JN mente: Lula não teve opção que cooperados da Bancoop não tiveram

Reportagem

triplex

 

Na noite da última terça-feira (2/2), o Jornal Nacional voltou à carga contra o ex-presidente Lula com a historinha do “triplex” no Guarujá. E a “arma” que o telejornal usou desta vez revela que, ao contrário do que sua matéria tentou fazer parecer, não há nada de novo nesse caso, daí o uso de um “coringa” que há anos está sempre de plantão quando querem acusar o PT.

Antes de mostrar a “capivara” do pistoleiro usado pelo JN, porém, vale uma reflexão. A partir daqui, vou relatar, de forma bastante simples e didática, explicações que me foram passadas pelo Instituto Lula. É impressionante como é simples ver que está havendo uma grande armação.

Para começar a entender a enorme farsa que construíram contra Lula com a finalidade de desgastá-lo políticamente, basta refletir de forma isenta. Essa reflexão levaria qualquer um a se perguntar se é cabível imaginar que ele se corromperia a troco de um imóvel que poderia ter comprado à vista dando meia dúzia de palestras.

Aliás, o caso envolvendo o apartamento no Guarujá não tem pé nem cabeça. Lula não comprou “triplex” algum. Sua esposa pagou parcelas a uma cooperativa, a Bancoop, que iria construir um condomínio. Essas parcelas davam direito a um apartamento comum, de três dormitórios.

Em meados da década passada, essa cooperativa de bancários sofreu um desfalque de três diretores, que faleceram juntos em um acidente aéreo. Após a morte deles, a Bancoop descobriu o que haviam feito e tratou de se compor com os cooperados.

Fez um acordo com o Ministério Público para repassar a empreiteiras tradicionais as obras que não estava conseguindo terminar.
O que Lula tem que ver com isso? Nada. Aliás, ele é uma das vítimas de um empreendimento que fracassou por várias razões.

Um dos edifícios da Bancoop repassados à empreiteira OAS para que concluísse a obra é o Solaris, no Guarujá. Assim que passou o empreendimento à OAS, a Bancoop enviou carta aos cooperados do Residencial Mar Cantábrico – atual Edifício Solaris. Isso ocorreu no dia 11 de novembro de 2009.

A carta que o casal Lula também recebeu dizia que quem quisesse desistir do empreendimento deveria assinar o documento de desligamento até o dia 20 de novembro daquele ano indo à sede da Bancoop. Em seguida, de posse desse documento de desligamento, deveria comparecer ao escritório contratado pela OAS.

Dona Marisa, esposa de Lula, que é a pessoa que firmou contrato com a Bancoop, perdeu esse prazo, até por conta de que, à época, era mulher do presidente da República, levando uma vida de incontáveis viagens e compromissos pelo Brasil e pelo mundo.

A cota comprada por Marisa da Bancoop lhe dava direito ao apartamento 141 daquele empreendimento imobiliário, não ao “triplex”, de número 164-A. Nunca houve um único documento que comprovasse que a esposa de Lula iria comprar o apartamento de três pisos.

Em 2014, porém, o jornal O Globo descobriu que o presidente da empreiteira OAS convidou o casal Lula e Marisa para conhecerem a cobertura de três pisos que a empreiteira estava reformando.

Ora, trata-se de um dos homens públicos mais famosos do mundo, um ex-presidente da República. Por que estranhar que o presidente da empreiteira tenha atuado como “corretor” convidando uma personalidade como Lula para conhecer um imóvel mais caro e melhor em um empreendimento no qual essa personalidade já tinha uma participação ainda indefinida?

A reportagem do Jornal Nacional que você vai assistir a seguir recorre a um conhecido inimigo do PT que vem servindo de instrumento ao PSDB há anos. O recurso do telejornal da Globo a esse indivíduo revela que o PSDB orientou a reportagem que você assistirá abaixo.

Como se vê, o sujeito repisa a tese de que Lula e Marisa teriam sido beneficiados por terem mantido o direito de desistir da aquisição do imóvel mesmo tendo perdido o prazo para tanto, que foi em novembro de 2009.

A família do ex-presidente investiu R$ 179.650,80 na aquisição de uma cota da Bancoop. Em setembro de 2009, esse investimento, corrigido, era equivalente a R$ 209.119,73. Em valores de hoje, R$ 286.479,32.

É mentira do tal Marcos Sergio Migliaccio, o “coringa” do PSDB – como será demonstrado mais adiante -, que o casal Lula tenha sido beneficiado com uma “terceira opção”. Segundo o Instituto Lula, o fato de dona Marisa ter pedido o ressarcimento dos quase 300 mil reais (em valores atualizados) que pagou à Bancoop até 2009 não significa que a OAS vá lhe devolver o dinheiro.

Por que, leitor, a mídia, o PSDB e o Ministério Público de São Paulo (aquele que esquece em gavetas processos contra o governo tucano do Estado) usam o pistoleiro que o Blog vai lhe apresentar a seguir? Por falta do que dizer, pois nenhum desses entes tem uma mísera prova de que Lula tenha adquirido esse “triplex” ou mesmo que dona Marisa tenha sido beneficiada por uma “terceira opção” que não foi dada a outros cooperados da Bancoop.

Sabe por que, leitor? Porque a OAS nunca respondeu se aceitaria devolver o que dona Marisa pagou após ela perder o prazo para aderir ou desistir à mudança de titularidade do empreendimento do atual edifício Solaris.
É simples assim.

Esse processo do “triplex” no Garujá é formado de vento, de suposições, de ilações que jamais serão comprovadas. Daí o uso de Marcus Sergio Migliaccio, que nunca foi cooperado da Bancoop, apesar de a reportagem do JN dizer isso.
A cooperada é a mãe dele: Doroti Poli Massolini. A unidade da mãe fica no Edifício Cachoeira (Parque Mandaqui). Foi entregue em julho de 2003. Ela pagou todas as parcelas referentes ao valor estimado, mas nenhuma das referentes ao rateio de apuração final.

Por conta disso, a unidade dessa cooperada foi indicada para penhora por um juiz, para pagamento de ações trabalhistas.

Marcos Migliaccio é um antigo desafeto do PT. Isso porque foi alvo de um Inquérito Policial (158/2007) aberto pela Bancoop junto à 4ª Delegacia de Delitos Cometidos por Meio Eletrônico por difamação.

Descobriu-se que a linha telefônica conectada ao computador do qual partiu a mensagem estava em nome de Eduardo Migliaccio, irmão de Marcos Migliaccio. Ambos prestaram depoimentos. Eduardo afirmou que a linha era utilizada por seu irmão. Esse disse que o computador era utilizado por diversos cooperados da Bancoop, quando os mesmos se reuniam em sua casa e não tem como informar qual deles enviou a mensagem difamatória.

Porém, dali em diante esse indivíduo se tornou o pistoleiro de plantão do PSDB contra o PT ou contra qualquer coisa que tenha ligação com o PT.
Marcos Migliaccio tem inúmeras atuações sempre na mesma linha e sempre sendo usado por tucanos de São Paulo como os deputados Silvio Torres e Vanderlei Marcis, ambos do PSDB de São Paulo.

O uso desse “coringa” tucano revela que o PSDB direcionou a reportagem do JN e que a tão portentosa investigação do promotor Cassio Conserino contra Lula só contém vento, nada além de vento.

Aliás, o insuspeito (de ser petista) colunista da Folha de São Paulo Elio Gaspari escreveu na edição do jornal desta quarta-feira 3 uma história que mostra como é velho o método de difamação política que está sendo usado contra Lula.

Gaspari resgata ataque idêntico sofrido pelo hoje cultuado ex-presidente Juscelino Kubitschek. Vale ler um trecho da crônica de Gaspari.

O símbolo da ‘ladroeira’ [nos anos 1950/1960] era um apartamento no edifício Ciamar (Avenida Vieira Souto, 206, o mesmo onde viveria Caetano Veloso).

Como chefe do Gabinete Militar da Presidência e secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional, [o ex-ditador Ernesto] Geisel [antes de virar presidente, no anos 1960] acompanhara o inquérito que investigou o caso do apartamento [do ex-presidente Juscelino Kubitschek].

As acusações eram duras. Sem concorrência, JK entregara a construção de uma ponte unindo o Brasil ao Paraguai a um consórcio de empreiteiras (Sotege-Rabello). Os empreiteiros seriam responsáveis pela construção do edifício Ciamar e também por benfeitorias feitas num terreno que o governo paraguaio doara a Juscelino na região de Foz do Iguaçu.

Quem passava pela Vieira Souto e via “o apartamento do Juscelino” decidia que JK era corrupto e seu governo, uma “ladroeira consumada”. Afinal, fora substituído por um político que fez da vassoura o símbolo de sua campanha. O ex-presidente foi proscrito por uma ditadura que tinha como objetivo afastá-lo da sucessão presidencial de 1965. A corrupção era um pretexto.

O eixo empreiteira-apartamento-presidente ressurgiu com as conexões em que se meteu Lula. O tríplex do edifício de Guarujá reencarna o da Vieira Souto e Nosso Guia, como JK, pode ser candidato à Presidência.

Para quem não gosta dele, como para quem não gostava de Juscelino, não há o que discutir: é a “ladroeira consumada”. Felizmente, a ditadura se foi e restabeleceu-se o Estado de Direito. Nele, acusação não é prova e a condenação depende do respeito ao devido processo legal.

O tríplex de Guarujá está sendo tratado de forma semelhante ao apartamento de JK. Um promotor de São Paulo acredita que já juntou provas para comprovar a malfeitoria de Lula. O núcleo de investigadores da Lava Jato, menos espetaculoso, vem buscando a conexão da maracutaia a partir da lavanderia de dinheiro de uma offshore panamenha. Tomara que feche o círculo.

Metamorfose ambulante, Lula diz que não é dono do tríplex e que desistiu dele em novembro passado. Também não tem nada a ver com o sítio de Atibaia. Acredita quem quiser. Certezas, cada um pode ter as suas; sentenças, só a Justiça produz.

O papel do Ministério Público e do Judiciário é o de trabalhar em cima de provas, porque se essa porteira for aberta, não se derretem apenas os direitos de pessoas metidas em “ladroeiras consumadas”, derretem-se os direitos de todos.

O edifício Ciamar foi rebatizado e hoje se chama JK”

A história fez justiça a JK. Também fará a Lula. Mas, como alerta Gaspari, “Certezas, cada um pode ter as suas; sentenças, só a Justiça produz”. E “se essa porteira [do pisoteamento da presunção da inocência] for aberta, não se derretem apenas os direitos de pessoas metidas em ladroeiras consumadas”, derretem-se os direitos de todos.

Inclusive o seu, leitor.