Bolsonaro teme à toa envolvimento de sua mulher na campanha

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O deputado fluminense e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro quer que sua jovem mulher seja alvo de baixarias na campanha eleitoral, de modo que a blindou, informa jornal. Porém, o candidato da baixaria política, cujos apoiadores são misóginos e apelativos, é ele mesmo, de forma que não precisa se preocupar

Com as mãos unidas em formato de coração, ela deu um leve sorriso ao chegar ao centro do palco e parar ao lado de Jair Bolsonaro. Ao lado e um passo atrás.

“Em grande parte, é ela a minha âncora”, disse o pré-candidato a presidente, virando para a mulher, Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro. Ela devolveu com um olhar profundo.

Foi a mais recente das raras aparições de Michelle com o candidato. Aconteceu em 29 de abril, no Congresso dos Gideões, encontro evangélico anual em Santa Catarina.

Compenetrada no discurso, ela respondia “amém”, baixinho, em certos momentos —por exemplo, quando o marido disse que sua filha “vai ser mulher” e que seus filhos “são homens”, numa crítica à chamada “ideologia de gênero”.

A discrição é o traço mais notório da aspirante a primeira-dama, segundo relatos ouvidos pela Folha na Barra da Tijuca, região do Rio onde Michelle vive com o político, a filha dos dois, de sete anos, e outra adolescente, de um relacionamento anterior dela.

A mulher que divide com Bolsonaro o teto de uma casa em um condomínio na orla da praia tem 36 anos e está com ele, de 63, desde 2007.

É tida na vizinhança e nos locais que frequenta como reservada, simpática e religiosa. E uma parceira que não se mete na carreira do marido.

Segundo aliados do pré-candidato, o papel dela na campanha será o de coadjuvante. “Ele não pretende usá-la”, diz o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF). “Mas ela deve acompanhá-lo em alguns compromissos. Acredito que ele queira preservá-la”, afirma.

A assessoria de Bolsonaro recusou pedido de entrevista com ela.

Michelle é fiel da Igreja Batista Atitude, cuja sede fica a cerca de 25 minutos de carro de sua casa.

Às vezes, Bolsonaro, que se declara católico, acompanha a mulher nas idas ao templo, onde o salão principal comporta 4.500 pessoas sentadas. “Orai sem cessar”, recomenda um aviso na entrada do local, reproduzindo trecho bíblico.

Michelle ora e também malha —embora colegas da unidade da Bodytech que fica na avenida de sua casa digam que ela anda sumida. Ali faz ginástica localizada e musculação, geralmente pela manhã.

Frequentadoras contam que ela não alardeia o parentesco nem comenta as atividades do companheiro. Mas, como esperado, a informação de que ela é quem é correu rápido no boca a boca.

Na academia se especula que a aluna está mais reclusa à medida que o foco se volta para o presidenciável.

Vista pela Folha saindo do condomínio numa tarde de quinta-feira, Michelle conseguiu evitar uma abordagem ao acelerar o carro, com os vidros fechados. Foi seguida por um veículo que aparentava levar um segurança.

Nesse dia ela usava óculos escuros e os cabelos presos num coque. Seu estilo de se vestir é básico, inclui blusinha, calça jeans e sapatilha.

Um deles é a reprodução de uma revista de noivas que estampou Michelle na capa em 2013. Naquela edição, a Festejar Noivas mostrou detalhes do casamento com o político. A cerimônia foi realizada seis anos depois da união no civil.

Fotos retratam um emocionado Bolsonaro (ele até chorou) ao lado daquela que é sua terceira esposa. Ele escreveu na revista que se aproximou dela porque resolveu “novamente buscar a felicidade”. Tinha se separado da advogada Ana Cristina Valle meses antes.

Michelle relatou nas páginas: “Um amor que foi conquistado aos poucos, mas hoje posso dizer, sem dúvidas, que ele é meu grande amor!”. Contou que se viram pela primeira vez “no gabinete do Jair”.

Nascida em Ceilândia, no Distrito Federal, a noiva era secretária parlamentar na Câmara quando conheceu o futuro marido. Meses depois, foi trabalhar no gabinete dele, durante um ano.

Como a Folha mostrou no ano passado, a contratação e a promoção fizeram Michelle ter seu salário quase triplicado em relação à função anterior, na liderança do PP. A demissão veio em 2008, forçada pela regra antinepotismo.

O casamento foi celebrado pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja da qual a noiva fez parte até 2016.

A filha do casal estuda em um colégio particular na região de casa. Às vezes os pais a levam, mas geralmente a menina vai no micro-ônibus de uma empresa de transporte escolar que é do ex-BBB Daniel Manzieri. Ele, que foi confinado no Big Brother Brasil em 2016, virou pessoa de confiança do casal.

Em uma gravação, no YouTube, Bolsonaro aparece abraçado à filha dizendo que não a coloca em escola pública porque o currículo não é o mesmo da época dele, quando se “tinha educação de qualidade”.

O deputado tem aludido ao DNA da esposa para se defender da acusação de ser racista. Tenta dissipar a polêmica repetindo que seu sogro, por causa da cor da pele, é conhecido em Ceilândia como Paulo Negão.

Em abril, a Procuradoria-Geral da República denunciou Bolsonaro ao Supremo sob acusação de crime de racismo, por causa de afirmações que atingiram quilombolas, indígenas, refugiados, LGBTs e mulheres.