Lava Jato só prova que no Brasil a lei não é para todos

Opinião do blog

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E aí, comemorou muito as prisões de Garotinho e Cabral? Gostou, né? Afinal, pouca coisa é mais verossímil que a culpabilidade desses dois. E com corrupto é assim mesmo, tem que esculachar – você só pede bala na testa pra bandido pobre, pra rico você quer humilhação pública. Você pode curtir mais.

Afinal, não tem graça a polícia levar o bandido para trás da viatura e dar um teco na cabeça dele. Você não tem tempo de saciar seu sadismo. Que graça tem torturar bandido pobre? Esse aí já nasce ferrado e não dá chiliques engraçados como o do Garotinho.

Aliás, soube que um radialista que eu achava que respeitava desejou muito sofrimento para a família do ex-governador, daqui pra frente. Como essa pessoa não disse sequer que se referia à parte dessa família que também seria culpada de corrupção, o que parece é que o sádico em tela quer que as pessoas sofram simplesmente por nutrirem sentimentos favoráveis a Garotinho.

Que tipo de pessoa formula uma ideia como essa?

Antes de prosseguir, quero deixar claro que acho que Garotinho e Cabral têm altíssima probabilidade de ser culpados de corrupção. Contudo, o que eu acho ou mesmo o que um juiz de primeira, segunda, milésima instância acha não vale nem o que o gato enterra. O que vale é a prova de que eu ou o mais importante operador de Direito estejamos certos.

Sim, sim, é chato, mas para tratar os dois políticos cariocas como eles foram tratados é preciso aquela coisinha inconveniente que gente inconveniente teima em pedir: a tal da prova. Desculpe o incômodo, caro sociopata.

Aliás, nem com todas as provas do mundo se deve tratar assim quem é preso, do bandido mais pé-de-chinelo ao mais perigoso.

Mas, agora, peço que se controle – e que, se for o caso, vá tomar um banho frio para amainar essa ereção que se alevantou em seu colo ao ver pessoas sofrendo. Depois volte aqui para terminarmos essa conversa.

Enquanto os tarados de ultradireita se acalmam, vamos refletir.

Quando vi as cenas patéticas de Garotinho e Cabral presos, o primeiro pensamento que me ocorreu foi o de que eles devem ser culpados, sim. Mas o segundo pensamento foi:

— E daí se eles forem mesmo culpados? Isso dá direito aos que tentam lhes provar a culpa de seviciarem-nos física, moral e psicologicamente?

Ora, deveria estar fora de discussão que Garotinho tem razão quando diz que, por ser ex-secretário de Segurança, a possibilidade de ser morto em um lugar como Bangu é imensa.

Eis que surge a pergunta: mas por que, diabos, não levam esse homem para Curitiba? Lá ele estaria a salvo da vingança de gente que prendeu. Aliás, nenhum país sério coloca alguém que prendeu bandidos junto com quem essa pessoa prendeu. Isso é assassinato.

Está claro, evidente, cristalino como água que Garotinho foi vítima de vingança. É um péssimo político, um homem público de vida turva e que quando teve poder nas mãos não foi clemente com os mais fracos como pede que sejam consigo.

O problema, porém, é que eu não sou igual a Garotinho. Não é porque ele era injusto que eu serei também.

O homem nem foi julgado e já está cumprindo pena…

E o que a Globo fez com a imagem dele fez mal a muita gente que o despreza como homem público, mas que não pode desprezá-lo como pessoa, como ser humano, como membro da mesma espécie.

E Cabral? Esse foi até pior que Garotinho. Foi inclemente com muitos e, mais do que previsivelmente, roubou muito. Só que ainda tem direito a ser julgado antes da punição. Mas a divulgação para a imprensa daquela foto dele de frente e de perfil foi um abuso, uma pena antecipada.

Se para prenderem ex-governadores cometem abusos como esses, o que não farão com você se algum dia for alvo de uma injustiça?

Ah, você nunca irá preso porque nunca fez nada errado? E de onde você tirou a ideia de que a Justiça não comete injustiças? Inventou isso agora ou alguém incutiu essa merda na sua cabeça?

Desde que o mundo é mundo que até os melhores sistemas de justiça cometem erros. Que dizer de um sistema viciado, corrompido e que obedece a critérios políticos e não à lei?

Quando vejo Moro, Dallagnol e cia. com aquele ar de superioridade sobre o resto da espécie e achando que estão fazendo alguma coisa de bom pelo Brasil, sinto asco. Só o que a Lava Jato está fazendo é comprovando o que sempre se soube neste país, que a lei não é igual para todos.

A montagem fotográfica no alto da página já diz tudo. Ao lado do suplício de Garotinho e Cabral, o sorridente Eduardo Azeredo, contra quem há uma imensidão de provas documentais e materiais de crimes sórdidos. Há quase vinte anos espera julgamento e a Justiça finge que ele não existe.

Mas se fosse só ele, não seria nada. O PSDB inteiro está nessa situação. Porque só petistas e quem a eles se aliou oferecem riscos à investigação da Lava Jato?  Tantos outros tucanos foram citados e nada acontece. É óbvio que estão acima da lei. E regimes em que há pessoas acima da lei são conhecidos como ditaduras.

Só pode discordar da premissa acima quem acha que a Justiça não deve ser igual para todos. E quem pensa assim não merece nem atenção, quanto mais resposta.