Haddad já faz planos para montagem de seu governo

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Fernando Haddad (PT) quer apresentar logo no início do segundo turno o nome que assumirá o Ministério da Fazenda caso seja eleito presidente da República.

Dessa forma, defendem aliados, o petista vai sinalizar que seu eventual governo será moderado e sem grandes rupturas na economia, permitindo sua entrada na reta final da disputa sob menor desconfiança do mercado.

O grupo mais próximo ao candidato, porém, descarta a publicação de uma nova versão da Carta aos Brasileiros, divulgada por Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 para acalmar investidores que temiam um radicalismo econômico no primeiro mandato do petista.

A tese agora é que o perfil de Haddad já é moderado, mas que o anúncio do chefe da Fazenda poderia deixar ainda mais claro que sua gestão não será orientada por um sentimento de ódio e vingança ao setor financeiro.

Por recomendação do ex-presidente Lula, porém, o movimento não deve ser feito antes de 7 de outubro. Como mostrou o Painel, da Folha, Lula desaconselhou Haddad a fazer um aceno ao centro neste momento porque, na avaliação do ex-presidente, “o povo já mostrou que não quer um candidato de centro”.

Até o final do primeiro turno a ordem é manter a estratégia de conquista de votos do eleitor petista, reforçando a imagem de que Haddad é quem vai levar adiante o projeto político do partido.

Caso as projeções das pesquisas mais recentes se confirmem, o herdeiro de Lula pode passar para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL), que tem seduzido parte do mercado com o discurso liberal de seu guru econômico, Paulo Guedes.

Em primeiro lugar nos levantamentos, com 28% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha e 27% no Ibope/CNI, o capitão reformado já anunciou o economista —chamado por ele de “posto Ipiranga”, em referência a uma propaganda da rede— como ministro da Fazenda caso vença a corrida ao Planalto, o que agradou ao mercado.

Para tentar vencer resistências a seu nome no setor, Haddad escalou pessoas de sua confiança para iniciar conversas com empresários e investidores e encontrar alguém que preencha os requisitos para chefiar sua equipe econômica –mas ainda não bateu o martelo sobre o nome.

Como revelou a Folha na semana passada, o petista não quer um economista clássico para o cargo, mas alguém que seja pragmático e, ao mesmo tempo, flexível para resolver os problemas sem se aprisionar a dogmas das escolas tradicionais.

Nas palavras de um auxiliar, Fernando Haddad procura um nome com traquejo político, mas também com capacidade de diálogo entre o mercado e a academia.

A principal dúvida dos investidores hoje é sobre a influência que setores mais radicais do PT terão em um eventual governo Haddad, mas aliados repetem que Lula vai controlar o partido.

Admitem que o ex-presidente vai ajudar na escolha do ministro e que será um dos principais condutores da política econômica de um eventual governo Haddad.

A principal cautela, avaliam integrantes da campanha, é fazer esse aceno no momento certo, sem comprometer a estratégia geral para a captação do eleitorado petista.

Desde a semana passada, Haddad tem investido em um discurso mais ponderado e de pacificação –que deve ser mantido e ampliado caso chegue ao segundo turno.

Nos bastidores, o presidenciável admite que, se for eleito, vai fazer um governo de coalizão, mas quer evitar passar a imagem de que é o candidato do sistema —Bolsonaro prega o discurso antissistema, com aderência de parte do eleitorado cansado da política tradicional.

Auxiliares de Haddad acreditam que o aceno de moderação na economia pode facilitar a reabertura do diálogo com partidos que o PT rompeu após o impeachment de Dilma Rousseff.

Há na campanha quem fale em possível acordo com “os melhores quadros” de MDB, do presidente Michel Temer, do PSB e até do PSDB, rival histórico dos petistas.

A vacina para a contradição que esse discurso pode trazer para a órbita de Haddad tem sido a de que sua candidatura, se passar para o segundo turno, deve unir uma aliança de “civilização contra a barbárie”.

Ainda não há um movimento concreto de união desses partidos, mas auxiliares de Haddad dizem que existem conversas, em reservado, sobre uma certa inquietação dos políticos com a acensão da extrema direita, cristalizada na liderança de Bolsonaro.

Caso passe para o segundo turno, o petista deve procurar inicialmente Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) para compor um acordo. Assessores de Haddad afirmam que Ciro, inclusive, poderia ser nomeado ministro no governo do PT. O pedetista, porém, afirmou em debate que, se eleito, preferia governar sem o partido de Lula.

Da FSP.