Entidades patronais de jornalismo reagem a ameaças de Bolsonaro à imprensa

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Associações de jornalistas profissionais manifestaram repúdio aos ataques que Jair Bolsonaro (PSL) fez à imprensa em discurso transmitido na Avenida Paulista, durante manifestação ocorrida no domingo (21).

Para as organizações, as declarações de Bolsonaro ameaçam a liberdade de imprensa e a democracia, demonstram que o candidato não compreende a função do jornalismo e elas impõem ao público o discurso que é mais conveniente para o militar.

No discurso, o presidenciável disse: “Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de São Paulo. Nós ganharemos esta guerra. Queremos a imprensa livre, mas com responsabilidade. A Folha de São Paulo é o maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre, parabéns; imprensa vendida, meus pêsames.”

Marcelo Rech, presidente ANJ (Associação Nacional de Jornais) e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores disse que o teor das declarações de Jair Bolsonaro revela ignorância sobre a função da imprensa.

“É lamentável esse tipo de comentário, sobretudo vindo de um candidato à Presidência da República, pois demonstra incompreensão sobre o papel do jornalismo. Também é condenável a ameaça de retaliação com  investimentos publicitários do governo, que devem seguir sempre critérios técnicos e não políticos”, afirmou Rech.​

Para a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), políticos atacam a imprensa porque preferem impor ao público o discurso que mais convém aos interesses deles. Ainda segundo a associação, é função do bom jornalismo cobrar que os candidatos, independente da posição ideológica, respeitem às leis e o regime democrático.

“Para demonstrar algum compromisso com a preservação da democracia, o candidato deveria condenar a intimidação de jornalistas, em vez de fomentar essa prática”, disse Daniel Bramatti, presidente da associação.

A Abraji já compilou 140 casos de violência contra jornalistas no período eleitoral. Com o crescimento do assédio, a associação tem divulgado uma cartilha que orienta repórteres sobre ataques virtuais.

Ameaças e agressões durante o exercício da profissão tornam instável o trabalho de jornalistas no Brasil, diz a Repórteres Sem Fronteiras, organização não-governamental.

Em 2018, de acordo com a ONG, entre 180 países analisados, o Brasil ocupa a 102ª posição em liberdade de atuação da imprensa.

Para Christophe Deloire, secretário geral da Repórteres sem Fronteiras, a campanha de ódio e difamação alimentada por Jair Bolsonaro fragiliza uma sociedade já fortemente polarizada.

“Os eleitores brasileiros não devem se deixar enganar pelos discursos de fachada, por trás dos quais se esconde uma verdadeira violência que não poupará o jornalismo. Jair Bolsonaro é uma grave ameaça para a liberdade de imprensa e para a democracia”, disse Deloire em nota à imprensa.

Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) disse que espera que “a incontinência verbal do candidato Jair Bolsonaro (PSL) em relação à Folha tenha sido proferida no calor das paixões”.

No dia 17 de outubro, Jair Bolsonaro (PSL ) e Fernando Haddad (PT) assinaram o termo de compromisso elaborado pela ABI no qual afirmam que vão respeitar a liberdade de imprensa. Domingos Meirelles, presidente da associação, diz não acreditar que as declarações de Bolsonaro quebram o termo de compromisso assumido com a associação, mas acha inaceitável ameaças e intimidações contra veículos de comunicação.

“Esperamos que a manifestação do candidato Jair Bolsonaro se circunscreva a esse lamentável episódio e que essa grave ameaça tenha apenas representado uma desastrada bravata de campanha”, encerra a nota.

Da FSP