Desânimo com futebol fará bem aos brasileiros

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Sou um caso raro no Brasil: não gosto de futebol… Ou melhor, nunca gostei de futebol como a maioria dos brasileiros, mas, claro, aprecio um belo espetáculo desse e de muitos outros esportes.

Só não sou fanático como a maioria dos brasileiros.

Desde que me entendo por gente, sempre me entediei com essa mania masculina de, na primeira oportunidade em que homens se reúnem, terem que falar de futebol com afetação de propriedade e conhecimento de causa como forma de afirmação de masculinidade.

O fanatismo pelo futebol é só uma das facetas retrógradas e simplesmente ridículas do machismo verde-amarelo, terceiro-mundista, obtuso e, sobretudo, venenoso de nossa sociedade.

Praticamente todos os homens brasileiros adultos foram doutrinados por suas famílias – e não só pelo pai – e pela sociedade com base em duas imposições comportamentais – entre muitas outras: nutrirem rejeição declarada e virulenta à homossexualidade e se interessarem e terem conhecimentos sobre futebol.

Do contrário, não é “macho”.

Imagine-se na escola ou dizendo ao pai, aos dez anos de idade, que não gosta de futebol ou que não tem nada contra homossexuais… O que aconteceria?

Mas por que alguém quereria ser “macho”? Somos seres humanos. Macho é um substantivo usado comumente para definir animais do sexo masculino, ainda que, etimologicamente, possa ser usado para definir seres humanos.

A meu juízo, porém, chamar um homem de “macho” é ofensivo.

Mas, de volta ao futebol, é óbvio que, atualmente, muitas mulheres se interessam pelo futebol masculino, o que é um contrassenso e indicação de uma anomalia social, já que a lógica seria a de mulheres se interessarem mais pelo futebol feminino.

Paradoxos e contradições à parte, o fato é o de que o brasileiro nunca teve uma relação normal com o futebol. Tornou-se uma imposição social torcer para algum time.

Ainda hoje, as pessoas se espantam quando digo que não torço para time algum, à exceção da Seleção durante Copas do Mundo.

Em vez de pão e circo, o establishment impôs aos brasileiros circo sem pão. Assim, o esporte tornou-se lenitivo para os mais pobres, que, em geral, apegam-se mais ao futebol do que os mais abastados, que não fazem do esporte quase que uma razão de viver.

Mas o mau desempenho da Seleção desde 2014 vem afastando os brasileiros do fanatismo futebolístico. Possivelmente as próximas gerações estabelecerão uma relação menos doentia com esse esporte.

Só assim as pessoas poderão pensar mais nos problemas coletivos reais… Além de nos tornarmos uma sociedade menos machista.