Ciro ajuda Bolsonaro com apoio “frio” a Haddad

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Terceiro lugar no primeiro turno da campanha presidencial com 12,4% dos votos válidos, Ciro Gomes (PDT) declarou um apoio discreto ao candidato Fernando Haddad (PT), recusando participação na campanha ou na composição de um eventual governo petista. A decisão, classificada pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, como meramente “institucional”, foi anunciada no final da tarde desta quarta-feira (10), após reunião na executiva nacional do partido, em Brasília, com dirigentes e parlamentares da sigla. O apoio do pedetista, que contabilizou 13,3 milhões de votos no primeiro turno, é importante para Haddad, que agora disputa o segundo turno contra o candidato de direita Jair Bolsonaro (PSL), fortalecido nas urnas com 46% dos votos válidos. Haddad teve 29%.’

Ciro Gomes não discursou. Na nota, o PDT anunciou um “apoio crítico” ao petista “para evitar a vitória das forças mais reacionárias e atrasadas do Brasil e a derrocada da democracia”. Ao deixar a sede do partido após a reunião que homologou o apoio, Ciro foi questionado por jornalistas se ele seria mais contra Bolsonaro que a favor de Haddad, se limitou a responder: “Abaixo o fascismo, pela democracia! Abaixo a ditadura! Nunca mais de volta”. Enquanto isso, no Twitter, a ex-candidata a vice na chapa de Ciro Kátia Abreu chamou a renúncia de Haddad para que Ciro assumisse a vaga.

As declarações de Ciro Gomes logo após a apuração das urnas no último domingo, 7, adiantavam que o candidato não manteria neutralidade no segundo turno. “Minha história de vida é uma história de vida de defesa da democracia e contra o fascismo. Ele não, sem dúvida”, afirmou à imprensa, em referência ao movimento de mulheres contra Bolsonaro, #EleNão. Nos dias seguintes, porém, o silêncio do candidato e as declarações de correligionários começavam a lançar luzes sobre qual seria o seu envolvimento na campanha do segundo turno. O presidente do PDT, Carlos Lupi, começava a falar na possibilidade de um “apoio crítico”, sem participação direta. Lupi chegou a citar Ciro como opção para 2022. O senador eleito Cid Gomes, irmão de Ciro, chegou a defender, em entrevista ao jornal O Globo, a necessidade de o partido pontuar que considera as duas opções do segundo turno ruins para o Brasil e manifestar a opção que considera “menos pior”. “Daremos nossa opinião e faremos atos nossos, mas sem ter um papel de submissão à campanha”, adiantou Cid.

Enquanto isso, Haddad tentava flertar publicamente com um apoio mais direto de Ciro Gomes. Chegou a afirmar que estava aberto para negociar com o pedetista, inclusive para adotar parte de suas propostas no seu programa de governo. A resposta oficial dada pelo PDT nesta quarta-feira, no entanto, foi por não aderir completamente à plataforma petista. A relação de Ciro Gomes com o PT começou a estremecer antes mesmo do início da campanha eleitoral. Para tentar isolar Ciro na disputa, o Partido dos Trabalhadores costurou uma aliança com o PSB e renunciou a candidaturas próprias para evitar o apoio a Ciro de seus antigos colegas de partido no Nordeste — Ciro foi filiado ao PSB de 2005 a 2013.

A estratégia funcionou, por exemplo, no segundo maior colégio eleitoral do Nordeste. Pernambuco reelegeu o governador Paulo Câmara já no primeiro turno, após o PT rifar sua candidatura própria no Estado. Marília Arraes encabeçaria a chapa petista e aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. Sem o apoio do PSB, Ciro ficou com menos tempo de TV e um palanque enfraquecido no Nordeste. Na região, o pedetista ganhou apenas no Ceará, base de sua vida política. Nos demais, venceu Fernando Haddad.

Do El País.