Frente de centro-esquerda pode vencer eleição e libertar Lula

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A imprensa está dando conta de um possível entendimento político que causa arrepios em grande parte da esquerda e em toda a direita, da menos à mais bestial. Trata-se de conversas preliminares que estão ocorrendo entre Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) com o possível beneplácito do ex-presidente Lula, quem, recentemente, manifestou desejo de conversar com Ciro Gomes.

À esquerda, pesa contra esse entendimento a antipatia que Ciro Gomes causou ao não se solidarizar com Lula como a militância petista e grande parte dos dirigentes do PT gostariam e a imagem “coxinha” e pouco combativa de Fernando Haddad…

Mas é na preocupação extrema que esse entendimento causa na direita que reside a necessidade de a esquerda refletir melhor e com responsabilidade. A direita sabe que uma chapa com Ciro e Haddad ou Haddad e Ciro pode tirar o país da rota fascista e desfazer todas as desgraças geradas pelo golpe de 2016.

A situação é extrema. A Justiça encarcerou Lula por “perigo de gol”, mantém o ex-presidente incomunicável e sendo torturado em uma solitária com chuveiro elétrico. O objetivo é claro: causar problemas de saúde físicos e mentais no ex-presidente e impedir que articule politicamente com seus aliados, como se tal prática medieval fosse legal e constitucional.

Além disso, os golpistas planejam piorar ainda mais as condições sociais no Brasil exterminando de vez os direitos trabalhistas e vendendo tudo o que resta do patrimônio público, além de implantarem um Estado policial que perseguirá adversários políticos e movimentos sociais e sindicais.

Isso pelo lado da centro-direita neoliberal, representada por Geraldo Alckmin ou até por Joaquim Barbosa, do partido da justiça.

Mas pode ser ainda pior. A hipótese de vitória de Bolsonaro joga o Brasil em um poço sem fundo. Um político virulento, processado por racismo, defensor de armar a população brasileira indiscriminadamente para que cada um saia por aí atirando em quem julgar “bandido”…

Na economia e na gestão pública, Bolsonaro iria pensar no que fazer na hora em que o problema se apresentasse. Ou algum espertalhão se tornaria primeiro-ministro e o cretino se tornaria uma espécie de rainha da Inglaterra de boca suja.

Particularmente, o Blog da Cidadania tem resistências quanto a Ciro Gomes por sua verborragia incontrolável e por sua falta de solidariedade a Lula e ao PT. Sobre Fernando Haddad, talvez fosse um pouco “coxinha” demais para uma situação como a que se apresenta.

Sobre Ciro e Haddad, porém, é possível perguntar se a união de um político incandescente com um político morno não produziria a temperatura política ideal para uma aliança que, se vingasse, poderia desfazer toda essa desgraceira gerada pelo golpe e, de quebra, libertar Lula.

Não sei se seria o ideal, mas sei que as alternativas a esses dois pode ser um governo que mate o povo de fome com um ultraliberalismo alucinado ou que coloque o país em uma guerra civil ou em uma ditadura militar… Ou, talvez, em ambas.

Leia reportagem da Folha sobre essa possível aliança de centro-esquerda envolvendo Haddad e Ciro

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FOLHA DE SÃO PAULO

Ciro e Haddad se reúnem e falam sobre frente de centro-esquerda

Encontro em SP reuniu também ex-ministros Delfim Netto e Bresser-Pereira

24.abr.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA

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Mario Sergio Conti

SÃO PAULO

O “polo popular, democrático e progressista”, defendido por Fernando Henrique Cardoso no seu último livro, o recém-lançado “Crise e Reinvenção da Política no Brasil”, deu nesta segunda-feira (23) um passo à frente significativo: Ciro Gomes, Fernando Haddad, Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser-Pereira reuniram-se pela manhã. A concordância deles quanto ao que fazer foi completa.

Concordaram, por exemplo, em não convidar Fernando Henrique para o próximo encontro do quarteto, marcado para daqui a um mês. “Converso com todo mundo, mas acho que FHC não quer nada comigo”, disse Ciro Gomes, o último a chegar, às 11h30, e o primeiro a tirar a gravata.

“O apoio do Fernando a João Doria Jr. e o flerte com Luciano Huck mostram que ele não busca criar um ambiente que ajude o Brasil a ir para a frente”, disse Delfim Netto. Nenhum dos quatro acredita que Geraldo Alckmin chegará ao Planalto.

Ciro Gomes discursa no lançamento da candidatura à reeleição de Haddad como prefeito – 24.jul.2016/Lalo de Almeida/Folhapress
“É a centro-esquerda que tem chances reais”, opinou o ex-prefeito Fernando Haddad. Tanto ele quanto Ciro Gomes acham possível que o PDT e o PT formem uma chapa conjunta já para o primeiro turno, com Haddad como vice.

O responsável pelo encontro, o professor José Márcio Rego, da FGV, lembrou que setores da direção do PT não viram com bons olhos as conversas do ex-prefeito com Ciro. “Já está tudo bem”, informou-lhes Haddad. “Até brinquei com gente do partido, dizendo: vocês diziam que eu era muito técnico, mas quando começo a fazer política, reclamam”.

A incógnita na conversa, que se realizou no escritório de Delfim, no Pacaembu, foi Joaquim Barbosa. “Se ele sair, será a primeira vez que muita gente não votará em branco”, atalhou Delfim com um trocadilho que arrancou risos.

Para ele, Barbosa tem as seguintes virtudes eleitorais: “Veio de baixo, como Lula, foi intransigente contra a corrupção e é um homem direito”. Ele continuou, olhando para Ciro: “Ele tem fama de ser mais estourado que você”. Novamente, todos riram. “Não, ele é mais do que eu, melhorei muito”, respondeu o pedetista.

“O problema do Joaquim Barbosa é que não se sabe o que ele pensa sobre economia, qual a sua ideia de Brasil”, disse Bresser-Pereira. “A tendência é que, na economia, ele se limite a repetir a receita liberal de sempre. E disso o Brasil não precisa”.

Pelas informações de que os quatro dispunham, há três empecilhos à candidatura de Barbosa: sua família não quer; setores regionais do PSB não o veem com bons olhos, em função de alianças locais; e o próprio ex-ministro do Supremo não sabe se quer ser candidato.

“Essas dificuldades irão diminuir como que por encanto e logo desaparecerão, se ele crescer nas próximas pesquisas de opinião pública”, disse Ciro, e todos concordaram.

No diagnóstico de Bresser, uma chapa com Ciro e Haddad teria condições de romper com a camisa de força que se quer pôr no eleitorado. “Acho que o Lula preso pode causar tanto barulho eleitoral quanto solto”, disse Delfim.

“Mas há questões práticas”, interrompeu Haddad. “Lula não pode falar, aparecer em vídeos”. Para Ciro, isso não está decidido: “Nessas eleições, a tendência é muita coisa ir parar na Justiça”.

​Bresser disse a Delfim, na frente de todos, que era ótimo que ele participasse das conversas com Ciro e Haddad. “Você é de centro-direita, mas sempre se bateu pelo desenvolvimento. E isto é o importante no momento”. Delfim respondeu que essas classificações estavam defasadas.
Pouco se falou de corrupção. A questão foi resumida por Ciro: “É um dos problemas mais graves do Brasil. Temos que estudar o assunto e apresentar ideias novas”.

Ele lembrou que, quando morava em Brasília, no dia do seu aniversário entregaram um jet ski na sua casa. Era um presente de Léo Pinheiro, dono da empreiteira OAS. Ciro disse que devolveu o presente, e se calou.

“Mas o Ciro não contou o fim da história, que minha mulher vive repetindo”, disse Bresser. “Quando o Léo Pinheiro se encontrou com o Ciro, perguntou-lhe se ele achara que o jet ski era uma tentativa de corrupção. E o Ciro respondeu: ‘Se eu achasse que fora uma tentativa de corrupção, teria mandado prendê-lo'”.