Justiça autorizou até Cunha a dar entrevistas; Lula é único censurado

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​​Políticos presos em grandes escândalos de corrupção recentes já concederam entrevistas, diferentemente do decidido em relação ao ex-presidente Lula até o momento. Os ex-deputados Eduardo Cunha e Paulo Maluf e o ex-senador Luiz Estêvão foram alguns dos condenados que já foram ouvidos por diferentes veículos de comunicação nos últimos anos.

Em março, Maluf, detido na Papuda, no DF, falou à jornalista Mônica Bergamo, da Folha, que esteve no local como visita. Ele obteve direito à prisão domiciliar naquele mesmo mês junto ao Supremo Tribunal Federal.

No ano passado, a revista Época, do Grupo Globo, entrevistou em Brasília Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara que está preso há dois anos na Lava Jato.

Em decisão sobre a possibilidade de entrevista com Lula, o ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, a favor da liberação, mencionou como precedente a entrevista feita pelo SBT em 2017 com Luiz Estêvão, também preso na Papuda. Em 2000, o empresário foi o primeiro senador a ser cassado desde a redemocratização.

Outras entrevistas citadas por Lewandowski foram as feitas neste ano com Márcio dos Santos Nepomuceno (conhecido como Marcinho VP) pela TV Record, a concedida pelo traficante Fernandinho Beira-Mar, ao SBT, em 2016, e reportagem com a cantora mexicana Gloria Trevi, no Fantástico, da TV Globo, em 2001.

Outro preso entrevistado na TV foi Hildebrando Paschoal, ex-deputado federal que em 2010 cumpria pena pelos crimes de tráfico, formação de quadrilha e homicídio. Ele falou ao jornalista Marcelo Rezende, à época na Record.

Condenados da Lava Jato concederam entrevistas em momentos em que cumpriam outros tipos de medida restritiva. A Folha entrevistou o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, quando ele estava em regime semiaberto, em 2015. O jornal O Globo publicou no início do ano entrevista com o ex-deputado federal Pedro Corrêa, em regime domiciliar.

Em 2017, o juiz responsável pelos desdobramentos da operação no Rio, Marcelo Bretas, negou pedidos da Folha e de O Globo para entrevistar o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, preso há quase dois anos. Na ocasião, Bretas afirmou que não via “interesse público” na entrevista, decisão que foi referendada pela segunda instância federal.

Fora do Brasil, uma entrevista de grande repercussão com um político preso foi a feita pela rede americana Fox News, em 2001, com o ex-ditador sérvio Slobodan Milosevic.

Nos Estados Unidos, uma das mais consagradas obras jornalísticas, o livro “A Sangue Frio”, do escritor Truman Capote, foi produzida após longos depoimentos com os dois presos pelo assassinato de uma família que vivia na zona rural do Kansas, em 1959.

Em 2016, o jornalista britânico Misha Glenny lançou o livro “O Dono do Morro: Um Homem e a Batalha pelo Rio”, para o qual gravou 28 horas de entrevistas com o traficante Nem na cadeia.

OUTROS CASOS 

Entre outros casos recentes de censura, a Folha foi impedida por dois dias em 2017 de divulgar reportagem sobre tentativa de extorsão sofrida pela primeira-dama, Marcela Temer.

Em 2009, o jornal O Estado de S. Paulo foi proibido de publicar informações sobre  operação que tinha Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney, como investigado.

Da FSP.