Alckmin é suspeito de alterar Rodoanel para beneficiar familiares

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O projeto original de contorno da rodovia Raposa Tavares para tirar o trânsito pesado da cidade de São Roque (SP) não passava por terrenos ligados aos familiares do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Como mostrou a Folha no domingo (16), Alckmin assinou em 2013 e 2014, no terceiro de seus quatro mandatos no comando do Executivo paulista, decretos que resultaram em processos judiciais de desapropriação de terras para a construção do chamado prolongamento do contorno de São Roque, cidade a 70 km de São Paulo.

Othon Cesar Ribeiro, sobrinho do tucano, e Juliana Fachada Cesar Ribeiro, hoje sua ex-mulher e mãe de seus quatro filhos, são listados nas medidas do governo como proprietários de parte das áreas, cujas desapropriações desembocaram em processos judiciais que já resultaram em ao menos R$ 3,8 milhões a eles.

A CCR ViaOeste, que é concessionária da rodovia, e a agência de transportes do estado, a Artesp, confirmaram a alteração que estabeleceu um novo trajeto em relação à proposta inicial, dessa vez cortando parte de áreas vinculadas aos familiares do tucano.

Othon é filho de Adhemar Ribeiro (irmão da ex-primeira-dama Lu), cunhado de Alckmin citado em delações como arrecadador de caixa dois para campanhas do candidato.

O prolongamento, uma nova via de 2,2 km de extensão, teve um custo total declarado de R$ 84,6 milhões e é a segunda fase da obra de construção do contorno de São Roque, cuja primeira etapa foi concluída em 2007.

O traçado original do projeto, que nunca saiu do papel, partia de antes do quilômetro 58 da Raposo Tavares, na entrada da cidade, e ia direto para a vizinha Mairinque, em uma rota que passava mais longe do centro de São Roque.

A alteração no projeto inicial levou a um trajeto, efetivamente implantado, mais próximo da região urbana.

A obra do prolongamento foi entregue por Alckmin em 2016 e é alvo de críticas dos moradores por, segundo eles, ter piorado o tráfego.

Em visita à cidade, a Folha entrevistou mais de uma dezena de moradores. Todos criticaram a obra, principalmente pelo fato de ela ter fechado uma alça de acesso da fase anterior.

Devido a esse fechamento, motoristas que entravam facilmente em São Roque agora são obrigados a percorrer vários quilômetros até um retorno. Muitos se arriscam em conversões proibidas e acidentes são registrados.

Alckmin voltou a contestar a reportagem nesta segunda (17), negando ter tomado qualquer atitude administrativa para beneficiar familiares. Ele afirmou que só soube que seu sobrinho e a ex-mulher estavam vinculados aos terrenos desapropriados após ser procurado pela Folha.

“Você assina dez [decretos] por dia. Não é nem desapropriação. É decreto de utilidade pública. Quem decide o valor é a Justiça e quem paga é a concessionária. Não pode deixar de fazer uma obra. Eu nem sabia. Fiquei sabendo quando veio o pedido da matéria [da Folha]”, afirmou.

Folha enviou a Alckmin a pergunta específica sobre a mudança de traçado, mas ele não respondeu.

Sobre o gasto de São Paulo, a própria CCR afirmou em uma das ações envolvendo familiares do governador que os valores desembolsados para as desapropriações são “custeados pelo poder público concedente (“¦) tratando-se, portanto, de dinheiro público”.

O então governador comandou as cerimônias de anúncio da obra e também da inauguração, em 2015 e 2016.

Segundo a Artesp, a alteração do projeto original foi baseada “unicamente” em levantamentos técnicos e questões ambientais. “O traçado inicial, quando submetido à audiência pública como parte do processo de licenciamento ambiental, enfrentou grande resistência popular”, afirmou a agência. A solução, ainda de acordo com a Artesp, mostrou-se de menor custo.

A CCR deu resposta similar, afirmando que a mudança ocorreu para “minimizar impactos socioambientais e econômicos na região”.

Da FSP.