Provável novo comandante do Exército atacou imprensa e é moralista

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O general-de-exército Edson Leal Pujol, 63, é considerado por oficiais como o nome natural para substituir o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, 66, que avisou que deixará o cargo em dezembro próximo. Ex-comandante das forças da paz da ONU no Haiti, Pujol apareceu no noticiário em setembro do ano passado quando, durante uma palestra, instou as pessoas a fazerem manifestações de rua contra a situação política do país.

Em fevereiro passado, após uma solenidade no Palácio do Planalto, Villas Bôas confirmou a um grupo de jornalistas que deixará o cargo em dezembro. Ainda não está claro se o processo de transição será feito no governo Michel Temer ou se será adiado para janeiro, para coincidir com a posse do novo presidente da República.

Não há uma regra escrita detalhada sobre o processo de escolha do nome do comandante, cuja decisão final cabe ao presidente da República. É apenas determinado em lei que cabe ao ministro da Defesa encaminhar ao presidente o nome do indicado ao cargo, privativo de um oficial-general no último posto da Força.

Nos seus dois mandatos (2003-2010), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou os generais-de-exército mais antigos na época, Francisco Roberto de Albuquerque (2003) e Enzo Martins Peri (2007), que permaneceu quase oito anos no cargo. Antes de Lula não havia essa tradição porque o Ministério da Defesa só foi criado em 1999. A solução petista contentou os militares porque evitava “interferências políticas” ao usar o critério objetivo do tempo de serviço prestado.

No seu segundo mandato, em 2015, Dilma Rousseff (PT) inovou ao pedir ao Ministério da Defesa uma lista tríplice com os oficiais mais antigos. Ela então escolheu Villas Bôas, que não era o mais antigo, mas a opção também foi bem aceita pelos militares dada a boa imagem interna que o general desfrutava. A expectativa agora no Exército é que o critério da próxima escolha do presidente retome a tradição inaugurada por Lula, o que levaria à nomeação de Pujol.

‘Cidadãos de bem’

Nascido em Dom Pedrito (RS), a 441 km de Porto Alegre (RS), filho de um coronel da Brigada Militar gaúcha, Pujol é o oficial mais antigo entre os 17 generais-de-exército, conhecidos como “quatro estrelas”, que estão na ativa na Força.

Nos anos 70 Pujol estudou com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em Resende (RJ). Por coincidência, os outros três generais-de-exército imediatamente menos antigos que Pujol também são contemporâneos do presidenciável na academia: Paulo Humberto Cesar de Oliveira, Mauro Cesar Lourena Cid e Carlos Alberto Neiva Barcellos.

Pujol é citado por oficiais como um “liberal”, um “democrata” para os padrões militares, com boas relações com Bolsonaro e um dos generais com melhor formação educacional da Força. Ele é um “tríplice coroado”, apelido dado ao militar que foi condecorado três vezes com a medalha Marechal Hermes da Fonseca por ter obtido o primeiro lugar em cursos importantes no Exército. Ele foi o primeiro colocado no curso de Cavalaria da Aman, na escola de oficiais e na Escola de Comando e Estado-Maior.

Em 2011, no primeiro governo Dilma, Pujol foi chefe do CIE (Centro de Inteligência do Exército), em Brasília, o principal organismo secreto do órgão, encarregado de levantar e produzir informações confidenciais sobre os mais variados campos, incluindo a situação política do país.

Dois anos depois, Pujol foi nomeado pela ONU, por indicação brasileira, o comandante da força de paz no Haiti. Um ano depois assumiu o comando militar do Sul. Em setembro de 2017, ele participava de um seminário promovido pela Associação Comercial de Porto Alegre (RS) quando foi indagado por um dos presentes sobre quem mostraria o caminho ao país, que estaria “à deriva”.

“Volto a falar aqui à nação brasileira, nós temos que decidir qual é o país que nós queremos. Quem vai mostrar os caminhos somos nós. Se nossos representantes não estão correspondendo às nossas expectativas, vamos mudar. Há uma insatisfação geral da nação. Eu também não estou satisfeito”, respondeu Pujol.

“Mas se vocês estão insatisfeitos, tem várias maneiras de mostrar. Mostrar ordeiramente, não é para incendiar o país, não é isso. Como é que os nossos representantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário têm o termômetro de que a população brasileira não quer determinado estado de coisas?”, continuou o general.

Pujol em seguida atacou os “órgãos de comunicação”, que estariam tentando “espelhar opiniões sobre determinados assuntos que não são os nossos”. Também questionou o tipo de educação que vem sendo oferecido no país, sem explicar qual o problema exato. “Vamos deixar mudar o que está sendo ensinado para nossos filhos, netos, nas escolas? Se vocês pegarem o material didático das escolas… Olha, não vou classificar aqui. Mas vocês concordam com o que está sendo ensinado aos seus netos, sobrinhos? Vocês foram à escola, à secretaria de educação, ao Ministério da Educação [reclamar]?” Pujol disse que há “uma série de maneiras” de tentar mudar o quadro, mas ponderou que “o papel das Forças Armadas é seguir a legislação”.

Um mês antes, em outra palestra, Pujol havia dado uma declaração forte que repercutiu nas redes sociais de direita. Ele comentou uma resolução do diretório nacional do PT (Partido dos Trabalhadores) sobre conjuntura, aprovada em 2016, na qual o partido lamentou não ter tomado como providências, ao longo dos 13 anos no poder central, a mudança do currículo das academias militares e a promoção de oficiais com “compromisso democrático e nacionalista”.

“Isso a população brasileira pode ter consciência disso, de que nós não vamos nos prostituir. Nós vamos ser ainda, nem que seja a última linha de defesa, dos valores da democracia brasileira, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, não vai cair, não vai cair”, disse Pujol ao microfone.

Ele voltou a atacar a imprensa, ao sugerir que defende interesses contrários aos “cidadãos de bem”. “Esse grupo de pessoas que são a maioria ou talvez a que domina a imprensa, a educação, não são a maioria da população, mas são os mais organizados, os mais atuantes e os mais persistentes e não vão abandonar os objetivos deles, mesmo que sejam para ganhos pessoais. E que se nós cidadãos de bem não fizermos a nossa parte, não nos opusermos a esse estado de coisas, não vamos mudar”, disse Pujol.

Da FSP.