Como a Globo trataria Marielle se ela fosse petista?

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Alguns amigos petistas vieram ponderar comigo que eu estaria fazendo o jogo da Globo ao falar tanto de Marielle, porque a emissora estaria “turbinando” o PSOL ao fazer um jornalismo correto sobre o acontecido.

E, de fato, considero QUASE impecável a matéria do mais recente programa da Globo “Fantástico” sobre a vereadora do PSOL morta brutalmente na semana passada em um crime tão inegavelmente político que até essa emissora concorda.

Vamos assistir um trecho para ver como a Globo sabe fazer bom jornalismo quando quer ou quando seus interesses exigem.

 

 

A matéria é quase impecável. Amigos reclamam de que faltou a Globo dizer que essa mulher heroica era visceralmente contra a intervenção no Rio. Pelo que me lembro, porém, a matéria dizia isso. Desse modo, suponho que foi tirada da edição do programa disponível no site da Globo.

Seja como for, essa suposta omissão não empana decisivamente a qualidade da matéria, que, inclusive, enquadrou a desembargadora e o deputado corrupto do DEM que tentaram manchar a memória de Marielle com calúnias nojentas.

Eis que os amigos vieram me dizer para não confiar na Globo etc., etc.

Bem, quem conhece minha trajetória e tem memória sabe que seria bem mais fácil um boi voar do que eu mudar de opinião sobre a Globo por causa de uma única matéria, de modo que nem preciso explicar que o fato de achar que a emissora fez uma boa matéria não quer dizer que essa seja a sua realidade, já que, para cada matéria correta da Globo, há mil matérias ruins, mentirosas, distorcidas, omissas etc.

Mas por que a Globo faria um jornalismo tão adequado sobre a tragédia no Rio de Janeiro?
Para entender o que quero dizer, façamos um exercício mental: e se Marielle fosse petista, será que receberia o mesmo tratamento laudatório que a emissora dispensou a si e ao seu partido?

Em minha opinião, se Marielle fosse petista a Globo trataria de acusar o partido dela de ser suspeito de sua morte, provavelmente inventando que ela estaria para fazer denúncias contra alguma figura de relevo desse partido – Lula, por exemplo.

Todas as mentiras ditas sobre jovem socióloga teriam ido parar na matéria não como mentiras, mas como acusações. E a Globo ficaria em cima do muro, o que seria um ato tão vil quanto mentir junto com os caluniadores.

A teoria que vem sendo discutida é a de que a Globo estaria “enchendo a bola” do PSOL por estar interessada em “vitaminar” esse partido nas próximas eleições de forma a enfraquecer o PT, já que a relação da Globo com o PSOL sempre foi muito melhor do que com o PT, pois várias figuras de proa desse partido apoiam a Lava Jato, Sergio Moro e a perseguição a Lula.

Luciana Genro, por exemplo, ou João Batista Oliveira de Araújo, mais conhecido como Babá – quem assumirá, na Câmara Municipal do Rio, a cadeira de vereador ocupada por Marielle. São políticos muito mais próximos da Globo e, certamente, nas eleições de 2018 serão eleitoralmente fracos, mas serão muito úteis à emissora para enfraquecer Lula ou seu candidato, se ele não puder concorrer.

Por que, então, escrevi e defendi tanto Marielle?, perguntaram-me os amigos. É simples: porque era o certo a fazer.

Além disso, julgo que Marielle foi apenas o primeiro alvo de uma série de crimes políticos que a direita irá perpetrar neste ano. Inclusos eventuais novos assassinatos de militantes de esquerda.