Mercado financeiro desaba ao perceber que Alckmin, seu candidato, não decola

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A maioria das análises macroeconômicas feitas durante o processo que desencadeou a prisão do ex-presidente Lula refletia forte desejo do “mercado” de que o petista fosse extirpado da vida política nacional.

Era comum a Bolsa cair e o dólar subir quando pesquisas eleitorais retratavam o fortalecimento político do petista se contrapondo à virulência dos processos contra ele. Bem, Lula foi preso e o mercado desabou. E é fácil entender por quê.

A manchete da Folha de SP desta terça-feira 10 d e abril diz que, “Para surpresa dos analistas, Bolsa cai e dólar sobe após prisão de Lula”.

Segundo o jornal, a “primeira leitura” desse fenômeno é a de que o “investidor estrangeiro vê cenário eleitoral incerto e se reposiciona no país”

O dólar, por exemplo, atingiu o maior nível desde dezembro de 2016 com incertezas políticas

O primeiro dia útil no mercado financeiro após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreendeu analistas e economistas. Enquanto a maioria previa acomodação nos indicadores ou mesmo uma melhora, o que se viu foi instabilidade.

O dólar fechou em R$ 3,42 nesta segunda-feira (9), o maior valor desde dezembro de 2016. A Bolsa recuou 1,8%, para 83.307 pontos.

Segundo o economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini, o que chama a atenção é o fato de que o dia foi calmo nas Bolsas do mundo e apenas dois emergentes sofreram: O Brasil, após a prisão de Lula, e a Rússia, por ser aliada de Bashar Al-Assad, na Síria.

Ou seja, não há indicador mais claro de que os problemas econômicos no Brasil são causados pelo cenário interno. Ora, mas não era necessário prender Lula para instalar a felicidade geral no país?

“Vamos ter de esperar alguns dias para entender que movimento foi esse no Brasil, mas está claro que os investidores estrangeiros identificaram algum problema aqui”, diz Buccini.

Entre as primeiras interpretações, ganha força a análise de que, contrariando o senso comum, a saída de Lula da disputa eleitoral deixa o cenário mais incerto.

“Alguns identificam que a equação eleitoral é mais complexa, pois a saída de Lula pode fortalecer os extremos (políticos, como Bolsonaro, pela direita) e abrir espaço para outsiders”, diz Zeina Latif, economista chefe da XP Investimentos.

O dia foi marcado por especulações. Nas mesas de operações circulou a história de que um grande fundo multimercados estaria vendendo boa parte das ações no Brasil e retirando dinheiro do país.

A justificativa para o mal-estar com o cenário eleitoral ganhou várias versões.

Em uma, a mais delirante de todas, os investidores estariam reagindo à decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello de levar ao plenário da corte o pedido de liminar que suspenderia a prisão em segunda instância, beneficiando com a liberdade centenas de réus da Lava Jato, incluindo Lula. Imagine um país em que o mercado financeiro entra em convulsão pela mera possibilidade de uma liderança política rever uma prisão que acaba de ocorrer…

Essa versão tende a morrer na praia, porque Lula não sairá tão facilmente  da cadeia e o mercado continuará desabando simplesmente porque a saída do petista da disputa cria um risco que o mercado e os investidores temem acima de tudo: o país eleger  um demente como Bolsonaro.

Já em outra perspectiva, mais  ponderada, haveria a preocupação com o imponderável sem o Lula.

Em relatório, o banco Votorantim faz a avaliação de que pode aumentar a demanda popular por mudanças, o que incentivaria discursos que o mercado chama de “populistas”, mas que, na verdade, repercutirão o desejo do país por mudanças.

“O risco é o de que a eficiência eleitoral desses discursos não necessariamente implicaria  agendas econômicas bem definidas ou capacidade de construção de coalizões estáveis no Congresso”, diz o texto. “Portanto, não apenas o processo eleitoral pode ser mais incerto mas a próxima gestão econômica pode trazer dúvidas importantes.”

Muito se falou também sobre uma “crescente incerteza em relação à vitória de um candidato de centro, capaz de preservar a agenda reformista”. Trocando em miúdos: o mercado tem dúvidas sérias de que Alckmin, seu candidato, deslanche.

Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a falta desse nome forte de centro piora o sentimento dos investidores.

“Tirou o Lula da campanha, e daí? Aparentemente você exclui da campanha alguém à esquerda que sinalize alguma coisa antimercado, mas não tem a menor ideia do que vem: esse cara de centro ainda não existe”, afirma Gonçalves.