Para Reinaldo Azevedo, ataque a Lula fez da Caravana “um sucesso”

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O jornalista Reinaldo Azevedo, criador do termo “petralha”, antipetista “de raiz”, viu o tiro no pé dado pelos energúmenos que cercaram de violência o exercício dos direitos constitucionais de liberdade de expressão e de ir e vir do ex-presidente e de sua comitiva. O golpe de 2016 ficou mais evidente diante do mundo, sobretudo por conta da atitude das autoridades e da mídia brasileiras.

Confira o texto de Azevedo

Direita xucra e truculenta transforma em sucesso caravana de Lula pelo Sul que iria ser um fiasco. Faltam teoria e inteligência

Por: Reinaldo Azevedo

Publicada: 29/03/2018 – 7:21

Sem a gloriosa contribuição da direita xucra, a caravana do ex-presidente Lula pelo Sul do país teria tido um resultado não mais do que modesto. Ocorre que as dezenas de antipetistas fanáticos e truculentos que tentaram impedir a realização dos eventos, que lançaram paus, pedras e ovos contra a comitiva, fizeram por Lula e pelo PT os que companheiros já não conseguem fazer por si mesmos.

Se esses valentes comparecessem às concentrações organizadas pelo partido para gritar “Lula ladrão” ou “Lula na cadeia”, nada mais fariam do que repetir o que estampam em suas páginas nas redes sociais. Também não acrescentam nenhuma novidade àquela que consideram ser a biografia do petista. Pregam para convertidos. Quando, no entanto, avançam além do direito de manifestação e da liberdade de expressão e partem para a intimidação física, bem, aí não há escapatória: além de cometer um crime, transformam os companheiros em vítimas.

De resto, note-se: há uma miríade de grupelhos de direita assinando os protestos contra Lula. Ocorre que os manifestantes não passam de meia-dúzia de gatos pingados. O pouco público que acorreu aos eventos estrelados por Lula fica parecendo uma multidão quando confrontado com aqueles que tentam impedir na marra e no muque os atos do PT. Em Curitiba, a, como dizem, “pátria da Lava-Jato”, os que se opunham à presença do petista na cidade somavam não mais do que 200 pessoas.

Pior: no rastro dos atos violentos, houve os tiros contra o ônibus do PT. O evento teve repercussão internacional e conferiu verossimilhança à versão do partido de que existe uma caçada a Lula e de que o objetivo é impedi-lo de disputar a eleição nos tribunais ou na bala. Nesta quarta, várias pessoas que eu chamaria comuns, gente do povo, sem viés partidário e agastada com o PT em razão das múltiplas acusações que há contra o partido, comentaram o caso comigo. Reproduzo a fala de um motorista: “Acho que o pessoal tá exagerando; parece que estão mesmo com medo de o homem voltar”. Essa frase e essa percepção da realidade, para quem não quer o partido de volta ao poder, carregam um perigo bem maior do que se pode perceber á primeira vista. Eu me incomodo em particular com esse “o homem”, que revela ainda certa carga mítica.

A demonização da política e dos políticos levada a efeito pela Lava Jato e comprada de modo acrítico pela direita xucra ressuscitou Lula e o PT. Ele só não será presidente da República pela terceira vez porque a Justiça Eleitoral vai impedir que leve até o fim a sua candidatura. Rodrigo Janot e alguns de seus procuradores loquazes e indecorosos merecem uma estrela no peito — a estrela petista — pelo feito. E esses setores da extrema-direita, mais uma vez, dão a sua inestimável contribuição à estratégia do partido.

Depois de uma semana de agressões e escaramuças, culminando com os tiros, o PT goza da confortável situação do ganha-ganha. Se, no dia 4, talvez se estendendo para a sessão seguinte, Lula obtiver o habeas corpus preventivo, o partido terá razões objetivas para comemorar. E vai ganhar mais ou ganhar menos a depender da reação dos xucros. Se optarem por protestos violentos ou pela retórica virulenta contra as instituições, tanto melhor para o PT, que poderá falar, então, como partido da ordem. Se Lula perder o embate, preparando-se, então, para ir para a cadeia, a legenda já estará pronta para se dizer vítima de fascistas nas ruas e nos tribunais.