Requião segue obrigando MDB a engolir sua independência

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O senador paranaense Roberto Requião tentará renovar seu mandato, apesar de ter dois pedidos de expulsão no MDB que não são julgados porque ele tem muito voto, mesmo apoiando Lula e sendo de esquerda.
No vaivém de decisões sobre a libertação do ex-presidente Lula (PT), um senador opinava numa rede social: “Cabe a Sergio Moro, em férias, tomar bom vinho e comer bacalhau”. Naquele 8/7, Roberto Requião (MDB-PR) dedicou mais de dez comentários, que poderiam ser confundidos com falas de petistas, ao assunto. “A discordância com o habeas do juiz Favreto deveria seguir processo legal e não ser objeto de guerrilha judicial”.

Requião, que começou sua carreia em 1983, faz oposição à administração emedebista e destoa de caciques da legenda, como Romero Jucá, Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Além de promover incisivas críticas ao presidente Michel Temer (MDB), a quem chama de entreguista, o senador votou contra a reforma trabalhista e contra a PEC do teto de gastos.

Há um ano, quando o governo Temer enfrentava seu momento de maior fragilidade, ameaçado por denúncia da Procuradoria-Geral da República, o MDB fechou questão contra a admissibilidade da denúncia na Câmara dos Deputados. Para Requião, aquilo era “uma loucura”. “Querem impor uma posição ao deputado, tirar dele o arbítrio, a capacidade de estudar o processo”, afirmou à época. “Isso é uma verdadeira estupidez. Espero que o que resta de digno no nosso partido se levante neste momento.”

O comportamento rendeu ao senador dois pedidos de expulsão do partido, ambos ainda sem prazo para deliberação.

Em maio, Requião disse que apresentaria sua candidatura à Presidência na convenção do partido, em agosto, fazendo frente ao ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e ao conteúdo programático do governo Temer.

À Folha, o senador afirma que é muito difícil continuar na disputa porque, segundo ele, o diretório nacional não disponibilizou recursos do fundo eleitoral para a candidatura presidencial, numa tentativa de favorecer Meirelles.

“Cá entre nós, o Meirelles não pode ser candidato. Ele vai puxar para baixo o partido porque ele é o governo do Michel Temer.”

Requião diz ter colocado sua candidatura, antes de tudo, para marcar posição e dar uma oportunidade ao MDB. “Fiz uma pesquisa com os delegados, estava indo muito bem, mas, de repente, pararam de responder. Tem aí as emendas, os favores, os empregos, não é uma coisa fácil”, afirma.

Então por que continuar no partido? “Não confunda o partido com o governo”, reage. “Tenho uma posição bem semelhante à da base do MDB, de orientação econômica keynesiana, de recuperação do desenvolvimento com parceria entre trabalho e capital produtivo, contra as ambições ilimitadas do capital financeiro.”

O senador diz que a convenção nacional decidirá se ele será candidato à reeleição no Senado ou ao governo do Paraná, mas que está interessado, sobretudo, numa mudança na política do estado do qual foi governador em três mandados.

Neste sábado (21), na convenção estadual do MDB, Requião anunciou que, a princípio, disputará o Senado. Ele negocia uma aliança com o pré-candidato ao governo Osmar Dias (PDT).

Em pé de guerra no partido, Requião e Jucá, presidente do MDB, já chegaram a discutir por meio de vídeos publicados nas redes sociais, em julho de 2017. Tudo começou quando Requião decidiu comentar notícia que circulava na imprensa de que Jucá desejava sua expulsão.

No vídeo, o paranaense diz seguir as origens do partido, não roubando e denunciando quem rouba. “Romero Jucá, é essa nossa posição. Por isso cogitam minha expulsão? Vão manter só o pessoal com a tornozeleira no pé? Internamente vamos ganhar essa parada (…) vamos ver se ainda existe o velho PMDB de guerra.”

Jucá, então, responde que não tem medo de cara feia nem de bravata. “Eu não devo nada, nem à Polícia Federal, nem à Lava Jato, não sou réu em nenhuma ação, diferente do senhor, que é réu em muitas ações aí no Paraná.”

Oito meses depois, em março de 2018, o STF (Supremo Tribunal Federal) colocaria Jucá no banco dos réus, sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro. O senador nega as acusações.

 

Com informações da Folha de S. Paulo.