Brasil está sendo esmagado por uma ditadura da maioria

Análise

ditadura

 

A principal característica das democracias é preservar os direitos da minoria. A maioria vence e governa, mas a minoria torna-se quase sagrada, intocável, para que os poderes de Estado não sejam usados contra os perdedores de uma eleição, pois todos podem ser perdedores, cedo ou tarde.

O pacto social inerente à democracia garante que os ocupantes eventuais do poder não abusem dele. Quando isso acontece, o pacto democrático deixa de existir e instaura-se uma ditadura.

É o que está acontecendo no Brasil. Apesar de haver eleições, a democracia brasileira já não funciona porque o poder dos vencedores está sendo usado para massacrar os perdedores de votações, de processos constitucionais que, ao ser vencidos por esse grupo que ascendeu ao poder, estão sendo usados até para encarcerar derrotados.

É o caso de um Antonio Palocci, de um José Dirceu, de um Vaccari Neto ou mesmo de um Lula, caso consigam prendê-lo – o que requereria disposição para levar a ditadura mais longe e mais fundo.

Palocci, Vaccari e Dirceu, septuagenários ou quase, podem ficar presos até morrer a depender da pena que receberem.

Há casos como o de Marcelo Odebrecht, que, quando for condenado definitivamente, já terá cumprido a maior parte da pena.

Para Lula, prisão como a desses supracitados não serve. Não daria para prenderem-no antes da condenação. É um ex-presidente, dono de enorme poder político. Porém, a perspectiva é a de tocarem o processo até poderem condená-lo ao cárcere.

Aí entra a nova jurisprudência determinada pelo Supremo no sentido de que começarão a ocorrer prisões a partir de condenações em segunda instância. O tempo certinho para as eleições de 2018.

Tudo isso está sendo possível graças a uma fórmula estarrecedora. Na verdade, a maioria absoluta da sociedade brasileira optou por condescender com tal arbítrio sem sequer suspeitar de que quando direitos são violados sistematicamente nunca se sabe com certeza quem será a próxima vítima…

Maiorias, porém, formam-se e dissolvem-se como bolhas de sabão. Essa maioria que está aí e que condescendeu com todo esse horror político-jurídico-institucional tem a consistência de uma bolha de sabão. Ao primeiro vento se dissolve. Mas enquanto isso não ocorre os estragos vão se avolumando.

Não se enganem, meus caros. Os senhores dessa imagem no alto da página não são os mocinhos, são os bandidos. Eles prendem alguns dos supostos bandidos a mando de outros supostos bandidos. Prendem supostos corruptos petistas a mando de supostos corruptos tucanos e peemedebês.

Prendem Palocci e deixam Eduardo Cunha soltinho da Silva.

A ditadura da maioria é a mais perigosa que se pode conceber. O PT poderia ter usado essa estratégia, montado esquemas para esmagar adversários, mas preferiu acreditar na democracia, no Estado de Direito.

Foi um erro?

Foi “republicanismo”?

À luz dos fatos atuais é lícito supor que sim, foi um erro. Para isso, Lula e o PT teriam que saber que se não esmagassem seus adversários eles tentariam esmagá-los. Mas aí se pressupõe uma sociedade em conflito permanente, mas um conflito violento, de aniquilação.

É essa a sociedade que queremos? Evidentemente que, se as coisas continuarem assim, um dia, lá na frente, esquerdista que chegar ao poder com muita força política tratará de esmagar seus inimigos com rapidez e violência para que não sofra o mesmo que Lula, Dirceu, Palocci, Vaccari etc.

E terá que dormir com um olho aberto e o outro fechado, assim como os golpistas que, não contentes em tomar o poder na marra, ainda querem continuar perseguindo os derrotados, até destruí-los completamente.

A história mostra, porém, que todo vencedor que não se contenta com a vitória e busca esmagar opositores derrotados, sempre termina sendo vítima dos próprios instintos belicistas. E que ser magnânimo e humilde na vitória e altivo e destemido na derrota são os pressupostos dos fortes e dos sábios.