Banqueiro vê “histeria” do mercado contra o PT

Todos os posts, Últimas notícias

Os mercados financeiros acabarão abraçando até mesmo o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, se ele ganhar a eleição, e a Bolsa pode ter uma alta de mais 10%, segundo o banqueiro Ricardo Lacerda.

“Hoje, evidentemente, existe uma histeria contra o PT no meio empresarial e financeiro”, disse Larcerda, fundador e presidente do BR Partners, uma butique de banco de investimento.

“Mas em determinado momento você tem de viver e jogar o jogo com as cartas que estão na mesa.”

Lacerda, que já dirigiu a área de banco de investimento no Brasil do Citigroup e do Goldman Sachs, disse que vê uma chance de 70% de que Haddad e Jair Bolsonaro (PSL) cheguem ao segundo turno.

Os mercados financeiros já estão mostrando otimismo desde meados do mês passado porque nem Haddad nem Bolsonaro “vão representar essa ruptura que se imaginou”, apesar de não serem os preferidos do mercado, segundo Lacerda, que apoia João Amoêdo (Novo).

“Se você olhar para as taxas de juros, os mercados de ações ou de câmbio, esse rali de alívio já é muito claro, mesmo com algumas pesquisas mostrando Haddad como vencedor no segundo turno.”

A mais recente pesquisa Ibope mostra Bolsonaro com 32% dos votos. Haddad fica em segundo lugar, com 23%. Amoêdo, o candidato apoiado por Lacerda, tem 3%.

O dólar poderia cair para R$ 3,80, depois de atingir R$ 4,21 em 13 de setembro, disse Lacerda.

O Ibovespa teria um potencial de alta de mais 10% depois do avanço de mais de 8% desde meados do mês passado.

Os mercados ainda estão apoiando Bolsonaro, afirmou.

Uma pesquisa informal feita pela Bloomberg no mês passado revelou que muitos banqueiros consideram a vitória de Haddad como o pior cenário para os mercados, porque seu partido apoia mais impostos para os ricos e para os bancos que não cortarem os juros cobrados nos empréstimos.

Mas Lacerda disse que, embora Haddad seja do mesmo partido que a ex-presidente Dilma Rousseff —que sofreu impeachment em 2016—, ele é “uma pessoa ponderada, mais aberta ao diálogo e um político experiente”.

O PT, no entanto, é um partido “desgastado, responsável pelo caos econômico em que vivemos hoje no Brasil”.

Como prefeito da maior cidade do país, Haddad manteve orçamentos equilibrados, adotou medidas impopulares de aumento de tarifas de ônibus e obteve o grau de investimento para São Paulo.

Seu partido, porém, representa mais intervenção do Estado na economia, disse.

“É preciso conter esse movimento estatista no Brasil, e eu acho que o partido mais limpo, mais propositivo, mais objetivo que tem feito isso é o Partido Novo, na figura do João Amoêdo,” disse Lacerda.

O banqueiro rejeita a pressão de partidários de Bolsonaro para que os eleitores do Novo pratiquem o voto útil no capitão reformado no primeiro turno a fim de evitar um retorno do PT.

“Eu não vejo nenhuma possibilidade de votar útil e acho que esse bullying é muito deselegante e típico de quem está acostumado com posições autoritárias,” afirmou.

Bolsonaro não tem “a experiência ou o equilíbrio emocional necessários a um presidente”, disse.

Seu assessor econômico, Paulo Guedes, é “um economista brilhante, uma pessoa com uma visão muito lúcida, mas sem experiência nenhuma com execução”.

Segundo Lacerda, Guedes “não é uma pessoa que participou de governos, ou que conduziu grandes corporações, e, portanto, não tem ideia dos desafios de costurar um acordo no Congresso, de implementar uma política econômica adequada”.

Algumas das propostas de Guedes são também “muito superficiais”, afirmou Lacerda.

Mas, se eleitos, nem Bolsonaro nem Haddad trariam uma ruptura institucional, disse Lacerda.

“O PT governou o país por 13 anos, sofreu um processo de impeachment e não representou nenhuma ameaça à democracia ou às suas instituições,” disse.

“Espero que Haddad governe com clareza, e então poderemos ter uma acomodação com o mercado,” disse, ao acrescentar: “Espero que ele não faça as mesmas viradas de mesa como fez a Dilma”.

A escolha de um ministro da Fazenda correto seria crucial para Haddad e poderia trazer alívio aos mercados, disse Lacerda, ao citar Marcos Lisboa, presidente da escola de economia e negócios Insper, e Henrique Meirelles, que ficou no cargo de maio de 2016 a abril último. Os dois já participaram de governos do PT.

Para Lacerda, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi justa.

“Não tenho dúvida de que não foi um processo de conotação política, inclusive porque muitos dos juízes que participaram da decisão foram nomeados pelo próprio PT.”

Ele disse, no entanto, que entende a desconfiança da população, “quando você olha que entre todos os corruptos só o Lula está preso”.

Bolsonaro, “apesar das barbaridades que diz, de que vai fuzilar petistas ou que vai pagar menos para mulheres do que para homens”, também não iria romper o processo democrático.

“Não podemos esquecer que ele mesmo é parlamentar há quase 30 anos, é uma pessoa que vai precisar de apoio”, disse Lacerda. “A ligação militar de Bolsonaro não representa nenhum risco de ruptura.”

Lacerda, que deixou de ser filiado ao PSDB há dois anos, disse que o partido recebeu “o beijo da morte” no governo Michael Temer.

“Eles jamais poderiam ter apoiado o governo Temer da forma como apoiaram, indicando pessoas que sabidamente tinham reputação muito questionável, mergulhando em um governo que já não era de saída legítimo e que se deslegitimou ainda mais por meio da corrupção.”

Apesar de seu otimismo com o mercado após as eleições, Lacerda está pessimista quanto às perspectivas de longo prazo da economia, em parte porque nem Bolsonaro nem Haddad terão o apoio necessário no Congresso para promover reformas duradouras.

“Teremos mais da velha política de negociatas no Congresso”, disse.

Para ele, as reformas necessárias para acabar com o déficit público não serão feitas, ou serão reformas pífias, “talvez uma versão mutilada dessa reforma da Previdência que está tramitando no Congresso, incluindo pequenos aspectos como idade mínima”.

“Será a solução típica brasileira, de acomodação e de empurrar com a barriga.”

Da FSP.