Comparar Lula com Aécio e Temer é estelionato intelectual

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O que desencadeou estas considerações foi um colunista da Folha de São Paulo chamado Hélio Schwartsman. Ele escreveu um texto perigoso porque confunde as pessoas com um simplismo que é melhor chamado de estelionato intelectual.

Alguns poderão perguntar que importância tem esse colunista. Respondo: nenhuma. Poucos são os articulistas que têm importância individualmente. Porém, a tese desse sujeito não é só dele e está confundindo a cabeça de algumas pessoas.

Vamos ao texto.

É doloroso ver esse colunista confundir a cabeça das pessoas misturando acusações frívolas do MPF contra Lula com acusações totalmente comprovadas contra Aécio Neves e Michel Temer.

Contra Temer e Aécio há uma imensidão de provas materiais (áudios, vídeos, documentos) e, contra Lula, não há nada além de acusações de gente que passaria o resto da vida na cadeia se não o acusasse. E que não apresenta uma só prova das acusações que faz.

Vale, portanto, ver o que há contra cada um desses três. Para tanto, o Blog da Cidadania faz um apanhado de várias matérias de vários veículos sobre os três casos.

Provas contra Temer

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou Michel Temer ao Supremo Tribunal Federal (STF) em junho pelo crime de corrupção passiva. A acusação se baseou em uma investigação contra o peemedebista decorrente da delação de executivos da empresa JBS.

Alvo do mesmo inquérito, Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado e ex-assessor especial de Temer, foi denunciado por Janot também por corrupção passiva.

É a primeira vez que um presidente da República é denunciado à Corte no exercício do mandato. Confira em anexo a denúncia na íntegra e abaixo quais foram as provas apresentadas pela PGR:

Gravações de áudio

Dentre os elementos de prova entregues ao Ministério Público Federal (MPF), as mais contundentes são gravações ambientais em áudio feitas pelo delator e empresário da empresa JBS Joesley Batista. São quatro gravações, sendo que todas as conversas foram registradas em março – uma delas diretamente com Temer na residência do presidente, o Palácio do Jaburu.

A primeira gravação, datada em 6 de março, foi um mero encontro entre Batista e Loures para agendar um encontro entre o empresário e Temer. No dia seguinte, por volta das 22h40, de acordo com um roteiro previamente determinado, Batista foi recebido por Temer no Palácio do Jaburu, sem precisar se identificar na entrada.

Na conversa, Batista mencionou ao presidente que estava tratando dos interesses do Grupo JBS com Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, e Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, mas que perdeu contato com eles devido às investigações da Operação Lava Jato.

Temer então indicou Loures como interlocutor. “Pode passar por meio dele, viu? […] da minha mais estrita confiança”, disse o presidente. O empresário e Temer ainda combinaram manter, caso houvesse necessidade, a prática de encontros noturnos e sem registros oficiais no Palácio do Jaburu.

Edição dos áudios

A acusação da PGR garante que o áudio das gravações não sofreu edição. Temer havia insinuado que o áudio possa ter sido manipulado. A Polícia Federal divulgou o laudo de uma perícia realizada pelo Instituto Nacional de Criminalística, que garantiu a plenitude das gravações.

Mala com R$ 500 mil

Loures foi filmado pela Polícia Federal com uma mala contendo R$ 500 mil. O dinheiro foi entregue por Ricardo Saud, executivo da JBS e indicado por Batista para efetuar a transação.

Na conversa entre Saud e Loures, o executivo condiciona o montante do pagamento ao porte do PDL (Preço de Liquidação das Diferenças), valor fixado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em R$/MWh, para a comercialização da energia.

“Abaixo de 300 é zero. Agora, acima, entre 300 e 400, são R$ 500 mil por semana. E acima de 400 é R$ 1 milhão por semana”, disse Saud – promessa que poderia somar R$ 38 milhões.

O acordo era para um ano, mas Loures já vislumbrou a continuação da relação: “A lógica do ano que vem será a mesma lógica de agora.” Saud reagiu: “Você acha que consegue? Esse negócio é uma aposentadoria […]. Nessa semana, está certo.” Quatro dias depois, em 28 de abril, Loures recebeu então uma mala com R$ 500 mil.

Provas contra Aécio

As evidências entregues ao Supremo dificultam a vida de Aécio. O material captado mostra um Aécio que fala ao telefone enquanto Joesley o aguarda para uma reunião no Hotel Unique, em São Paulo.

Aécio desliga o celular, oferece um vinho e elogia a forma física do convidado. Não economiza nos palavrões. No primeiro minuto de conversa, Aécio dispara “cara….” cinco vezes e “filha da…” e “porra” uma vez cada um. Usa os termos de baixo calão em defesa do interlocutor e para atacar a Polícia Federal, que semanas antes deflagrara a Operação Carne Fraca contra a maior empresa de carnes do mundo:

Aécio não para nas críticas ao trabalho da PF. Critica Temer e o presidente do Senado, Eunício Oliveira, do PMDB do Ceará, por não atuarem firmemente contra a Lava Jato. Fala em ideias para atrapalhar as investigações e aprovar projetos capazes de reduzir suas consequências.

Mais adiante, chega ao que, de fato, interessa. Sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava Jato, pede R$ 2 milhões ao empresário. A gravação é uma das quatro que Joesley entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) no processo de negociação de sua delação premiada. Pode se tornar o epitáfio político de Aécio.

A conversa tem cerca de 30 minutos. Ao ceder ao pedido do senador, o empresário trata de cuidar dos detalhes práticos: “Se for você pegar [o dinheiro] em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança”, diz Joesley.

Aécio responde com descaramento que chocaria até o mais corrupto dos políticos. “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu.”

Fred, no caso, é primo de Aécio. Nomeado pelo senador, Frederico Pacheco de Medeiros foi diretor da Cemig e um dos coordenadores de sua campanha à Presidência em 2014.

Nas semanas seguintes, a PF acompanhou os movimentos de Fred numa ação controlada, autorizada pela Justiça. As imagens e áudios captados durante seus encontros com Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F e indicado por Joesley para a entrega do dinheiro, não deixam dúvidas.

Saud repassou a Fred o total de R$ 2 milhões acordados na reunião no Unique. Foram quatro remessas de R$ 500 mil cada.

As entregas contam com episódios pitorescos. Na segunda reunião na sede da J&F, o dinheiro já está separado numa sala para ser levado pelo emissário de Aécio. São pilhas e pilhas de notas de R$ 50. Ao abrir a bolsa para acomodar o montante, Fred se dá conta de que o volume de papel não cabe ali.

No encontro seguinte, Saud trata de providenciar notas de R$ 100 para evitar o constrangimento. As fotos da chegada de Fred, das malas e do repasse estão no relatório da PF.

Um dos diálogos gravados aponta a preocupação de Fred em circular com tanto dinheiro vivo. “E quando o cara me parar: ‘Que dinheiro é esse? O cara me pergunta numa blitz e eu digo que é meu? É uma foda”, diz.

Na sequência, Fred trama um plano. Diz a Saud que fará um contrato de compra e venda de uma sala que possui para ter sempre à mão um documento que justifique os valores. Aécio não explica no vídeo por que seu primo foi buscar o dinheiro em espécie para pagar advogados. Se se tratava de um empréstimo, o mais rápido, seguro e dentro da lei seria uma transferência bancária.

As imagens coletadas pela PF mostram que o dinheiro não foi repassado a nenhum advogado – desmentem, portanto, a intenção de Aécio de usá-lo para acertar suas pendengas jurídicas na Lava Jato.

As filmagens mostram que Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas de dinheiro a Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG). Mendherson levou a propina para Belo Horizonte de carro, em três viagens, sempre seguido pela PF.

Mendherson, frise-se, na ocasião era um servidor do Senado, pago com dinheiro público.

Embora a mais flagrante, a tratativa dos R$ 2 milhões não é a única acusação que recai sobre Aécio na delação dos executivos da J&F. Há uma ainda mais devastadora. Em delação premiada à PGR, Joesley relatou que pagou propina de cerca de R$ 60 milhões em 2014 para Aécio, por meio da emissão de notas fiscais frias a diversas empresas. Revelou também ter comprado o apoio de partidos políticos para apoiar Aécio a presidente. Como contrapartida, diz a delação, o tucano usou o mandato para “beneficiar diretamente interesses do grupo”.

De acordo com documento da PGR, Aécio ajudou na liberação de créditos de R$ 12,6 milhões de ICMS da JBS Couros e dos créditos de R$ 11,5 milhões de ICMS da empresa Da Granja, adquirida pela JBS na compra da Seara.

“Provas” contra Lula

Lula foi condenado a 9 anos e seis meses de prisão, em julho, pelo suposto recebimento em benefício próprio de R$ 2,2 milhões de propinas da OAS, no apartamento tríplex do Guarujá (SP), que, segundo a sentença, era propriedade oculta do petista.

Não há contra ele, nesse processo, nem sombra das provas que há contra Temer e Aécio. Tudo se baseia em suposições da Polícia Federal e do Ministério Público e em acusações de delatores desacompanhadas de qualquer prova material.

Em sua peça condenatória de 208 páginas, após passar metade delas explicando por que não seria suspeito para julgar Lula, ele cita notas fiscais, contratos de fornecimentos de serviços e equipamentos, registros do imóvel, cópias de mensagens de e-mail, registros fotográficos, laudos periciais, relatórios de comissões internas da Petrobrás e apurações do Tribunal de Contas da União (TCU).

Tudo história. Não há nada que sequer se compare com o que há contra Temer e Aécio.

Entre as provas do processo está o Laudo Pericial 0101/2017, feito pela Polícia Federal, sobre rasuras encontradas no registro do imóvel comprado em nome da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Nele, o apartamento 171 passa a ser 141 e há um registro “triplex” rasurado.

O documento pode ser qualquer coisa. Lula sempre disse que cogitou comprar o tríplex e depois desistiu. E, aliás, se Lula é acusado de “ocultar patrimônio”, por que faria uma proposta formal de adesão ao tríplex? A prova, na verdade, é uma contraprova.

Também foram encontrados na casa de Lula, durante operação de busca e apreensão em março do ano passado, documentos relativos à aquisição do triplex no então Residencial Mar Cantábrico”, registrou Moro.

Além disso, Moro usou depoimento do ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro. Na condenação de Lula, o magistrado diz que Pinheiro “confessou” no processo que reservou o triplex 164-A para Lula, desde a compra do prédio da Bancoop.

Léo Pinheiro disse que o imóvel e as reformas realizadas nele em 2014 foram propina pelos negócios da OAS com o governo, em especial na Petrobrás. O valor teria saído de uma “conta” de R$ 16 milhões reservada para o PT.

Também foram usados como “provas” para encarcerar Lula pelo resto da vida algumas fotos e notas fiscais de “reformas” do tríplex feitas pela OAS.

E por aí vai.

O fato é que são descomunais as diferenças entre o que pesa contra Aécio e Temer e que o desafeto de Lula que pilota a 13ª Vara Federal de Curitiba. Ninguém são e decente diria que se pode comparar uma coisa com a outra.

É por isso que Temer e Aécio são desprezados pela opinião pública enquanto que Lula é, disparado, o político mais popular do Brasil, como mostram as pesquisas. Essa diferença tonitruante de aprovação entre Lula, de um lado, e Aécio e Temer do outro se deve ao fato de que o povo, caro leitor, não é bobo.

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Assista, abaixo, reportagem do Blog da Cidadania sobre o tema.