Lula quer saber por que Moro não sai dos EUA

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Em entrevista à Folha de São Paulo em 1º de março, o ex-presidente Lula abordou a crise política que eclodiu no Brasil em junho de 2013 e deu à luz atores como os movimentos fascistas que ajudaram a derrubar Dilma e um juiz de primeira instância que se tornaria celebridade devido à caçada sem tréguas contra petistas. Lula fez uma pergunta que juntou as manifestações de junho de 2013 e o juiz Sergio Moro a um ator muito mais eminente e perigoso: o Departamento de Justiça dos EUA.

A entrevistadora de Lula, jornalista Mônica Bergamo, fez uma pergunta extremamente importante que, mesmo sem resposta, mostra como é absurda a tese de que o ex-presidente teria engendrado algum esquema de corrupção, como querem os playboys da republiqueta de Curitiba

CURITIBA, PR, 14.09.2016 ? LAVA JATO ? Deltan Dallagnol, procurador do Ministério Público Federal durante apresentação das denúncias contra o ex-presidente Lula na tarde desta quarta-feira (14) em Curitiba (PR). (Foto: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress )

Bergamo perguntou a Lula se ele manteria a prática que adotou em seu governo de indicar o procurador-geral da República (prerrogativa exclusiva da Presidência) escolhido pelo Ministério Público Federal em vez de fazer como fazia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e faz hoje Michel Temer de ignorar a instituição e indicar alguém da sua confiança.

Essa questão, vale notar, deixa claro como são absurdas as acusações a Lula, pois ninguém que planeje roubar na Presidência da República escolhe uma pessoa independente para ocupar um cargo que permite a essa pessoa pedir o impeachment do presidente ou abrir investigações contra ele. E Lula fez isso…

A resposta de Lula levantou várias questões. Vejamos o que ele respondeu:

“Esse critério [de nomear um PGR independente e indicado pelo MPF] é herança minha do movimento sindical. Eu achava que era o mais acertado. Hoje eu analisaria o histórico da pessoa.

Veja, o que ocorreu com a Lava Jato: ela virou refém da imprensa e vice-versa.

E hoje eu estou convencido de que os americanos estão por trás de tudo o que está acontecendo na Petrobras. Porque interessa para eles o fim da lei que regula o petróleo, o fim da lei que regula a partilha. O Brasil descobriu a maior reserva de petróleo do mundo do século 21. E não se sabe se tem outra.

Não sei se você já tem uma compreensão sociológica de junho de 2013 [mês de grandes manifestações no país].

O Brasil virou protagonista demais. E ali eu acho que começava o processo de tentar dar um jeito no Brasil.

Como diria meu amigo [e ex-chanceler] Celso Amorim, eu não acredito muito em conspiração. Mas também não desacredito.”

A jornalista perguntou a Lula se ele faz uma “conexão entre tudo isso” e o que acontece com o ele agora. Lula respondeu que sim, que acha que a perseguição a si deriva do mesmo processo dos protestos de 2013, os quais acha que foram planejados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos com vistas a derrubar a interromper a série de governos de esquerda que vinha desafiando os interesses norte-americanos no Brasil.

Em seguida, a entrevistadora perguntou a Lula se ele achava, por exemplo, que os procuradores da Lava Jato vão aos EUA e se reúnem com autoridades daquele país que tentam interferir na política brasileira.

Lula diz que acha isso mesmo. E emenda:

“Agora mesmo o Moro está lá [no exterior] para receber um prêmio dessa Câmara de Comércio Brasil-EUA. Ele foi lá para ficar 14 dias. Eu já recebi prêmios. Você vai num dia e volta no mesmo dia”

No fim, Lula revelou que existiria uma “proximidade” de Moro e do Ministério Público com a Departamento de Justiça dos EUA.

Uma breve pesquisa mostra a quem a fizer que, sim, Moro viaja muito, exageradamente, aos EUA. E a cada visita que faz àquele país, demora-se dias sob o pretexto de participar de compromissos que duram algumas horas.

Em Abril de 2016, Moro esteve nos EUA

Em setembro de 2016, Moro esteve nos EUA

E o mais engraçado, nesse ponto, é que Moro viajou para os EUA de uma forma diferente da vez anterior, quando foi “receber um prêmio”. Estava disfarçado e foi reconhecido por outras pessoas no aeroporto.

Em fevereiro de 2017, Moro esteve nos EUA

Em abril de 2017, Moro esteve nos EUA

Em maio de 2017, Moro esteve nos EUA

Em setembro de 2017, Moro esteve nos EUA

Em outubro de 2017, Moro esteve nos EUA

Em fevereiro de 2018, Moro esteve nos EUA

Nesse contexto, reportagem da BBC Brasil publicada em dezembro de 2017 revela alguns fatos interessantes sobre a relação de Sergio Moro com os Estados Unidos.

A BBC revelou que um executivo brasileiro condenado na Lava Jato foi procurado por autoridades americanas para negociar um acordo de cooperação nos Estados Unidos. Essa matéria levou políticos do PT e advogados a protestar contra interferência estrangeira na soberania nacional.

Em depoimento à Justiça Federal em Curitiba, Eduardo Leite, ex-funcionário da empreiteira Camargo Corrêa, disse ter sido contatado pelo governo americano e que quem intermediou o acordo do brasileiro com os norte-americanos foi a força-tarefa da Lava Jato.

O diabo é que, graças a essa delação, os americanos estão processando a Petrobras…

Afinal, de que lado estão Sergio Moro e a Lava Jato?

Ora, considerando-se que a Lava Jato e Moro derrubaram a economia brasileira e fizeram a Petrobrás sofrer uma grave crise de credibilidade com o alarde que fizeram em torno das investigações sobre a empresa – que poderiam ter sido sigilosas –, não é difícil de responder a essa pergunta e à pergunta de Lula sobre o que Moro tanto vai fazer nos Estados Unidos.

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Confira, a seguir, a reportagem em vídeo