqui estabeleci um ativismo político e informativo que todos conhecem.

Neste Blog surgiu a ONG Movimento dos Sem Mídia, que promoveu atos públicos e fez representações ao Ministério Público, à Procuradoria Geral Eleitoral e à Polícia Federal contra abusos dos grandes meios de comunicação.

No campo jornalístico, aqui foram feitas reportagens de campo, entrevistas com importantes figuras públicas como Lula e Dilma Rousseff, com juristas como Dalmo de Abreu Dallari e até com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

Manter esta página no ar tem custo de hospedagem relativamente alto – cerca de mil reais por mês. As matérias jornalísticas custam dinheiro – telefonemas, deslocamentos etc. Isso sem falar no tempo gasto com um trabalho que não dá lucro e, no frigir dos ovos, dá despesas.

Leitores colaboram espontaneamente com está página, mas nunca pedi doações. Porém, como alguns ofereceram, aceitei. Contudo, as doações são insuficientes. Assim mesmo, eu me viro.

Por que o desalento? Explico.

Eis que chega 18 de abril de 2015. Como faço todos os dias, nas primeiras horas do alvorecer passeio pela blogosfera, pelos portais de internet e pelos jornais. Quando chego à Folha de São Paulo, vejo matéria – com chamada na primeira página – que me surpreende.

A matéria dá conta de que um blogueiro que atua anonimamente na internet há anos, atacando sem parar o PT, Dilma Rousseff, Lula e até quem, como este blogueiro, simpatiza com eles, montou uma empresa de “assessoria digital” que recebe do governo Geraldo Alckmin, mensalmente, uma pequena fortuna. São setenta mil reais por mês.

Leia, abaixo, a matéria da Folha de São Paulo de 18 de abril de 2015.

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O que é pior é que esse blogueiro vive acusando blogueiros simpáticos ao PT de serem “pagos” para dizer o que dizem. Inclusive, já me acusou disso. É um dos blogueiros anônimos que vive me espinafrando.

Ano passado, por exemplo, o tal Implicante acusou a mim e à Revista Fórum de sermos “pagos pelo governo” por causa de veiculação de banner da prefeitura de Guarulhos que continua inclusive no alto desta página de graça porque não tenho o que pôr no Lugar e, para o espaço não ficar vazio, vai ficando aí até que eu faça uma reforma no visual do Blog, proximamente.

Detalhe: a prefeitura de Guarulhos me fez dois pagamentos de R$ 4.640 em 2014, pela veiculação dos banners. Há mais um par de veiculações, mas o dinheiro não sai – e eu nunca cobrei. E desde janeiro não houve mais nenhuma campanha, apesar de o banner estar aí.

O que revolta é que este Blog está para cumprir 10 anos de existência e tudo que recebeu de dinheiro público nesse período foi pouco mais de nove mil reais, e nem foi do governo federal. Enquanto isso, o tal “implicante” recebeu, entre 2013 e 2015, cerca de um milhão e meio de reais.

Nesse post em que me acusou de ser pago pelo governo, o tal Fernando Gouveia/Gravataí Merengue escreveu:

“(…) Fica cada vez mais difícil acreditar na independência de qualquer um que seja custeado por banner de prefeituras petistas. Independência que há muito tempo já vem se mostrando frágil

Pelo visto, o problema de Gouveia/Merengue é com uns trocados de prefeituras petistas, mas não tem problema com fortunas pagas pelo governo do Estado.

Mas o tal “implicante” sempre foi pródigo em fazer acusações a blogueiros que têm publicidade oficial. Há dezenas de relatos por aí.  O que este post quer entender é por que a Folha publicou essa matéria – e por que só agora.

Na edição desse jornal de domingo último não se viu nenhuma carta de leitor, nenhum texto opinativo versando sobre sua matéria de capa inédita que, no dia anterior, revelou como é hipócrita a acusação da grande mídia contra blogues que têm publicidade oficial assim como qualquer jornal, qualquer site da imprensa tradicional.

Não é estranho? Será que houve muita chiadeira do PSDB?

Vale explicar, também, a grande diferença da publicidade oficial que alguns blogueiros de esquerda têm para o contrato de Gouveia/Merengue com o governo do Estado: a publicidade oficial é transparente; o banner fica lá, no site, e qualquer um sabe da relação comercial entre aquela página e quem anuncia nela.

No caso do “implicante”, não. É evidente que ele não poderia receber 70 mil reais por mês por um banner, até porque seu site – que, em uma confissão de culpa, foi tirado do ar por seu autor, após a denúncia da Folha – tem uma visitação muito menor do que a que têm os blogs e sites que ele costuma acusar.

A única coisa que o tal “implicante” tem que reúne um grande público é uma página no Facebook com cerca de 470 mil seguidores.

Porém, como se sabe, qualquer um pode conseguir muitos seguidores para sua página no Facebook simplesmente “promovendo-a”, ou seja, pagando àquela rede social para que a divulgue, o que custa um bom dinheiro.

Mas, ganhando 70 mil por mês, por certo Gouveia/Merengue não teve dificuldade para pagar.

O correto seria a Assembleia Legislativa de São Paulo abrir uma CPI para investigar quantos desses anônimos que têm páginas na internet para atacar petistas recebem do governo do Estado de forma obscura como essa.

Por que obscura? Ora, porque com publicidade oficial fica clara a relação comercial entre uma administração pública ou uma empresa estatal e um veículo de comunicação, enquanto que contratos de “assessoria” como o do tal Gouveia/Merengue ficam escondidos – só se tornam conhecidos se alguém denunciar.

Há vários outros suspeitos de estarem sendo financiados com dinheiro público para esguicharem antipetismo na internet. Há outros sites/blogs anônimos que cresceram muito e que não têm publicidade oficial estampada.

Será que só o “implicante” é financiado pelo governo Alckmin de forma velada?

É óbvio que Alckmin, com a maioria avassaladora que tem na Assembleia Legislativa de São Paulo, não irá permitir que esse e outros casos similares sejam investigados, mas esse episódio serviu, pelo menos, para mostrar como o PSDB é hipócrita ao acusar blogueiros que têm contratos de publicidade claros e transparentes com administrações petistas ou empresas estatais.

Apesar de a mídia “denunciar” há anos que blogueiros simpáticos ao governo – alguns deles, não tão simpáticos assim – têm o que todos podem ver meramente acessando essas páginas, nunca houve qualquer sanção a essa prática porque não há o que discutir.

Os blogueiros que têm publicidade oficial têm audiência condizente para receber essa publicidade – se não fosse assim, ela seria suspensa.

E, além disso, são pouquíssimos os blogueiros que têm publicidade oficial, apesar de a blogosfera de esquerda ser imensa, reunindo centenas de Blogs. Isso porque os critérios das administrações petistas para anunciar em um blog são severos. Só tendo muita audiência para conseguir.

Fica, portanto, uma questão no ar: por que a Folha fez essa denúncia?

De fato, foi uma surpresa descobrir que Alckmin financia um site que espalha antipetismo de baixo nível, já que tem toda a grande mídia para fazer o serviço. Contudo, o crescimento exponencial dessas páginas antipetistas começa a chamar atenção.

Ilustres desconhecidos passaram a formar “comunidades” com centenas de milhares de pessoas através de um instrumento que cobra caro para promover páginas na internet – o Facebook. Por certo, novas denúncias surgirão.

A Folha pode ter denunciado esse caso para ganhar credibilidade em ofensiva contra a blogosfera progressista? Pode. Mas pode, também, estar querendo aproveitar o nicho de mercado que há para veículo que queira fazer jornalismo sem viés político-partidário.

Seja como for, a perplexidade que decorreu de a Folha ter feito essa denúncia após anos acusando – injustamente – blogueiros de um lado só, mostra que, pelo menos até aqui, esse jornal, como tantos outros, vinha fazendo mau jornalismo. Por que mudou tanto?