Telefonema de assessor a doleiro complica Alckmin

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‘Aguardo na porta, então’, afirmou um homem de confiança do tesoureiro da campanha do ex-governador Geraldo Alckmin em 2014, em conversa por telefone com um entregador de dinheiro contratado por um doleiro usado pela Odebrecht. O áudio, de julho daquele ano, obtido pelo Estado, está de posse do Ministério Público Estadual de São Paulo, que cita o tucano pelo suposto recebimento de R$ 7,8 milhões da empreiteira via caixa dois.

Sebastião Eduardo Alves de Castro é investigado pela Promotoria como suposto emissário de Marcos Monteiro, ex-secretário de Planejamento e tesoureiro da campanha do tucano, para receber dinheiro para a candidatura.

Ele entrou na mira da Promotoria após o Estado revelar que seu endereço e seu celular são citados em conversas entre funcionários Transnacional, transportadora de valores usada por doleiros da Lava Jato para entregar dinheiro.

No dia 10 de julho de 2014, Castro atendeu uma ligação de um encarregado pelo doleiro Álvaro Novis, citado na delação da Odebrecht como operador de repasses para a campanha, para entregas de dinheiro.

Castro: Alô
Emissário: Eduardo?
Castro: é
Emissário: Eduardo Castro?
Castro: Isso mesmo, Eduardo Castro
Emissário: Fala, meu amigo, tudo bem? tranquilo? É que nós temos uma reunião marcada de 11h às 15h e eu já mandei o pessoal para a reunião e estão no local.
Castro: Ah, tá bom, eu aguardo na porta então.
Emissário: Mas você já está aí no endereço certo?
Castro: estou, estou aqui.
Emissário: tá, então, por favor, eles estão aí.
Castro: Ah, tá bom, estou indo lá. Até já então.

Na semana passada, o Estado revelou que áudios entregues pela Transnacional à Polícia Federal citam duas entregas que somam R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo a Sebastião Castro. As mensagens relacionadas a ele contêm os mesmos valores e senhas vinculados aos supostos repasses de caixa dois para a campanha tucana nas planilhas da Odebrecht. No entanto, são de datas diferentes da ligação entregue pelo doleiro ao Ministério Público.

Em depoimento ao promotor Ricardo Manuel Castro, o doleiro Álvaro Novis, que teria operacionalizado pagamentos da Odebrecht, confirmou ter executado repasses, usando para isso os serviços da transportadora de valores Transnacional. Conhecido pelas alcunhas ‘Paulistinha’ e ‘Carioquinha’, Novis teria viabilizado a maior parte dos repasses a políticos em São Paulo e no Rio.

Após o Estado revelar as conversas que citam o ex-assessor do tesoureiro de Alckmin, o promotor solicitou informações ao doleiro sobre o celular de Sebastião Eduardo Alves de Castro. Novis encontrou nos arquivos da Hoya duas ligações. Uma delas não foi atendida. Na outra, de 40 segundos, consta a conversa com o entregador de dinheiro.

Segundo o ex-presidente de Infraestrutura da empreiteira, Benedicto Junior, o ‘BJ’, o destinatário de recursos para a reeleição do tucano a governador em 2014 seria Marcos Monteiro, cujo codinome usado pelos delatores da Odebrecht era ‘M&M’. Alves de Castro trabalhou diretamente com Monteiro desde 2010 em órgãos de governo, como a Imprensa Oficial e a Secretaria de Planejamento. Também foi membro do conselho fiscal da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) até agosto deste ano.

Ao Estado, Alves de Castro disse ser amigo de Monteiro ‘há 500 anos’, mas negou ter recebido qualquer dinheiro em nome do ex-secretário e tesoureiro e atual presidente da Investe SP, agência de fomento do Estado, no governo Márcio França (PSB). “Estou absolutamente assustado e preocupado”, afirmou.

O amigo de Marcos Monteiro foi inquirido a prestar depoimento pelo promotor Ricardo Manuel Castro, do Ministério Público de São Paulo.

De acordo com o termo de declarações, ‘pelo promotor de Justiça, foi exposto que’ Sebastião Eduardo Castro Alves ‘seria ouvido sobre os fatos, não havendo, ainda, juízo de valor acerca de sua inclusão em polo passivo de ação por improbidade administrativa, ou sua atuação como testemunha dos fatos, sendo-lhe exibida relação de ligações telefônicas e gravação de conversa telefônica recebida por esta Promotoria de Justiça do colaborador Álvaro José Galliez Novis, conforme mídia em apartado’.

Castro apenas reconheceu ao promotor que a linha telefônica destinatária da chamada do entregador de dinheiro ‘é de sua propriedade’, mas ‘reiterou sua intenção de permanecer em silêncio’.

A reportagem entrou em contato com o advogado Claudio Langraiova. Em depoimento à Promotoria do Patrimônio Público e Social de São Paulo na sexta-feira, 21, ele preferiu usar o direito de se manter calado.

“A defesa de Marcos Monteiro não teve acesso ao depoimento mencionado e diante disso não irá comentar seu teor, reiterando que nenhum ato ilícito foi praticado.”

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa na sexta-feira, 21, e nesta segunda, 24. O espaço está aberto para manifestação.

“O colaborador não sabia quem era o destinatário das entregas, as ordens de pagamento eram encaminhadas pelo sistema Drousys, com a data, valor, senha e endereço das entregas.

A eficácia e eficiência da Colaboração de Alvaro José Galliez Novis, fica mais evidente na medida que as investigações ocorrem.

É dever do colaborador primar pela verdade, confirmando os atos realizados, corroborando com a Justiça.”

Do Estadão.