Militares pedem à família de Bolsonaro “moderação” nos discursos dele

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Membros da cúpula militar, reunidos em Brasília, avaliavam conversar com o núcleo familiar da campanha para pedir moderação.

O atentado contra Jair Bolsonaro, ato inédito em campanhas presidenciais desde a redemocratização, insere um elemento de imprevisibilidade na já turbulenta disputa pelo Palácio do Planalto.

Bolsonaro, de camiseta amarela, leva mão ao abdômen após levar facada em Juiz de Fora
Vídeo mostra momento em que Bolsonaro foi atingido por faca – Reprodução da internet

O presidenciável, se sobreviver às sequelas do grave ataque, tende a ser beneficiado politicamente pelo episódio. No mínimo, ficará difícil para seus adversários manterem o ritmo diário de críticas contra ele.

Mas há alguns fatores concorrendo contra a expansão dessa simpatia para além de sua base de apoio, hoje cristalizada nos cerca de 15% do eleitorado que declaram voto nele espontaneamente.

O primeiro diz respeito à autoria do ataque. O suspeito de ter esfaqueado o deputado foi filiado ao PSOL e, segundo relatos disponíveis, parece desequilibrado.

Alguma conta política cairá para o partido de Guilherme Boulos. Não que isso vá piorar ou melhorar seu desempenho de nanico, mas poderá alimentar o impacto mais importante: na radicalização já em curso no país.

A primeira reação dos bolsonaristas foi previsivelmente exacerbada, reforçada pela associação à esquerda do agressor. Membros da cúpula militar, reunidos em Brasília, avaliavam conversar com o núcleo familiar da campanha para pedir moderação.

O atentado é o zênite do processo de polarização extrema que toma conta do país desde os protestos de junho de 2013.

Naquele momento, forças desorganizadas da sociedade explodiram em descontentamento com o rumo da gestão pública, e a franja à direita que desenvolveu-se a partir dali ganhou corpo com as manifestações de rua pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 e 2016.

Historicamente eleitora do PSDB, essa fatia da população passou a ser fomentadora da figura de Bolsonaro. Se aqueles processos não produziram cadáveres, o extremismo do processo político literalmente feriu o líder das pesquisas eleitorais.

Poderá isso gerar um refluxo, uma rejeição à defesa desses extremos associada ao processo de formação da candidatura de Bolsonaro?

Ele disputa surfando uma onda de indignação contra o sistema político, independentemente de ser parte dele.

Para complicar o cenário, a retórica bolsonarista invariavelmente apela a metáforas violentas. Compara o combate ao crime ideal a uma política de extermínio de bandidos.

Além de sempre associar-se ao simbolismo das armas, Bolsonaro até teve de se explicar à Procuradoria-Geral da República por ter dito que gostaria de “metralhar” petistas.

Nesse sentido, é inconveniente ironia que um candidato que defende armar a população para garantir a segurança pública ter sido alvejado de forma quase fatal por uma prosaica faca de cozinha.

Obviamente, isso não é justificativa para violência alguma, como muitos já insinuam em redes sociais. Mas é central para ajudar a entender o caldo cultural em que a campanha eleitoral se desenrola.

É possível especular se o ato extremo poderá levar a um desejo por apaziguamento de ânimos no país.
Mas o exato reverso também é uma possibilidade, talvez até maior. Ou seja, a agudização do ambiente de crise, com os clamores dos aliados de Bolsonaro, mas não só.

Na internet, por exemplo, já circulavam teorias conspiratórias sugerindo que o ataque poderia ser uma armação visando dar um empurrão eleitoral a Bolsonaro. O fato de o deputado quase ter morrido exangue, pelo relato médico disponível, é mero detalhe para quem propaga esse tipo de informação.

Esse cenário de aumento de agressividade só tem paralelo histórico recente com os enfrentamentos entre brizolistas e colloridos no primeiro turno de 1989.

O problema, aqui, é que o patamar da crise é infinitamente maior de saída. As investigações sobre o caso deverão ser fundamentais para aclarar o cenário e trazer algum grau de racionalidade.

País que teve seu primeiro presidente civil em 21 anos morto antes de tomar posse, o Brasil parece fadado a lances dramáticos. Em 2014, a morte de Eduardo Campos (PSB) em um acidente de avião quase catapultou sua então vice, Marina Silva, à Presidência.

Se analistas achavam difícil este 2018 ser superado em termos de nebulosidade eleitoral, o atentado apenas prova que no fundo de todo poço sempre reside um alçapão.